EQUIPA DA ADF
Os rebeldes Tuaregues do norte do Mali anunciaram recentemente a formação de uma nova coligação para lutar contra o governo liderado pela junta pelo controlo do território conhecido como Azawad.
A nova aliança, conhecida como Quadro Estratégico Permanente para a Defesa do Povo de Azawad (CSP-DPA), é liderada por Bilal Ag Acherif, uma figura importante da rebelião que dura há 12 anos. Originalmente liderada por combatentes Tuaregues, a rebelião atraiu o apoio de grupos leais à al-Qaeda, o que levou a actos de terrorismo. Acherif afirma que o seu grupo está separado da al-Qaeda.
Ao formarem o CSP-DPA, os líderes rebeldes denunciaram o terrorismo e apelaram aos apoiantes da região de Azawad para se unirem em defesa do território.
“Um dos principais objectivos da nova estrutura é a obtenção, por todos os meios, de um estatuto político e jurídico para o território de Azawad,” declarou o líder ao anunciar a formação do CSP-DPA.
A junta do Mali assumiu o poder em 2020 depois de acusar o governo civil do país de não ter conseguido controlar a rebelião no norte. Desde então, os próprios dirigentes da junta não têm conseguido pôr termo às actividades terroristas.
Em 2023, a junta recrutou o Grupo Wagner da Rússia, agora com a designação de Africa Corps, para os ajudar a enfrentar os rebeldes Tuaregues. A partir de Agosto desse ano, os combates começaram a intensificar-se entre os rebeldes Tuaregues e as forças governamentais apoiadas por mercenários do Grupo Wagner.
“O objectivo é controlar o máximo de território possível com a ajuda de mercenários russos,” Ulf Laessing, responsável pelo Programa Sahel, na Fundação Konrad Adenauer em Bamako, disse à DW.
Com a ajuda do Grupo Wagner, as forças armadas malianas tomaram o controlo de Kidal, um centro de actividades rebeldes no nordeste do Mali. O assalto a Kidal, que incluiu ataques de drones, matou dezenas de mulheres e crianças e obrigou cerca de 12.000 pessoas a fugir das suas casas.
Kidal faz parte do território que os Tuaregues identificam como Azawad, que inclui partes do sul da Argélia, do leste do Mali e do oeste do Níger. A cidade foi palco de vitórias dos rebeldes contra as forças governamentais em 2012 e 2014.
Em Janeiro, a junta anunciou que deixaria de honrar o acordo de paz de 2015 entre o governo do Mali e os rebeldes do norte.
Os combates aumentaram desde então, tendo-se acelerado quando as Nações Unidas satisfizeram a exigência da junta de pôr termo à sua Missão Multidimensional Integrada de Estabilização no Mali, que durou uma década, em Agosto de 2023. Nas últimas semanas, a junta suspendeu os partidos políticos e anunciou que se manterá no poder durante mais três anos.
Desde a captura de Kidal, as forças governamentais pouco fizeram, enquanto os rebeldes noutras partes do país se sentiam encorajados, segundo os observadores.
“É difícil vigiar e abastecer Kidal, o que significa que as rotas importantes no centro do país estão menos vigiadas e os actores islâmicos radicais estão a espalhar-se nesta região,” Christian Klatt, director da Fundação Friedrich Ebert em Bamako, disse à DW.
A criação do CSP-DPA é um lembrete de que a junta do Mali não conseguiu até agora acabar com a rebelião Tuaregue, mesmo quando os líderes aumentam a sua presença militar com a ajuda da Rússia e estrangulam a liberdade de expressão em nome da prevenção do terrorismo.
“Os azawadenses não tiveram outra escolha senão retaliar depois de vários dos seus locais terem sido atacados pelo exército maliano e pelos mercenários do Grupo Wagner,” Acherif disse ao Centro Internacional de Iniciativas de Diálogo em Dezembro passado. “A solução passa por uma fórmula que dê autonomia aos azawadenses e pela retirada dos golpistas do nosso território.”
Em resposta aos ataques do Grupo Wagner e das forças armadas malianas, os grupos rebeldes passaram a usar tácticas de guerra de guerrilha bem como bloqueios e bombas nas bermas das estradas que visam as forças armadas.
“Eles evitam o combate aberto porque vêem que não têm qualquer hipótese contra os mercenários russos e o exército maliano,” disse Laessing. “Por outro lado, o exército maliano também não está em condições de controlar este imenso país. Haverá sempre lacunas.”