EQUIPA DA ADF
Justus Muhando estava a liderar um projecto para mapear de forma digital a ilha de Zanzibar quando a COVID-19 interrompeu o seu trabalho.
A pandemia obrigou a ele e a sua equipa a saírem da Tanzânia, em Março de 2020, quando os confinamentos obrigatórios se espalharam pelo continente africano. Alguns meses depois, eles estavam de volta. Mas muitos aspectos do seu trabalho tinham alterado profundamente.
“Temos um projecto de cerca de 500.000 edifícios,” disse num vídeo do Banco Mundial, apresentado num painel virtual, no dia 13 de Abril de 2021. “Essa é uma tarefa muito grande.”
Para poder realizá-la, a empresa queniana para a qual ele trabalha, Spatial Collective, optou por utilizar o modelo microtasking — repartir uma tarefa grande em pequenas tarefas — para treinar, organizar e pagar 10 membros da comunidade a fim de recolherem dados de porta-a-porta com recurso a tablets, enquanto todos eles cumprem com as medidas de segurança da COVID-19.
“O microtasking é mais rápido e mais digital,” disse. “Capacitamos as pessoas, utilizamos ferramentas como o WhatsApp e distribuímos as tarefas. Depois, fazemos os pagamentos através de dinheiro móvel.”
A COVID-19 tirou a vida de mais de 126.000 pessoas em África e causou imensa dor económica. Obrigou empresas a adaptarem-se e as pessoas a redefinirem a sua ideia de trabalho e de locais de trabalho.
Albert Zeufack, economista-chefe do Banco Mundial para África, abriu o painel de debate, apelando os países para investirem em habilidades e infra-estruturas digitais.
“A economia digital em África está a posicionar-se para guiar o futuro do trabalho,” disse. “A maior parte das empresas aumentou a sua ligação com as ferramentas digitais e mais pessoas estão a utilizar o comércio electrónico pelo continente.”
Os efeitos dos confinamentos obrigatórios da COVID-19 e do distanciamento social estimularam as inovações e as colaborações. A pandemia rapidamente demonstrou que as videoconferências fizeram com que o trabalho remoto fosse viável para muitos.
Países como a África do Sul experimentaram grandes mudanças em todos os sectores. Muitos que trabalham no sector formal fazem o teletrabalho. Mais de 2,5 milhões de trabalhadores da África do Sul fazem parte do sector informal, com pouco ou nenhum benefício e apoio de empregadores.
Outros, na crescente economia de empregos da África do Sul também conhecida como trabalhadores independentes ou contratuais, foram muito afectados pelo desemprego.
Marc Kahn, director global de recursos humanos e da organização de empresas de prestação de serviços financeiros da África do Sul, Investec, considera a onda de desemprego como uma oportunidade.
“As pessoas irão, com efeito, entrar no trabalho independente por conta própria, vendendo a sua mão-de-obra,” disse na página da internet da empresa. “No mundo futuro da economia de emprego, as pessoas irão juntar-se de diversas formas e posteriormente desagrupar-se e voltar a conectar-se em vários empregos para oferecer uma cadeia de valores muito ágil.
“Esse é o mundo do futuro.”
A idade média jovem da população de África é considerada uma vantagem em termos de adaptação para tecnologias e para um panorama em mudanças.
Contudo, muitos dos países africanos viram o seu povo sofrer com o desemprego e a pobreza relacionados com a COVID-19. A pandemia exacerbou a já crescente lacuna entre os que têm posses e os que não as têm, de acordo com Ibrahima Guimba-Saïdou, director-geral da Agência Nacional da Sociedade de Informação do Níger.
“Já avançamos para a quarta revolução industrial, que se baseia na tecnologia,” disse durante um painel virtual. “Um dos maiores desafios que temos é fazer com que o nosso povo esteja conectado. Mesmo nas grandes cidades quase que não temos uma boa ligação à internet. Temos problemas de energia. É aí onde deve haver prioridade agora.”
Mesmo assim, Zeufack disse que o impacto da recessão económica de 2020, causada pela COVID-19, na África Subsaariana, é menos severo do que se previa.
A previsão de 2021 do Banco Mundial para o crescimento na região é de 2,3% a 3,4%. Em 2022, o produto interno bruto ajustado pela inflação poder crescer 3,1% a 4,5%.
“As previsões para a recuperação na região estão a fortalecer-se,” disse. “O crescimento económico sustentável acima de 4,5% é absolutamente necessário para que os nossos países comecem a recuperar-se de alguns danos graves infringidos às nossas economias pela COVID-19.”