EQUIPA DA ADF
Alima não espera voltar a viver na sua casa, no Burquina Faso.
De pé, perto de um reassentamento de refugiados no Gana, consegue ver a sua aldeia natal por cima do leito seco de um rio. Alima disse que partiu com os filhos no ano passado, depois de homens armados terem invadido o seu reassentamento e matado dois vigilantes.
“Vamos ficar aqui por enquanto,” disse Alima à Agence France-Presse (AFP). “Lá não há segurança.”
Desde Janeiro, os terroristas do Burquina Faso têm atacado civis e milícias pró-governamentais na província de Boulgou, obrigando milhares de pessoas a fugirem para o Gana, onde muitos campos de refugiados não dispõem de alimentos, água e abrigo suficientes.
Em resposta, o Gana enviou 1.000 soldados das Forças Especiais para a sua fronteira norte no início de Abril, devido à preocupação de que grupos extremistas violentos do Burquina Faso estejam a tentar expandir a sua influência e território.
“Estão a matar pessoas e as pessoas estão a fugir, eu também fugi,” disse um burquinabê anónimo ao JoyNews do Gana. “Vim para cá para salvar a minha vida e a minha família.”
Nas zonas rurais ao longo da fronteira, os burquinabês deslocados atravessam frequentemente o leito seco do rio para o Burquina Faso durante o dia para cuidarem dos campos agrícolas e enviar os filhos para a escola. Antes do anoitecer, regressam ao Gana, segundo a AFP.
Muitos burquinabês estão a entrar no Gana perto de Bawku, a cerca de uma hora de carro a partir da fronteira. Em Bawku, uma disputa de 40 anos entre as etnias Kusasi e Mamprusi sobre a posição de um chefe transformou-se numa guerra.
O Presidente do Município de Bawku, Amadu Hamza, mostrou-se preocupado com a fraca segurança nos pontos de entrada não vigiados.
“O desafio que temos é que existem muitas lacunas onde poderiam existir postos permanentes,” disse Hamza à Voz da América, no início de Abril. “No entanto, o governo do Gana, por uma ou duas razões, não afectou recursos suficientes para poder ter esses soldados permanentes a policiar essas áreas para impedir os jihadistas” de entrarem.
A violência extremista é rara no Gana. Entre 2016 e 2021, o Gana registou dois ataques terroristas em que três pessoas ficaram feridas e nenhuma morreu, de acordo com a plataforma digital worlddata.info.
Contudo, em Fevereiro, suspeitos terroristas tentaram fazer explodir uma ponte em Bawku.O Ministro da Defesa do Gana, Dominic Nitiwul, afirmou que o ataque provou que a ameaça de propagação do terrorismo no Gana é real.
“Por isso, as agências de segurança estão a trabalhar em Bawku e seus arredores com a mentalidade de que, se não pararmos o que está a acontecer em Bawku agora, arriscamo-nos que o Gana seja alvo de ataques terroristas,” disse Nitiwul numa reportagem da AFP.
Hamza disse que o conflito étnico e as ameaças terroristas do Burquina Faso provocaram desemprego em Bawku, deixando os jovens vulneráveis ao recrutamento por grupos extremistas. Apesar das condições, não há muita gente a ir-se embora.
Ao longo da fronteira, o líder da comunidade ganesa, Abdullah Zakaria, disse que os habitantes locais fornecem regularmente ao exército ganês informações sobre actividades suspeitas, mas a ansiedade é grande.
“Temos medo que eles venham para cá,” disse Zakaria à AFP. “Isto vai piorar. Não vai parar.”