EQUIPA DA ADF
Especialistas em matérias de saúde estão a saudar o potencial de um comprimido antiviral, depois de estudos terem demonstrado que oferece protecção contra a COVID-19 em pessoas infectadas.
A empresa americana de produção de medicamentos, Merck Sharp & Dohme (MSD), anunciou, no dia 1 de Outubro, que os ensaios clínicos para o novo medicamento, molnupiravir, demonstraram que reduz as mortes e os internamentos causados pela COVID-19 em até 50%.
“O molnupiravir é, sem dúvidas, um divisor de águas!” Oriol Mitjà, do Hospital Universitário Germans Trias i Pujol, disse à revista Science. “A facilidade de administração muda o paradigma de tratamento de casos ligeiros de COVID-19.”
A MSD também disse que o sequenciamento viral demonstra que o molnupiravir é eficaz contra todas as estirpes da COVID-19, incluindo a mais contagiosa variante Delta, que alimentou o mais recente aumento no número de mortes e de internamentos hospitalares em toda a África.
O “anúncio é, para mim, um dos maiores artigos jornalísticos do ano 2021,” disse Mitjà.
Embora os ensaios ainda não tenham passado por uma revisão pelos pares, a MSD tem planos para submeter um pedido de autorização às agências reguladoras para fazer o seu uso em casos de emergência em todo o mundo. Se for aprovado, o molnupiravir tornar-se-á no primeiro tratamento antiviral oral da COVID-19.
Tomado duas vezes por dia durante cinco dias nos ensaios, o comprimido impede a multiplicação do SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a COVID-19.
“Uma analogia é que o molnupiravir age como um extintor de incêndios que ataca directamente e interfere com o fogo, extinguindo-o,” epidemiologista Dr. Ahmed Kalebi disse ao jornal queniano, The Nation. “Revoluciona o tratamento, porque é altamente eficaz para tratar novas infecções, impede que ela progrida para tornar-se uma doença grave e pode ser tomado de forma oral.
“Nenhum outro tratamento se aproxima destes dois factores.”
Outras terapias antivirais, como os anticorpos monoclonais, Regeneron, remdesivir e plasma convalescente, são administrados de forma intravenosa — um desafio logístico muito maior em muitas partes do mundo.
“O Regeneron administrado como uma infusão é bastante dispendioso e possui efeitos colaterais potencialmente letais, sendo apenas reservado para doentes em estado grave,” disse Kalebi. “O plasma convalescente é extraído do sangue de pacientes que tenham recuperado da COVID-19 e funciona de forma quase semelhante aos anticorpos monoclonais, mas possui um risco ainda maior de efeitos colaterais piores e com menor potência.”
O custo do tratamento — cerca de 700 dólares para cada carteira de comprimidos a serem tomados durante cinco dias — parece ser um problema nos países africanos de baixa a média renda. Embora seja muito menos dispendioso em relação ao remdesivir ou anticorpos monoclonais, ainda assim seria muito caro para a maior parte dos países em vias de desenvolvimento.
A MSD disse que entrou em acordos de licenciamento com várias produtoras de medicamentos genéricos para acelerar a disponibilidade de molnupiravir em mais de 100 países de baixa a média renda logo que este for aprovado.
Num comunicado, a empresa disse que “pretende implementar uma abordagem de diferenciação de preços com base no critério de rendimento dos países do Banco Mundial para reflectir a habilidade relativa dos países para financiar as suas respostas de saúde à pandemia.”
A MSD espera produzir 10 milhões de carteiras de tratamento até ao final do ano.
Uma vez que o medicamento é mais eficaz quando tomado nos primeiros cerca de cinco dias após a apresentação de sintomas, os países africanos enfrentariam desafios adicionais para aumentar a testagem.
Rachel Cohen, directora-executiva norte-americana da iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, está preocupada com o custo e com a disponibilidade do comprimido para a COVID-19 bem como com os testes necessários para confirmar os diagnósticos.
“Isso exige que sejamos capazes de diagnosticar rapidamente as pessoas,” disse à revista. “Esse é, na verdade, um grande desafio.”