ADF STAFF
O rápido crescimento de uso da internet na África Ocidental está a motivar apelos para que a região coopere em matérias de cibersegurança. Uma abordagem conjunta pode proteger cidadãos privados, empresas, instituições governamentais e infra-estruturas de crítica importância de ataque online, de acordo com a especialista em matéria de cibersegurança, Folake Olagunju.
“Deve ser uma abordagem de toda a sociedade,” disse Olagunju durante uma entrevista de um podcast, da EU International Partners Academy. Olagunju é a oficial de programas de internet e cibersegurança da CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.
Desde 2019, o uso da internet na África Ocidental aumentou em cerca de 25%. Este crescimento tem sido distribuído de forma desigual pela região, com uma percentagem elevada de 62% para os residentes online de Cabo Verde e uma percentagem baixa de 14,5% de nigerinos.
Com mais de 109 milhões de cidadãos online, a Nigéria possui o maior número de utilizadores da internet do continente, o que fez com que aquele país fosse o principal alvo do continente em termos de ataques cibernéticos, como roubo de identidade e ransomware.
Os cibercriminosos utilizam roubo de identidade para ganhar acesso aos sistemas informáticos, enviando e-mails com aparência legítima, que contêm programas informáticos destinados a invadir as suas redes informáticas para roubar dados pessoais. No ataque de ransomware, os piratas informáticos invadem empresas, como bancos, e mantém os utilizadores sem acesso até que as vítimas paguem um resgate.
A nível do continente, os africanos experimentaram 10,7 milhões de ataques de roubo de identidade, no segundo trimestre de 2022, de acordo com dados do sector.
O especialista em cibersegurança nigeriano, Abdul-Hakeem Ajijola, director da Comissão do Plano de Acção do Roteiro Estratégico, do Gabinete de Protecção de Dados da Nigéria, disse que os países africanos colocaram mais ênfase em ter mais pessoas e empresas online do que em proteger aqueles utilizadores de roubos, golpes e outros ataques cibernéticos.
Uma investigação realizada pela Interpol em 2021 sobre a cibersegurança de África concluiu que as fracas redes e uma segurança fraca fazem com que o continente seja particularmente vulnerável.
Com enfoque no fornecimento do acesso, na maior parte dos casos através de dispositivos móveis, os decisores estratégicos de África não consideram a cibersegurança como um problema africano por resolver, disse Ajijola à ADF num e-mail.
Esta situação está a começar a mudar.
Através do seu programa, Crime Organizado: Resposta da África Ocidental Sobre Cibersegurança e Luta Contra o Cibercrime, a CEDEAO já formou agentes de aplicação da lei, em toda a África Ocidental, em métodos para confrontar os cibercriminosos e recolher provas para ajudar a processá-los.
Contudo, deve ser feito mais, de acordo com Olagunju.
Os países de toda a África Ocidental precisam de actualizar os seus regulamentos em relação à cibersegurança, trabalhar com o sector privado à medida que o fazem e partilhar o que estão a aprender sobre os ataques cibernéticos, afirmou ela.
“Os governos e a lei têm a tendência de reagir de forma mais lenta do que o sector privado,” disse Olagunju no podcast da EU. “A nossa legislação pode não estar necessariamente alinhada com as mudanças da tecnologia que estamos a experimentar neste momento. Precisamos de ser mais responsivos e interactivos.”
Os governos devem encontrar a vontade política para colocar a cibersegurança no topo das suas agendas políticas nacionais, acrescentou ela.
Para esse fim, a CEDEAO está a ajudar os Estados-membros a modernizar os seus sectores de telecomunicações, incluindo a legislação para o seu funcionamento. Esta legislação tem de ser mais do que palavras no papel se se pretende que os sistemas sejam mais resilientes e robustos contra ataques, disse Olagunju.
Faz parte do plano da CEDEAO garantir que os países da África Ocidental estejam a trabalhar em linhas semelhantes enquanto desenvolvem os seus planos de cibersegurança, de modo que possam partilhar informação e criar confiança entre si.
Olagunju sugeriu que o modelo da CEDEAO pode ser replicado por outros blocos regionais do continente, encorajando os africanos a prepararem as suas próprias soluções para o problema de cibersegurança.
“Pode fazer mais sentido que países do mesmo bloco procurem ajuda uns dos outros,” disse ela. “Não se trata mais de ‘você contra mim.’ Trata-se de ‘nós.’”