Os rígidos confinamentos obrigatórios podem não ser a melhor resposta inicial para uma pandemia nos países com dificuldades económicas.Para reduzir a propagação da COVID-19 e de futuras pandemias, os parlamentares e os governos africanos deviam primeiro empregar medidas sociais e económicas não-médicas, Nicholas Ngepah, professor de economia na Universidade de Joanesburgo, escreveu num estudo do mês de Julho, publicado na revista African Development Review.
“O que aconteceu durante a COVID-19 foi que as pessoas foram submetidas a um confinamento obrigatório total por meio de regulamentos rigorosos. Mas a maioria não possui condições para uma boa nutrição, oportunidades económicas e infra-estruturas básicas para lidarem com isso,” Ngepah disse à revista online News Medical. “Torna-se quase impossível para um pobre seguir as regras do confinamento obrigatório total. As regras são muito rigorosas, mas as pessoas as desobedecem. Elas ficam dispostas a lutar contra o policiamento da ordem pública para conseguirem obter os seus meios de subsistência.”
O estudo de Ngepah baseou-se nos dados colhidos de 53 países africanos, incluindo a África do Sul. Nas zonas onde os pobres tinham pouca confiança no governo antes da pandemia, as regras draconianas para acabar com a pandemia são prejudiciais quando inicia o desespero económico, escreveu Ngepah.
Ele acredita que, quando um governo é, em grande parte, visto como corrupto, os trabalhadores pobres acham que estão a pagar mais do que deveriam.
“Para um país com altos níveis de desigualdades como a África do Sul, não se pode simplesmente acordar de manhã, declarar um confinamento obrigatório total e enviar soldados e a polícia para tentar fazer cumpri-lo, sem antes verificar como as pessoas mais carenciadas estão a viver,” disse Ngepah à News Medical. “Especialmente na África do Sul onde sabemos que mais de metade da população se encontra a viver abaixo do limiar da pobreza.”
Concordando com outros analistas e especialistas em matérias de saúde, Ngepah observou que encerrar de forma rápida as fronteiras nacionais e garantir que as populações tenham serviços sanitários adequados são aspectos fundamentais para a mitigação dos efeitos da pandemia.
O continente registou mais de 7,9 milhões de casos de COVID-19 e mais de 200.000 mortes até ao dia 7 de Setembro, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças. A África do Sul é o país africano mais assolado, com mais de 2,8 milhões de casos e mais de 83.600 mortes.
Vários países africanos foram elogiados pela Organização Mundial de Saúde e outros órgãos médicos pelas suas respostas atempadas e eficazes contra a pandemia.
Embora seja classificado como um país de baixa renda pelo Banco Mundial, o Ruanda foi, várias vezes, citado como sendo um país que lidou com a COVID-19 de forma correcta desde o começo. O governo impôs um confinamento obrigatório total, mas também mobilizou agentes comunitários de saúde, a polícia e estudantes do ensino secundário para trabalharem como rastreadores de contactos e criou postos de comando nacionais e regionais.
Para proteger os profissionais de saúde, o Ruanda também fez rapidamente o uso de robots nas clínicas da COVID-19, para medirem a temperatura dos pacientes e efectuarem a entrega de material.
Tolbert Nyenswah, que foi o responsável pela resposta do Ministério de Saúde da Libéria para o surto do Ébola em 2014, disse à Rádio Pública Nacional (NPR) que mesmo que a resposta do Presidente do Ruanda, Paul Kagame, tenha parecido pesada para alguns, ele exigiu prestação de contas por parte do seu Ministério de Saúde, o que inspirou a confiança do público.
“De todas as indicações, o Ruanda é uma história de sucesso para África,” disse Nyenswah à NPR.
O Senegal também buscou da sua experiência da luta contra o Ébola, de 2014, para lidar com a COVID-19. Mesmo antes de o primeiro caso ter sido confirmado naquele país, o Presidente Mackey Sall estava a reunir com funcionários do sector de saúde para formular uma resposta nacional. Sall rapidamente implementou um recolher obrigatório que partia do cair da noite até à manhã seguinte, colocou restrições de viagens entre as 14 regiões do país, interrompeu voos internacionais, decretou interrupção das aulas e encerrou restaurantes e mesquitas.
O Togo e a Tunísia destacaram-se juntamente com o Ruanda pelas suas respostas ao surto da COVID-19 pelo Instituto Lowy, um grupo de reflexão australiano que pesquisa questões políticas, estratégicas e económicas internacionais.
A maior parte dos países utilizou as mesmas medidas para conter o vírus, tais como ordens para ficar em casa, confinamentos obrigatórios e encerramento de fronteiras, mas o sucesso de um país era determinado, em parte, pela eficácia do seu governo em persuadir os residentes a aderirem àquelas medidas. O facto de as medidas de prevenção serem de “baixa tecnologia” pode ter beneficiado os países em vias de desenvolvimento, constatou o relatório.