EQUIPA DA ADF
Especialistas receiam que uma central a carvão, avaliada em 3 bilhões de dólares, no Zimbabwe, irá aumentar a poluição e inundar ainda mais o país nas dívidas.
A central deverá ser construída na cidade de Sengwa, no norte do Zimbabwe, próximo do Lago Kariba, o maior lago e reservatório artificial do mundo. Interrupções diárias no fornecimento de energia eléctrica na região têm estado a causar o impedimento da capacidade industrial durante décadas e o reservatório já foi seriamente esgotado devido às secas.
A China Gezhouba Group Corp. ajudará na construção da central, juntamente com a RioZim Ltd. O Banco Comercial da China manifestou formalmente interesse no projecto e está a negociar com Sinosure, também conhecido como China Export and Credit Insurance Corp., para cobrir os custos de seguro contra os riscos do país. A PowerChina irá construir a tubagem do projecto e uma linha de transporte de corrente eléctrica de 420 kilovolts-amperes, noticiou a Bloomberg.
O presidente chinês, Xi Jinping, comprometeu-se em construir projectos da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) amigos do meio ambiente, em África, mas o projecto Sengwa tem atraído cepticismo.
A maior parte das centrais eléctricas a carvão construídas por empresas chinesas emite várias vezes mais ar poluído do que o permitido na China, Lauri Myllyvirta, analista-chefe do independente Centro de Pesquisas em Energia e Ar Limpo, disse à ADF num e-mail. Devido a fracos regulamentos e vigilância, as empresas utilizam tecnologia inferior que não seria legal na China.
“A preocupação mais fundamental é a completa falta de supervisão ambiental,” disse Myllyvirta. “A construção da central já deve iniciar, mas ainda não existe avaliação do impacto ambiental, o que significa que não existe informação sobre as tecnologias de controlo de emissões ou outras medidas de mitigação nem condições de licenciamento impostas por lei. Estes são os requisitos mais básicos para a prevenção de abusos e impactos significativos negativos sobre as comunidades.”
Muitos residentes de Sengwa dependem do carvão local e da agricultura. Queimar carvão para a produção de electricidade liberta metais pesados e outros poluentes que se podem impregnar nas águas do subsolo e causar problemas de saúde, Christine Shearer, directora de programas do carvão na Global Energy Monitor, disse à ADF.
“A China tem muito carvão, mas as empresas produtoras de electricidade e de carvão estão à procura de novos mercados no exterior, uma vez que a nível interno existe muita pressão para se reduzir a energia à base de carvão,” disse Shearer num e-mail. “Existem vários projectos de centrais à base de carvão no Zimbabwe com suporte da China. Parece que se trata de uma convergência das autoridades zimbabweanas priorizarem o carvão em detrimento de energia limpa e as empresas produtoras de electricidade chinesas procurarem por novos mercados para a sua tecnologia do carvão.”
Outros projectos de centrais a carvão planificados para o Zimbabwe incluem um em Binga e três na província de Matabeleland, no norte, incluindo um que irá permitir que haja operações de mineração de carvão no Parque Nacional de Hwange.Enquanto os outros países são tímidos e evitam investir em projectos de carvão, existem 13 projectos de centrais a carvão apoiadas pela China em toda a África e outros nove já operacionais, noticiou a Blomberg.
“Apenas empresas chinesas com capacidade de produção em excesso procuram por negócios no exterior, com ajuda de subsídios de produção e financiamento subsidiado do governo chinês,” disse Myllyvirta.
Os projectos multibilionários do Zimbabwe obrigarão o país a endividar-se numa altura em que a sua a economia ainda se recupera da pandemia da COVID-19. Até Dezembro de 2018, a dívida pública do Zimbabwe atingia 18 bilhões de dólares, cerca de 34% da qual era detida pela China, de acordo com a Observer Research Foundation.
Os empréstimos relacionados com os projectos chineses da ICR, em África, como o que financia o projecto Sengwa, são conhecidos pela sua falta de transparência. O Zimbabwe está entre os vários países africanos que solicitaram alívio da dívida da China desde que iniciou a pandemia, mas a China recusou-se a fazê-lo.