Mais de 30 agentes de segurança quenianos foram mortos por dispositivos explosivos improvisados (DEI) em mais de 10 ataques durante um período de três semanas em Junho.
As autoridades suspeitam que o al-Shabaab esteja por detrás dos ataques nos condados de Garissa e Lamu, ambos no nordeste do país, que fazem fronteira com a Somália. O grupo consitui a principal ameaça terrorista no Quénia e frequentemente utiliza DEI nos seus ataques.
Várias emboscadas visaram soldados das Forças de Defesa do Quénia (KDF), infra-estruturas importantes e um veículo resistente a minas entre 7 e 12 de Junho, segundo o Instituto de Estudos de Segurança (ISS). Entre 13 e 25 de Junho, os ataques mataram 20 soldados das KDF, pessoas que viajavam em veículos de serviço público e civis, nos condados de Lamu e Mandera.
O al-Shabaab também reivindicou a responsabilidade por ataques a duas pequenas aldeias no condado de Lamu a 24 de Junho. Cerca de 30 terroristas mataram cinco civis, alguns dos quais foram amarrados e decapitados. O grupo tem visado cada vez mais o Quénia, depois de ter sofrido reveses na Somália.
Os ataques constituem um esforço do grupo para enviar uma mensagem “de que, apesar de estarem sob pressão, ainda têm poder de fogo e são uma força a ter em conta,” Nicolas Delaunay, director do International Crisis Group para a África Oriental e Austral, disse à Agence France-Presse (AFP). “Poderá ser também uma forma de avisar o Quénia que se comprometeu a participar na ofensiva do governo somali contra o al-Shabaab.”
O al-Shabaab atacou o Quénia esporadicamente durante anos, mas as suas operações no Quénia aumentaram em 2019 e no início de 2020. Quando a fronteira com a Somália fechou em 2011, o grupo construiu redes de contrabando e começou a financiar as suas operações através da imposição de impostos aos comerciantes que traziam contrabando para o Quénia. O aumento dos ataques do al-Shabaab fez fracassar os planos de reabertura da fronteira este ano.
O Quénia reforçou a sua presença militar para responder aos ataques do al-Shabaab, mas a fronteira porosa permite que os militantes entrem no país em pequenos números.
Hassan Khannenje, director do Horn International Institute for Strategic Studies de Nairobi, afirmou que a vaga de ataques “deve servir de aviso” ao Quénia. “A vigilância é fundamental,” Khannenje disse à AFP.
Políticos quenianos, como Dido Rasso, têm debatido a abordagem do país em matéria de segurança e apelam a mais financiamento para a recolha de informações, a protecção de testemunhas e a luta contra a radicalização dos jovens, a fim de criar resiliência a nível comunitário.
Rasso exortou os anciãos e os líderes religiosos a trabalharem com os jovens que são vulneráveis ao recrutamento para o grupo, muitas vezes, sendo pagos para colocar DEI.
As autoridades quenianas também instaram as pessoas a fornecerem quaisquer informações sobre o al-Shabaab. O plano estratégico 2023-28, da Agência Queniana de Protecção de Testemunhas, foi lançado em Junho para incentivar os civis a partilharem informações relacionadas com a segurança, segundo o ISS.
Apoiada pelo Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime, a agência tem por objectivo proteger as pessoas que enfrentam riscos ou intimidações devido à sua cooperação com as autoridades.
No entanto, a agência tem um longo caminho a percorrer para “garantir que a sua existência, mandato e nova estratégia sejam conhecidos pelo público e por outras agências governamentais de segurança e administração de base,” Dominic Pkalya, um especialista em prevenção e combate ao extremismo violento baseado em Nairobi, disse ao ISS.
Pkalya disse que a cooperação interagências com o Centro Nacional de Combate ao Terrorismo e outras agências de segurança será fundamental para o sucesso do plano.
Os analistas têm defendido a necessidade de maiores investimentos para melhorar as condições socioeconómicas nas zonas visadas pelo al-Shabaab, a fim de criar confiança entre os civis e as forças de segurança.
“O Quénia precisa também de reforçar as estruturas de policiamento comunitário e de investir na recolha coordenada de informações de múltiplas agências e transfronteiriças,” escreveu Isel Ras, um consultor de investigação do ISS. “Os governos dos condados devem ter um papel mais decisivo no co-financiamento das patrulhas de reserva da polícia local, na sensibilização das comunidades e na alocação de dinheiro a projectos que combatam os factores de radicalização e de recrutamento para o al-Shabaab.”