EQUIPA DA ADF
Quénia está a criar uma base de dados de DNA das suas espécies marinhas, tais como tubarões, raias, crustáceos e moluscos, para conservar os seus recursos aquáticos devido à pesca ilegal generalizada.
O exercício envolve a colheita de espécies e sua catalogação para ajudar o governo a levar casos de pesca ilegal a julgamento, noticiou o jornal tanzaniano, The East African. Desde que o programa começou este ano, o Quénia já produziu códigos de barras para cerca de 115 espécies, 15 das quais são capturas comercialmente.
“O Quénia possui mais de 6.000 espécies comerciais e durante anos não podíamos reivindicar qualquer peixe capturado ilegalmente originário do país,” Thomas Mkare, um cientista pesquisador sénior do Instituto de Pesquisas Marinhas e de Pescas (KMFRI, sigla inglesa) do Quénia, disse ao The East African. “Com este exercício científico, seremos capazes de reivindicar os nossos recursos, uma vez que apesar de o peixe ser semelhante fisicamente, cada um possui uma identificação molecular especial associada a uma certa região.”
O esforço, que se espera durar vários anos, começou depois que Francis O. Owino, o recentemente nomeado secretário principal do Departamento de Estado para Pescas, Aquacultura e Economia Azul, em Março de 2021, apelou os cientistas do KMFRI para melhorarem a pesquisa, uma vez que o país procura estimular a sua economia azul.
“O país exige que vocês forneçam respostas como pesquisadores para levar o país para o próximo nível,” disse Owino numa reportagem da Science África. “Exigimos que vocês forneçam respostas para os desafios da pesca que enfrentamos como país.”
Uma vez estabelecida, espera-se que a biblioteca de referência possa fortalecer a segurança alimentar, contribuindo para uma colheita sustentável. Através da base de dados, o peixe vendido em qualquer lugar do mundo pode ser rastreado de volta para as águas quenianas, utilizando os seus identificadores únicos de DNA.
Os recursos marinhos do Quénia encontram-se em declínio devido a um influxo de arrastões industriais estrangeiros, incluindo aqueles que são provenientes da China. Analistas afirmam que a pandemia da COVID-19 também fez com que os quenianos desempregados se envolvessem na pesca ilegal para a obtenção de rendimento.
Um relatório compilado pela Global Fishing Watch revelou que 230 arrastões de pesca foram operados ao largo da costa do Quénia, entre Maio e Agosto de 2021. Muitos deles eram de propriedade de empresas da China e da Itália, comunicou o Africanews.
A China é o pior infractor da pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) do mundo, de acordo com o Índice de Pesca INN. Em Outubro de 2021, o Quénia revogou as licenças de pesca de seis arrastões chineses, depois de pescadores quenianos terem-se queixado de maus-tratos por parte de membros da tripulação chinesa quando trabalhavam nas suas embarcações.
Em 2019, a produção pesqueira anual do Quénia foi de 146.687 toneladas, muito abaixo do seu potencial de 350.000 toneladas, disse o Secretário de Gabinete para Agricultura, Gado e Pescas, Peter Munya, em Fevereiro de 2021, quando o país fez a entrega de três novos barcos, para ajudar os pescadores artesanais a saírem para mais distante no mar.
“As nossas pescas marinhas possuem o potencial para melhorar consideravelmente o desenvolvimento socioeconómico do nosso país, lançando mão dos seus enormes recursos aquáticos,” disse Munya ao jornal queniano, Business Daily. “Os novos barcos são destinados a possibilitar que os nossos pescadores explorem os recursos pesqueiros das águas profundas.”
As unidades populacionais de peixe em declínio são um problema regional.
Como resultado da pesca excessiva, Quénia, Moçambique e Tanzânia estão a ficar sem peixe, de acordo com um documento de 2020, publicado pela Marine Ecology Progress. O estudo demonstra que 70% dos corais da região possuem unidades populacionais de peixe tão baixas para produzirem o máximo de rendimento pesqueiro.