EQUIPA DA ADF
Uma estirpe de COVID-19, que circula em aproximadamente duas dezenas de países, deixa os cientistas preocupados de que ela possa ser a próxima mutação a propagar-se a nível global, depois da estirpe BA.5 da Ómicron.
A estirpe, oficialmente conhecida como BA.2.75, foi designada de “Centauro” nas redes sociais. Trata-se de uma ramificação da variante Ómicron e possui características semelhantes, como a alta transmissibilidade.
A Organização Mundial de Saúde classificou a BA.2.75 como uma variante de preocupação que está sob sua monitoria.
Embora as taxas de testagem da COVID-19 tenham diminuído vertiginosamente, a Centauro representa cerca de dois terços dos novos casos registados na Índia, de acordo com um biólogo evolucionista, Tom Wenseleers, da Universidade Católica de Leuven, Bélgica, que fez o rastreio do aumento da variante.
Actualmente, a Centauro possui mais de 30 mutações na sua proteína spike que a distinguem da versão original da COVID-19. As proteínas spike são as chaves que o vírus utiliza para destrancar as células para que se possa replicar dentro delas.
“Isso irá definitivamente causar uma vaga de infecções,” disse Wenseleers à revista Nature.
Na Índia, a Centauro está a demonstrar ter uma capacidade forte de superar a BA.5, que já enviou algumas pessoas para o hospital na Índia até agora.
Fora da índia, a Centauro possui uma pequena presença, em comparação com a BA.5, que representa 88% de todos os novos casos a nível global, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA.
A testagem em animais demonstrou que a Centauro possui um impacto maior nos pulmões do que a BA.5 ou a sua predecessora BA.2. Nesse sentido, a Centauro comporta-se de forma semelhante à variante Delta.
Para os cientistas, a questão está em saber se a Centauro irá eventualmente assumir a liderança depois da BA.5, da mesma forma que aconteceu com a variante Delta, que também se tornou inicialmente dominante na Índia, colocou de lado a variante Beta numa parte considerável do mundo.
Os cientistas estão divididos no que diz respeito a esta questão.
Um estudo feito por investigadores da Universidade de Kobe, no Japão, concluiu que a Centauro possui duas vantagens em relação às suas concorrentes: as mutações do vírus fazem com que ele tenha melhor capacidade de ligar-se às células e possui mutações suficientes para fazer com que seja mais difícil para as defesas do organismo as reconhecerem como uma ameaça e lutarem contra ele.
“Os nossos resultados indicam que a BA.2.75 da Ómicron representa um maior risco para a saúde global do que as outras dez variantes e existe uma necessidade de prestar maior atenção para as tendências das infecções da BA.2.75 da Ómicron,” os investigadores japoneses escreveram num documento publicado no servidor pré-impresso biorxiv.org.
De acordo com os investigadores do Instituto Karolinska, na Suíça, a Centauro exibe níveis de resistência a anticorpos semelhantes à BA.5, o que é uma boa notícia para pessoas com elevados níveis de imunidade tanto resultante de infecção natural recente como resultante de medicamentos.
Isso sugere que a Centauro pode não vir a ser uma ameaça significativa a nível global, a menos que desenvolva mais mutações, de acordo com os investigadores.
Shahid Jameel, um virologista da Universidade de Oxford, no Reino Unido, acredita que as semelhanças entre a Centauro e a BA.5 irão efectivamente cancelar-se entre si.
“Estamos a chegar a um ponto em que estas variantes estão a competir uma com a outra e elas são quase que equivalentes,” disse Jameel à revista Nature. Ele disse que pensa que as pessoas que tiveram a BA.5 não terão infecções pós-vacinação com a BA.2.75 e nem alguém que teve a BA.2.75 teria uma infecção pós-vacinação com a BA.5.