EQUIPA DA ADF
Cientistas da África Ocidental afirmam que a pandemia da COVID-19 expôs os desafios que eles enfrentam para detectar e diagnosticar infecções.
Eles acreditam que fraquezas estruturais devem ser resolvidas antes de uma outra pandemia atingir o continente, de acordo com um comunicado emitido por cientistas de laboratórios médicos da África Ocidental, no seu recente encontro designado CelebrateLAB.
A comunicação feita no fim do encontro anual reitera os resultados obtidos por outros investigadores que analisaram a capacidade laboratorial dos países africanos no início da pandemia. Um estudo de Abril de 2020 destacou a falta de testagem e a dificuldade de obter testes PCR dispendiosos no continente.
Esse estudo, publicado por investigadores do Quénia, previu que a fraca testagem e a falta de equipamento laboratorial podem resultam em dados não fiáveis sobre a propagação do vírus, deixando os países mal preparados para responder.
“Não compreender a verdadeira situação pode significar que oportunidades cruciais sejam canceladas sem que tenham sido exploradas, enquanto os recursos limitados não são utilizados para obter o máximo de resultados,” escreveram os investigadores Francis Kobia e Jesse Gitaka, da Universidade do Quénia.
Dois anos depois da realização do estudo, no seu encontro de Acra, Gana, os cientistas de laboratório concordaram que a sua dificuldade inicial de obter kits de testagem e materiais para o diagnóstico impediu a capacidade dos países de responder com precisão e com autoridade à pandemia.
Para além dos materiais laboratoriais, o equipamento de protecção individual também tinha de ser importado em grandes quantidades, uma vez que a maior parte dele não podia ser produzido no continente.
Os participantes do CelebrateLAB afirmaram que a pandemia mostrou a necessidade de a “África Ocidental trabalhar incansavelmente para alcançar a auto-sustentabilidade nos … kits e materiais de diagnósticos, entre outros materiais médicos.”
Os participantes observaram que a pandemia destacou o valor dos diagnósticos laboratoriais quando se trata de rastrear a propagação de uma doença e produzir orientações de saúde pública.
“A capacidade de garantir a adesão ao Procedimento Operacional Padrão (POP) de rotina e documentar novas directrizes para resposta laboratorial durante uma pandemia é de extrema importância para áreas como cadeia de informação, colecta e transporte de amostras, biossegurança e introdução de novos produtos,” escreveram os participantes.
Os membros da conferência apelaram os governos da África Ocidental a desenvolverem competências de modo a expandir a capacidade de produzir fármacos em África e não depender de fornecedores externos. A pandemia da COVID-19 deixou muitos países africanos a competirem no mercado global por materiais de diagnósticos e equipamento de protecção.
Como parte da preparação para a próxima pandemia, os governos devem investir no ensino, formação e na certificação de cientistas laboratoriais para além de criar capacidade de diagnóstico para instituições de saúde pública de todo o continente.
Dr. John Nkengasong, antigo director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse que o continente precisa de quadruplicar o seu número de epidemiologistas apenas para satisfazer a actual demanda de vigilância da doença.
Actualmente, África possui cerca de 7.000 epidemiologistas e precisa de mais de 30.000, disse.
“Formar o número exacto de profissionais com o mais elevado nível de experiência é essencial para a preparação dos sistemas de saúde da África Ocidental em termos de preparação para futuros surtos de doença,” afirmaram os participantes do CelebrateLAB.