EQUIPA DA ADF
No seu relatório sobre as possíveis origens da pandemia da COVID-19, a equipa investigativa internacional da Organização Mundial de Saúde (OMS) descartou a noção de ser “extremamente improvável” que a doença tenha escapado de um laboratório do Instituto de Virologia de Wuhan. Mesmo assim, muitos cientistas acreditam que a ideia merece maior consideração.
Há um homem importante entre aqueles que pedem que se faça uma outra análise na hipótese do laboratório: o director-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, a pessoa que inicialmente encomendou a investigação.
Depois da divulgação do relatório dos investigadores, Tedros disse que o exame da equipa em relação à potencial fuga do laboratório não tinha sido suficientemente abrangente. Ele também criticou as autoridades chinesas por reterem os dados brutos dos primeiros pacientes da COVID-19.
O relatório final foi concebido para reflectir o consenso entre os 17 especialistas internacionais e os 17 investigadores chineses, todos com ligações com o governo. As autoridades chinesas anunciaram, no dia 17 de Março, no Twitter, que receberam um rascunho do relatório para questões de revisão. O relatório veio a público aproximadamente duas semanas depois.
Numa carta aberta publicada antes do relatório da OMS, uma equipa internacional de cientistas chefiada por Jamie Metzl, um especialista em vírus, que trabalha num conselho consultivo de engenharia genética da OMS, denunciou o relatório como estando comprometido e viciado pela política. A carta foi publicada nos jornais The Wall Street Journal, dos EUA, e Le Monde, da França.
O grupo Metzl acusou os membros da equipa de investigadores da OMS de ter conflitos de interesse e de estar limitada pelas restrições da China. Na sua carta, o grupo Metzl exigiu uma outra investigação que abordasse a hipótese divulgada pelo laboratório, numa “investigação aprofundada, credível e transparente.”
Um dos signatários da carta, Colin Butler, professor honorário do Centro Nacional de Epidemiologia e de Saúde Pública, na Universidade Nacional da Austrália, publicou um editorial em Dezembro de 2020, no Jornal de Segurança Humana, apelando para uma análise mais aprofundada na teoria divulgada pelo laboratório.
Butler disse à ADF que acredita que é “plausível, se calhar até mesmo provável,” que o vírus da COVID-19 tenha escapado de um laboratório e a investigação da OMS é uma vítima da crescente guerra fria entre a China e o Ocidente.
“Entretanto, mesmo que não tenha originado dum laboratório, está claro que uma guerra biológica e uma engenharia genética do vírus dirigida por civis é muito comum,” disse Butler à ADF através de um e-mail. “Cada prática é altamente perigosa e precisa de muito mais supervisão e transparência.”
Uma investigação independente não teria permitido que os cientistas chineses fizessem a revisão do relatório com antecedência, acrescentou Butler.
Dr. Peter Ben Embarek, o líder da equipa de investigação da OMS, defendeu o trabalho do grupo, observando que estava focalizado na busca de potenciais fontes animais do surto, não na investigação de uma fuga de laboratório. O estudo também foi concebido para ser uma missão de cooperação entre a OMS e os cientistas chineses, disse ele.
A equipa da OMS passou quatro semanas no terreno, em Wuhan, depois de inicialmente ter sido impedida de entrar pelas autoridades chinesas.
Eles passaram as primeiras duas semanas a trabalhar de forma virtual com a sua contraparte chinesa, enquanto estavam de quarentena, no hotel. Depois disso, visitaram o Mercado Grossista de Mariscos de Huanan, o ponto focal do surto da COVID-19, em Dezembro de 2020, que alertou primeiro as autoridades de saúde pública sobre a doença respiratória que se propagava rapidamente. O mercado foi encerrado e desinfectado, depois do surto, pelas autoridades chinesas. O piso térreo continua com barricadas 16 meses depois.
Os investigadores também visitaram o Instituto de Virologia de Wuhan, que fica do outro lado do rio Yangtzé, a cerca de 15 quilómetros do mercado de Huanan.
O instituto acolhe a pesquisadora Shi Zhenggli, conhecida como “a mulher morcego” por causa do trabalho dela sobre vírus transportados por morcegos. A COVID-19 é cerca de 98% semelhante aos vírus encontrados em morcegos de ferradura, que habitam o sul da China e que também são a fonte do surto da SARS de 2003.
Durante a conferência de imprensa que acompanhou a divulgação do relatório da OMS, em finais de Março, Embarek disse que os investigadores fizeram a revisão dos protocolos e dos tópicos de pesquisa do Instituto de Wuhan.
“Ninguém foi capaz de encontrar qualquer evidência firme de que qualquer dos laboratórios estaria envolvido nisto,” disse.