EQUIPA DA ADF
À medida que o Burquina Faso sofre ataques mortais perpetrados por grupos extremistas, o governo de transição está a aplicar uma estratégia de combate ao terrorismo que pode colocar mais civis em perigo.
Pouco depois de tomar o poder, em Setembro de 2022, a junta militar do Burquina Faso realizou uma campanha pública para recrutar cidadãos para a luta. Meses depois, testemunhas oculares comunicaram casos de recrutamento forçado.
No dia 13 de Abril, o governo de transição anunciou a sua mais recente decisão, uma “mobilização geral.”
As autoridades emitiram um documento que dá ao líder da junta, Ibrahim Traoré, “o direito de requisitar pessoas, bens e serviços e o direito de restringir certas liberdades civis,” uma fonte da segurança disse à Agence France-Presse.
Um recente ataque destacou o perigo de enviar civis com pouca formação para as linhas da frente dos campos de batalha do norte do Burquina Faso.
Os terroristas atacaram um grupo de soldados e voluntários civis próximo da aldeia de Aorema, no dia 15 de Abril, matando 34 membros dos Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP) e seis soldados e ferindo outros 33, de acordo com um comunicado das autoridades locais.
O destacamento “foi atacado por homens armados não identificados,” afirmou o gabinete do governador de Ouahigouya.
Semanas depois de depor uma junta militar anterior, o governo de transição de Traoré lançou uma campanha para recrutar 50.000 cidadãos para os VDP, em Outubro de 2022.
Até finais de Novembro de 2022, eles afirmam ter recrutado 90.000 pessoas.
Os VDP são uma milícia criada em Dezembro de 2019 para ajudar a acabar com a expansão da ameaça dos grupos terroristas sahelianos ligados à al-Qaeda e ao Estado Islâmico, ambos activos nos territórios a norte que fazem fronteira com Mali e Níger.
Os rebeldes controlam cerca de 40% do país, de acordo com o mediador regional, Mahamadou Issoufou.
O conflito deixou 2 milhões de pessoas deslocadas e causou a morte de mais de 12.000 burquinabês desde que a insurgência se propagou, em 2015, comunicou o projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, em Fevereiro de 2023.
Em Março, a apreensão de Boukaré Ouedraogo, que lidera um grupo da sociedade civil conhecido como “Appel de Kaya,” despertou ira e protestos nas redes sociais.
Menos de uma semana depois de criticarem a resposta de segurança de Traoré, Ouedraogo teve um encontro com o presidente de transição, em Kaya, no dia 22 de Março, e foi levado por soldados quando saía. Alguns dias depois, foi visto de uniforme militar a treinar com uma arma automática num centro de treino de pontaria.
Duas outras organizações da sociedade civil denunciaram a “apreensão arbitrária,” apelaram para a soltura de Ouedraogo e condenaram a “tendência actual de recusa recorrente e sistemática da liberdade de opinião e de expressão dos cidadãos.”
Durante uma reunião do dia 25 de Março com cidadãos de Kaya, Traoré admitiu que ordenou o alistamento de um cidadão não identificado, acusando-o de revelar informações que levaram a um ataque próximo da cidade.
“Por culpa [dele], homens caíram,” acusou. “Fizemos-lhe compreender e o contratamos imediatamente para ser um [VDP]. E assim será para todos aqueles que não são capazes de defender o país,” disse ele para os aplausos da plateia.
Os outros grupos da sociedade civil também afirmaram, no dia 25 de Março, que as autoridades apreenderam e registaram como VDP dois dos seus membros que criticaram publicamente o governo de transição.
“Esta situação é bastante preocupante para os direitos humanos,” líder da sociedade civil, Daouda Diallo disse à Radio France Internationale. “Os seus familiares não têm notícias deles desde que foram presos.”
Os críticos repreenderam o recrutamento forçado, afirmando que prejudica a causa do governo e pode ajudar os terroristas.
O mais recente apelo para mobilização geral faz transparecer que o governo está a dobrar esta estratégia.
“Diante desta situação de segurança, a saúde do país depende de um aumento do espírito de patriotismo por parte de todos os seus filhos e filhas de modo a encontrar uma solução,” o Ministro da Defesa, Coronel-Major Kassoum Coulibaly, disse num comunicado.