EQUIPA DA ADF
Uma segunda vaga de casos de COVID-19 está a surgir em toda a África.
Desde a África do Sul à Nigéria, Uganda e Ruanda, o aumento da pandemia está a sobrecarregar os sistemas de saúde que ainda se ressentem da primeira vaga. Também está a ameaçar lugares que anteriormente escaparam elevados números de infecções e mortes.
A segunda vaga da África do Sul estava a formar-se em meados de Janeiro, semanas depois de uma nova variante do vírus ter sido detectada naquele país. O país registou uma média de 30% de aumento semanal nos casos de COVID-19 e uma média de 35% de aumento semanal de mortes ao longo de um período de quatro semanas que terminou no dia 10 de Janeiro, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
O governo anunciou que irá receber 1,5 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, provenientes do Instituto Serum da Índia, para profissionais de saúde em Janeiro, enquanto as autoridades dizem que o país garantiu 20 milhões de doses da vacina que serão entregues no final do presente ano, de acordo com um comunicado da Quartz Africa.
Apesar de a mutação da nova estirpe da COVID-19 preocupar alguns cientistas que não sabem qual será o grau de eficácia das vacinas contra ela, Glenda Gray, presidente do Conselho de Pesquisas Médicas da África do Sul, demonstrou optimismo.
As vacinas induzem uma ampla variedade de respostas, por isso, não achamos que [a segunda estirpe] irá afectar a eficácia da vacina,” disse Gray à Quartz Africa. “Entretanto, precisamos de fazer a monitoria de tudo isso e avaliar se possui um impacto sobre a eficácia da vacina. Precisamos de avaliar o papel que isso desempenha na reinfecção.”
Enquanto a segunda vaga assolava a África do Sul, o Presidente Cyril Ramaphosa voltou a impor medidas de confinamento obrigatório rigorosas, atribuindo a culpa do aumento acentuado do número de casos à complacência.
“Baixamos a guarda e infelizmente agora estamos a pagar o preço,” disse em comunicado à nação através da televisão.
Outra estirpe da COVID-19, diferente da sul-africana, foi registada na Nigéria, onde o número registado de infecções e de mortes aumentou constantemente desde o início de Dezembro de 2020.
Chikwe Ihekweazu, director do Centro de Controlo de Doenças da Nigéria, disse à BBC que o país está a alcançar “um nível crítico” em que os seus hospitais não têm a capacidade de lidar com os casos mais graves.
Sani Aliyu, coordenador nacional da Força-Tarefa Presidencial da Nigéria, disse, em comunicado transmitido pela televisão no dia 15 de Janeiro, que o governo não voltará a impor medidas de confinamento obrigatório porque as autoridades esperavam receber 100.000 doses da vacina da COVID-19 até finais de Janeiro e outros 10 milhões de vacinas até Março.
Em Uganda, o Hospital Nacional de Referência de Mulago ficou sufocado pelo aumento acentuado do número de infecções pela COVID-19 em finais de Dezembro de 2020. Somente existiam oito camas em funcionamento na unidade de cuidados intensivos, e o fornecimento de oxigénio era escasso, deixando o pessoal a lutar para lidar com o fluxo de pacientes. Em resposta, o Ministério de Saúde recrutou mais médicos e enfermeiros, noticiou a Voz da América (VOA).
“Existe um aumento da demanda por camas de cuidados críticos, isto é, unidades de elevada dependência e unidades de cuidados intensivos. Dois, existe um aumento da necessidade de haver prestação de cuidados e monitoria 24 horas por dia com a necessidade de mais pessoal do que o que normalmente seria preciso,” Joyce Moriku Kaducu, Ministra de Saúde do Uganda, disse à VOA, acrescentando que o uso do oxigénio tinha aumentado “em dez vezes mais.”
Yonas Tegegn Woldemariam, da Organização Mundial de Saúde, disse que a segunda vaga do Uganda veio depois de as autoridades terem posto um fim nas medidas de confinamento obrigatório nacionais e as pessoas terem retomado encontros em grandes grupos.
“Até que as pessoas mantenham a distância, façam estas reuniões em pequenos grupos … e mantenham as mãos higienizadas, mais e mais ugandeses ficarão doentes,” disse Yonas à VOA. “Enquanto mais e mais pessoas ficarem doentes, os serviços de saúde não serão capazes de lidar com a situação.”
Elogiado pela Organização Mundial de Saúde pela forma como faz a gestão da COVID-19, o Ruanda manteve baixas as taxas de infecção e de mortes durante a primeira vaga do vírus através de inovações médicas, uso criativo da tecnologia e uma resposta proactiva do seu governo.
Mas o país registou 722 novos casos em Dezembro de 2020, um número de infecções quase idêntico que o número de 797 das infecções que registou desde Março a Novembro, de acordo com o jornalTimes of India.
O Africa CDC reportou mais de 80 mortes em Ruanda vítimas de COVID-19 em meados de Janeiro, mas as autoridades de saúde estavam preocupados de que o número aumentaria uma vez que mais de 40 pacientes do vírus estavam em estado crítico no Centro Biomédico do Ruanda, disse Sabin Nsanzimana, director-geral daquela instituição ao jornal local New Times.
A segunda vaga obrigou as autoridades a transformarem o Hospital Distrital de Nyarugenge num centro de tratamento da COVID-19 capaz de albergar aproximadamente 140 pacientes na sua unidade de cuidados intensivos.
“Estamos a antecipar um situação onde pacientes em situação crítica continuarão a aumentar,” disse Nsanzimana ao New Times. “A criação destas instalações faz parte dos esforços para garantir que esses pacientes recebam o melhor tratamento e esta é a única forma através da qual podemos resolver esta situação.”