EQUIPA DA ADF
A polícia cabo-verdiana interceptou um barco, no início de Abril, suspeito de estar envolvido em tráfico internacional de drogas. O barco brasileiro continha mais de 5 toneladas de cocaína.
A operação, que incluiu ajuda da Agência dos Estados Unidos para a Droga, a Marinha dos EUA, a Polícia Federal Brasileira e a Agência Nacional de Combate ao Crime do Reino Unido, resultou na apreensão de cinco brasileiros e dois montenegrinos.
A apreensão destacou a realidade de que a África Ocidental é um grande ponto de paragem da rota de cocaína oriunda da América do Sul com destino à Europa.
“A África Ocidental, como região, é muito vulnerável, devido à corrupção, desemprego e pobreza,” Maria-Gorreti Loglo, consultora africana para o Consórcio Internacional de Políticas de Drogas, disse à organização de imprensa, VICE media. “Isso faz com que seja propício para os traficantes de drogas.”
As apreensões de drogas na África Ocidental aumentaram durante o início dos anos 2000 antes do seu declínio em 2008, indicando um decréscimo do tráfico de drogas. Mas especialistas afirmam que a produção de cocaína na América Latina alcançou níveis sem precedentes e a demanda na Europa aumentou. Entre 2019 e 2021, foram registadas apreensões de cocaína em Cabo Verde, Gâmbia e Senegal. A quantidade de drogas traficadas através da região é difícil de medir, mas alguns especialistas avaliam o negócio da cocaína na África Ocidental em 2 bilhões de dólares anuais.
A quantidade de cocaína capturada na região aumentou dez vezes mais entre 2015 e 2019, de acordo com as Nações Unidas.
“Por conseguinte, o recente aumento detectado desde início de 2019 ameaça, mais uma vez, enviar ondas de instabilidade em todos os Estados do seu ecossistema costeiro,” escreveu Lúcia Bird num documento de políticas para a Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional (GIATOC).
Na África Ocidental, cada centro de transbordo de cocaína possui um aeroporto internacional, um porto marítimo com um terminal de contentores e redes de estrada regionais, de acordo com a GIATOC. Os contentores de envio são uma forma particularmente eficaz para o transporte de drogas na África Ocidental, uma vez que a região possui baixa capacidade de rastrear fisicamente os contentores movimentados nos seus portos.
Os aeroportos internacionais da região são úteis para o tráfico de pequenas quantidades de drogas e muitas vezes utilizados por traficantes da América Latina.
Duas principais redes de estradas movimentam drogas pela região. Uma passa pelo Mali, por Senegal, Guiné, Costa do Marfim e Burkina Faso ou na fronteira nordeste com a Mauritânia, antes de levar para a Nigéria e Líbia e eventualmente outros mercados. A segunda rota passa pela costa desde Guiné-Bissau até Mauritânia, onde barcos de pesca levam a droga para a Europa, de acordo com o estudo da GIATOC.
Muitos países da região partilham características de governação que são favoráveis para o aparecimento de centros de droga, como “poder concentrado, recursos em muito poucas mãos, nenhuma supervisão e nenhuma separação de funções judiciárias,” argumenta o estudo da GIATOC.
A antiga Ministra da Justiça da Guiné-Bissau, Ruth Monteiro, disse à BBC, em 2020, que o país era um “paraíso” para os traficantes de droga, acrescentando que as actividades dos traficantes de droga também financiam actividades de militantes islamitas em toda a região. A ONU concordou, comunicando que o trafico de drogas providenciou financiamento para insurgência e grupos terroristas de todo o mundo.
Em Março de 2019, as autoridades da Guiné-Bissau capturaram cerca de 800 kg de droga escondida num camião registado no Senegal, carregando peixe congelado.
“Depois das nossas investigações ficamos convencidos que a droga estava a caminho da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico,” disse Monteiro à BBC.
Em resposta ao aparecimento na região como um centro na rota de cocaína, foi lancada a Iniciativa da Costa da África Ocidental, em 2009, para melhorar o cumprimento de leis e a capacidade de justiça criminal e uma série de projectos financiados pela União Europeia ajudaram a fortalecer as capacidades dos portos contra o tráfico ilegal, de acordo com o estudo da GIATOC.
AIRCOP, um programa da ONU, também ajudou a fortalecer a capacidade de segurança de agências e aeroportos internacionais na América Latina, nas Caraíbas e na África Ocidental.
As drogas não são simplesmente transitadas pela região; também são vendidas nas comunidades da África Ocidental, o que resultou num aumento no uso de drogas. Um proprietário de restaurantes na Guiné-Bissau disse à Harvard Internacional Review que “este país está a ser destruído pelas drogas.”
“Eles estão em toda a parte. Algumas semanas atrás, o homem que antes era meu jardineiro ofereceu-se para vender-me [cerca de 15 quilos] de cocaína.”
Na Libéria, um grupo de antigas crianças soldados viciados em drogas vive nas ruas de Monróvia, a cidade capital.
“O inimigo está a atacar as crianças mais brilhantes,” Joshua Blahyi, um antigo senhor de guerra que agora trabalha com jovens viciados em drogas, disse à Al-Jazeera. “O país ficará estrangulado se não salvamos estes rapazes.”