EQUIPA DA ADF
Numa altura em que os africanos estão a lidar com os picos e vales das infecções pela COVID-19, a China continua a difundir desinformação sobre a doença.
As autoridades governamentais da China recentemente tomaram medidas contra uma afirmação desmitificada que sugeria que a COVID-19 estava a ser transportada pelo vento vindo da Coreia do Norte.
Embora não haja evidências que apoiem a ideia de que a doença possa ser propagada através do vento em distâncias longas, as autoridades da cidade fronteiriça de Dandong orientaram os residentes que vivem ao longo do rio entre os dois países para fecharem as suas janelas.
“Os residentes das margens do rio procurem não abrir as janelas nas condições meteorológicas meridionais,” o comité de saúde da cidade de Dandong publicou na internet, no dia 31 de Maio, quando a cidade registou um aumento de infecções pela COVID-19 pouco depois de a Correia do Norte ter experimentado um surto generalizado.
As autoridades chinesas de Dandong testaram o ar proveniente da Correia do Norte, para verificar a existência de vestígios de COVID-19. A CNN comunicou que vídeos publicados na internet mostram profissionais de saúde a colocarem aquilo que se parecia com filas de monitores do ar ao longo do Rio Yalu.
Os cidadãos de Dandong também foram informados para não caminharem próximo do rio e para fazerem o teste muitas vezes.
O jornal sul-africano, The Sunday Times, desmitificou a afirmação num artigo do dia 10 de Junho intitulado “Será que a COVID-19 pode ser transportada pelo vento?”
Especialistas, incluindo os do Instituto Nacional de Doenças Contagiosas da África do Sul (NICD) e o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, concordaram que é pouco provável que a COVID-19 se propague desta forma.
“A doença propaga-se de pessoa para pessoa, através de gotículas de ar infectadas que são projectadas quando as pessoas espirram ou tossem,” afirma o site da internet do NICD.
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Nicosia, em Chipre, demonstrou que as partículas virais ficam menos concentradas à medida que se propagam:
“Quando uma pessoa tosse, a velocidade do vento num ambiente de espaço aberto influencia significativamente a distância atingida pelas gotículas transportadoras de doenças no ar. Sem a velocidade do vento ao redor, as gotículas caem para o chão a uma curta distância em relação à pessoa que espirra ou tosse. … Estas gotículas podem não constituir um risco em relação a contacto facial de adultos a esta distância.”
O estudo demonstra que em condições climáticas de vento, “concluímos que as gotículas de saliva podem viajar distâncias de até 6 metros, com uma redução em concentração e tamanho das gotículas líquidas na direcção do vento.”
Benjamin Cowling, professor de epidemiologia de doenças contagiosas da Universidade de Hong Kong, disse à Bloomberg que os vírus não sobrevivem bem em lugares abertos e à luz do sol.
Bloomberg comunicou que a maior parte das pessoas infectadas que se encontravam em Dandong, no início de Junho, não tinha estado fora de casa por pelo menos quatro dias antes de terem sido diagnosticadas com a COVID-19, de acordo com o Centro de Controlo de Doenças de Dandong.
Então, o que pode explicar o aumento misterioso de casos que coincidiu com o surto da Correia do Norte?
A causa provavelmente esteja ligada à movimentação de pessoas, de acordo com o especialista em doenças contagiosas, Peter Collington. Ele indicou que Dandong esteve sob um confinamento obrigatório por aproximadamente dois meses, mas as pessoas ainda podiam trabalhar fora se fosse necessário.
O professor da Universidade Nacional Australiana sugeriu ao jornal britânico, The Daily Telegraph, que os trabalhadores essenciais de Dandong podem ter alimentado a propagação da COVID-19.
A fronteira porosa de 1.300 quilómetros entre a China e a Correia do Norte é separada pelo Rio Yalu, que possui uma largura de menos de 1 quilómetro em partes de Dandong, um importante entreposto comercial entre os dois países.
Cerca de 70% do comércio da Correia do Norte passava por Dandong antes da pandemia, maior parte do qual feito por comboio a partir da cidade vizinha de Sinuiju, na Correia do Norte. O transporte de cargas ficou suspenso durante a maior parte do período da pandemia, mas a China e a Correia do Norte reabriram em regime experimental, em Janeiro.
As autoridades também recentemente ofereceram pagamentos em dinheiro por troca de informação sobre contrabandistas que atravessam o rio.
O conselho para se fechar as janelas “pode ser prejudicial,” disse Collington. “Existem melhores condições quando se tem ar fresco e livre.
“Quando esta teoria é promulgada, faz com que as pessoas fiquem mais tempo dentro de casa, onde há mais probabilidade de se ficar infectado a partir de outras pessoas.”
Num mundo onde a desinformação sobre a COVID-19 pode propagar-se mais rapidamente que a própria doença, os africanos podem beneficiar-se aprendendo dos erros da China.