EQUIPA DA ADF
O Grupo Wagner pode ter um novo nome nas suas operações em África, mas é o mesmo grupo de mercenários russos que pilhou as riquezas minerais e deixou um rasto de atrocidades por todo o continente.
O futuro do grupo obscuro ficou desorganizado após a morte, em Agosto de 2023, do antigo líder, Yevgeny Prigozhin, que era um colaborador próximo do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, antes de Prigozhin liderar a revolta abortada do Grupo Wagner contra o exército russo em Junho de 2023.
A mudança de nome do Grupo Wagner para Africa Corps mostra que o grupo está em plena reestruturação sob o comando de Putin e do Vice-Ministro da Defesa da Rússia, Yunus-bek Yevkurov.
“O Grupo Wagner tem um historial de brutalidade e crimes de guerra,” escreveu o investigador Fahad Mirza num relatório de Novembro de 2023 para a Rede Global sobre Extremismo e Tecnologia, uma iniciativa de investigação académica.
Mirza prevê que o grupo continuará a dividir-se e, inevitavelmente, a tornar-se uma organização terrorista, mas salienta que as suas operações em África continuarão provavelmente a ser auto-sustentáveis, independentemente da sua designação.
“Não existe uma entidade única conhecida como Grupo Wagner,” escreveu. “É antes uma vasta rede de empresas de fachada e agentes obscuros cujos serviços vão desde a guerra total a agências de desinformação.
“Tem a capacidade de autofinanciar-se, tem experiência na manipulação de narrativas para parecerem simpáticas e é um grupo de membros composto por criminosos reincidentes violentos que não têm meios para regressar pacificamente às suas casas.”
Os especialistas dizem que a decisão da Rússia de trocar a marca Wagner por um nome que remete para o Afrika Korps do regime nazi — criado por Adolf Hitler para lutar por e controlar o território do norte de África durante a Segunda Guerra Mundial — não vai alterar o seu impacto tóxico nas nações em que opera.
Os mercenários russos estão a combater na República Centro-Africana (RCA) e no Mali, onde extraem ouro, diamante e outros recursos naturais vitais como pagamento pelos seus serviços. Continuam a assassinar, a torturar e a roubar os civis que atravessam o seu caminho.
Testemunhas relataram um massacre de cinco dias levado a cabo por mercenários russos que se apoderaram de uma mina de ouro da RCA, na cidade de Koki, no dia 22 de Outubro de 2023. O site Daily Beast chamou-lhe “a primeira grande atrocidade cometida pelos paramilitares russos sob a nova direcção [do Africa Corps].”
O Ministério da Defesa da Rússia assumiu o controlo do Grupo Wagner desde a morte de Prigozhin, mas a agência de informação militar russa, o GRU, também viu o seu papel aumentar.
No final de Agosto e início de Setembro, Yevkurov e o General do GRU, Andrei Averyanov, visitaram várias nações africanas, incluindo o Burkina Faso, a RCA, a Líbia e o Mali, para afirmar a presença da Rússia durante o período de transição.
Candace Rondeaux, que estuda o Grupo Wagner e é directora sénior do programa Future Frontlines na New America, disse que Averyanov é acusado de liderar uma unidade do GRU responsável por assassinatos na Europa e agora está a supervisionar directamente as operações da Rússia em África.
“De certa forma, ele [Averyanov] é quase como o padrinho da sabotagem e das operações secretas,” disse ao The Wall Street Journal. “Putin está a tentar enviar um sinal [aos líderes governamentais africanos]: ‘Os adultos já estão na sala. Estes tipos estão no comando. Não se preocupem.’”
No entanto, o historial dos que estão no comando indica um perigo para os civis apanhados na mira das operações do Africa Corps.
O Kremlin deu a ordem para proteger à força várias minas de ouro da RCA e expulsar civis, de acordo com três funcionários governamentais e militares da RCA que disseram ao The Daily Beast que participaram em reuniões com o seu presidente, Faustin-Archange Touadéra, e a delegação russa em Setembro.
“Afirmaram claramente que a Rússia queria iniciar imediatamente operações mineiras em locais das regiões norte e central,” disse um alto funcionário do governo da RCA ao The Daily Beast. “Mesmo quando manifestámos a nossa preocupação com a presença de rebeldes armados nestas zonas e com o facto de isso poder conduzir a um conflito sangrento, não se mostraram incomodados.”
Rondeaux disse que Putin deixou claro que as prioridades da Rússia em África são, em primeiro lugar, a extracção de riqueza e, em segundo lugar, a expansão da influência.
A reestruturação do Grupo Wagner no aparelho militar oficial do governo russo significa também o fim da negação plausível por parte da Rússia das acções dos mercenários.
“O que isso nos diz é que Putin está menos interessado em enganar,” afirmou. “Ele sabe que, basicamente, a máscara caiu.
“Ele está mais empenhado em garantir que os acordos que faz com os Estados clientes em África ou no Médio Oriente, na sua maioria regimes despóticos, continuem a ser estáveis.”