EQUIPA DA ADF
As interferências da China no ambiente da comunicação social de África começaram em 2006 quando Xinhua, a Agência Nacional Chinesa de Notícias, mudou a sua sede regional de Paris para Nairobi, Quénia.
“Parece ter havido um entendimento de que Nairobi podia ser utilizado como pista de lançamento,” Joseph Odindo, antigo director editorial do grupo Nation Media Group, do Quénia, e agora, director editorial do Standard Group, disse à DW.com.
Nos últimos 15 anos, a campanha de influência da comunicação social da China decorreu de forma paralela com os seus projectos de construção da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR). O Quénia, que acolhe vários projectos ICR, tornou-se o centro de expansão da presença da China na comunicação social de África.
A emissora CGTN (China Global Television Network) encontra-se sediada em Nairobi. O jornal China Daily também possui escritórios naquela cidade, assim como a China Radio International e a emissora via satélite Startimes.
Os canais de comunicação social de propriedade chinesa contrataram centenas de jornalistas quenianos, oferecendo garantia de trabalho e bons salários numa região onde estes dificilmente podem ser obtidos.
“Uma secretária, um telefone e um salário regular são todos eles positivos nos países onde estes são luxos,” Jeremy Dear, da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), disse ao Instituto Reuters.
A CGTN, por si só, emprega cerca de 200 jornalistas africanos para trabalhar juntamente com 50 cidadãos de nacionalidade chinesa. A CGTN é vista nas televisões nos corredores da sede da União Africana, em Etiópia, assim como, graças aos satélites da Startimes, nas aldeias das zonas rurais de Gana, Ruanda e noutros países.
A China também expandiu rapidamente a sua influência sobre as próprias publicações, os repórteres, o ambiente de notícias de África, utilizando uma abordagem multifacetada: adquirindo acções ou fornecendo rendimento de publicidade para canais de comunicação social africanos; criando contactos pessoais com editores e editoras de alta categoria; e levando os jornalistas africanos para a China para sessões de formação com todas as despesas pagas.
“O objectivo da sua presença é de, ao ser consolidada, passar a ser uma arma muito poderosa para projectar a perspectiva chinesa,” disse Odindo.
Uma recente pesquisa dos sindicatos de jornalistas, feita pela FIJ, concluiu que enquanto a China expande a sua influência sobre os canais de comunicação social no mundo inteiro nestes últimos anos, a cobertura da China passou a ser mais favorável. Isto acontece especialmente em toda a África.
“As campanhas de diplomacia médica em grande escala da China também forneceram ganhos de propaganda em muitos países desenvolvidos, polindo a imagem de Pequim como um parceiro confiável,” denunciou o estudo da FIJ. “Relatórios cómicos indicam que Pequim aumentou as suas ofertas de conteúdo, em particular, preparando o conteúdo que inclui desinformação especificamente para certos países e traduzindo as mensagens dos canais estatais para línguas locais.”
A China utiliza a sua vantagem sobre os canais de comunicação social africanos para impulsionar cobertura favorável. O provedor de notícias Independent Online (IOL), da África do Sul, oferece um exemplo de como isso funciona.
O actual proprietário da IOL, Sekunjalo Investments, com sede na África do Sul, adquiriu o canal de comunicação social em 2013, com a ajuda da China International Television Corp. e a China Africa Development Fund. Juntas, as duas entidades chinesas possuem 20% de acções na empresa.
A mudança de propriedade significou que a gestão da IOL também mudou. Editores e repórteres tradicionalmente foram formados em matérias de princípios jornalísticos de imparcialidade com uma ênfase sobre responsabilizar o governo. Os editores e os repórteres formados na China são ensinados a demonstrar consideração com as autoridades do governo e obedecer às “linhas vermelhas” que ditam quais questões devem ou não devem ser cobertas, de acordo com os grupos de fiscalização da imprensa.
Em 2018, quando o colunista Azad Essa escreveu um artigo crítico da política da China para com a sua minoria Uighur, o artigo foi publicado na forma impressa, mas foi bloqueado para publicação online. Uma semana depois, a coluna semanal de Essa foi interrompida e ele foi obrigado a sair.
“É difícil rastrear o que motivou o despedimento,” Professor Dani Madrid-Morales, um especialista em matérias de envolvimento da China na comunicação social de África, disse à ADF. “Mas o proprietário da IOL possui uma relação muito próxima com a China.”
Essa tornou-se uma voz crítica da interferência da China na Comunicação Social de África.
“As empresas que assumem a propriedade da chinesa têm a probabilidade de experimentar o modelo chinês de censura,” escreveu Essa na revista Foreign Policy. “As linhas vermelhas são espessas e não negociáveis.”
Assim como as empresas de comunicação social, o mundo das emissoras e editoras de África enfrenta dificuldades em sobreviver durante um tempo de diminuição dos rendimentos provenientes da publicidade. A China respondeu com grandes aquisições de publicidades em algumas publicações, pagando por equipamento de difusão dispendiosos para estações de televisão e oferecendo artigos gratuitos da Xinhua aos jornais.
Nos pequenos mercados da comunicação social, como o da Gâmbia, São Tomé e Príncipe ou Seicheles, a presença da Xinhua ou da CGTN, muitas vezes, não deixa espaço para outros serviços de comunicação social, trazendo uma inclinação do ambiente da imprensa a favor da China, disse Madrid-Morales.
Isso faz parte da estratégia de “barco emprestado” da China, concebida para colocar a sua própria mensagem pró-China no panorama da comunicação social africana através de canais locais de notícias.
O impacto é menos acentuado nos maiores mercados da comunicação social como o da África do Sul, disse Madrid-Morales. Mas mesmo esses não estão imunes à influência da China.
Quando a Associação de Imprensa Sul-Africana, a maior agência de notícias daquele país encerrou em 2015, a IOL criou a Africa News Agency, que agora distribui conteúdo da Xinhua pelo continente.
“Todas as agências nacionais de notícias possuem um acordo com a Xinhua,” disse Madrid-Morales.
1 comentário
Gostei muito da História