ADF STAFF
Um grupo de pastores cuidava do seu gado num pasto próximo da aldeia de Airamne, na estável zona fronteiriça do nordeste da Nigéria, quando começaram os tiroteios.
Os combatentes do Boko Haram saíram dos seus acampamentos na floresta de Gajiganna, no dia 24 de Dezembro de 2022, para lançar um ataque. Os pastores responderam com fogo.
Babakura Kolo, um líder da milícia de autodefesa, disse que 17 pastores foram mortos no confronto e o seu gado foi roubado.
“Os pastores resistiram, mas possuíam menor número de armas e estavam em menor número em relação aos atacantes que tinham melhores armas,” disse à Agence France-Presse.
O confronto demonstrou o grau de insegurança existente na Bacia do Lago Chade, que piorou quando o comércio ilícito de armas se expandiu.
Um dos focos do terrorismo e do banditismo de África, a Bacia do Lago Chade (BLC) é uma terra húmida que se estende ao longo das fronteiras de quatro países que enfrentam problemas de segurança — Camarões, Chade, Níger e Nigéria.
A topografia da região apresenta desafios acentuados para as forças de segurança. Uma mistura de savana e deserto que é propensa a inundações e secas, as terras húmidas apresentam centenas de pequenas ilhas com pântanos cercadas de águas rasas.
O Boko Haram e a Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP) possuem bases nas florestas ao redor e em várias das pequenas ilhas.
Composta por soldados provenientes dos quatro países da bacia, a Força-Tarefa Conjunta Multinacional (MNJTF) foi reactivada em 2015, para confrontar os dois grupos de insurgentes.
O fluxo de armas traficadas e contrabandeadas de forma ilegal é um combustível para o fogo dos extremistas, de acordo com um relatório de Outubro de 2022, feito pelo Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento.
“A circulação ilícita de armas e munições representa um dos principais impulsionadores do conflito na BLC,” afirma o relatório.
“As principais fontes de material ilícito são os desvios de arsenais nacionais (essencialmente através de emboscadas, roubo e corrupção numa escala menor), material ‘reciclado’ proveniente de conflitos anteriores na região, assim como produção artesanal.”
Eric Berman, director da iniciativa para a Salvaguarda de Arsenais do Sector de Segurança, disse que para além de perder armas ligeiras e pesadas, os quatro países da bacia perderam grandes sistemas de armas.
Estes incluem artilharia de autopropulsão, sistemas de lançamento de mísseis, morteiros, veículos protegidos resistentes a minas de emboscadas, veículos blindados de infantaria e tanques.
“Os níveis são tais que o Boko Haram foi capaz de manter as suas operações por mais de 10 anos sem voltar a receber fornecimentos do exterior, conforme ocorre na maior parte das insurgências,” escreveu Berman numa publicação de um blogue para o grupo de reflexão, Council on Foreign Relations.
O Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, também chamou atenção para o fluxo de entrada de armas que estão a fazer piorar a situação.
“Uma proporção substancial de armas e munições adquiridas para executar a guerra na Líbia continua a chegar à região da Bacia do Lago Chade e a outras partes do Sahel,” disse.
“Este movimento ilegal de armas para a região aumentou a proliferação de armas de pequeno porte e armas ligeiras que continuam a ameaçar a paz e a segurança colectivas na região.”
Mais de 30 milhões de pessoas da bacia sofrem o impacto do terrorismo, desde 2009, incluindo mais de 11 milhões de pessoas que necessitam de protecção e ajuda humanitária.
Os confrontos aumentaram em 2022, quando a ONU registou 917 incidentes violentos. Desde que a insurgência começou, mais de 40.000 pessoas foram mortas, primariamente na Nigéria, e 3 milhões fugiram das suas casas, de acordo com dados da ONU.
Berman apelou para uma maior responsabilização por parte das forças regionais.
“Um status quo inaceitável existe por demasiado tempo,” escreveu. “O número de mortes do pessoal dos serviços de segurança na Bacia do Lago Chade é extremamente elevado.
“Melhorar as práticas de gestão de armamento e munições pode ajudar a reduzir o número de mortes.”