EQUIPA DA ADF
O caos que se instalou no Sudão desde o início da guerra, em Abril de 2023, pode fazer do país um nexo de terrorismo que liga os extremistas violentos do Sahel aos grupos terroristas da Somália e mesmo do Iémen, segundo os observadores.
“Sinto-me realmente muito assustado com esta situação,” Abdalla Hamdok, antigo Primeiro-Ministro do Sudão, disse ao Financial Times. “Com o Sudão a fazer fronteira com sete países, tornar-se-á um terreno fértil para o terrorismo numa região que é muito frágil.”
Hamdok afirmou que o regresso ao regime civil é a melhor forma de evitar que o terrorismo se enraíze no Sudão. Depois de ter assumido as rédeas de um governo civil de curta duração em 2020, a comunidade internacional aliviou as restrições ao Sudão relacionadas com o terrorismo que duravam há décadas.
Os líderes militares do Sudão depuseram Hamdok em 2021, quando os civis estavam prestes a assumir o controlo do governo, no âmbito da transição de 30 anos de governo do ditador Omar al-Bashir. Menos de dois anos depois, esses líderes militares — o General Abdel Fattah al-Burhan, das Forças Armadas do Sudão (SAF), e o líder das Forças de Apoio Rápido (RSF), o General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo — viraram-se um contra o outro.
Desde então, 150.000 pessoas foram mortas, mais de 10 milhões fugiram das suas casas e metade dos 49 milhões de habitantes do país enfrentam a fome.
O Sudão de al-Bashir era um paraíso para os extremistas. O país acolheu a al-Qaeda e o seu fundador, Osama bin Laden, durante muitos anos na década de 1990, antes de Bin Laden se mudar para o Afeganistão.
“As condições políticas no Sudão na década de 1990 eram semelhantes, em alguns aspectos, à situação actual: O Sudão estava a ser dilacerado pela guerra civil e governado por uma ditadura militar que só recentemente tinha chegado ao poder,” o analista Suliman Baldo escreveu no Sudan War Monitor.
A guerra civil do Sudão tem atraído a atenção de grupos extremistas, nomeadamente de canais das redes sociais alinhados com o grupo Estado Islâmico (EI).
“Estes meios de comunicação vêem os confrontos violentos entre as SAF e as RSF como uma oportunidade para explorar o caos e desacreditar os seus rivais, desde os governos locais a outros grupos jihadistas, como os talibãs afegãos,” o analista Herbert Maack escreveu recentemente para a Fundação Jamestown.
Segundo Maack, o EI incentiva os seus apoiantes a tomarem as armas das SAF e das RSF e a lutarem para impor a Sharia no Sudão.
Depois de ter surgido no Iraque e na Síria, há uma década, o EI atraiu centenas de cidadãos sudaneses radicalizados para a sua causa. Os extremistas sudaneses também se juntaram ao Boko Haram na região do Lago Chade e a grupos terroristas na Líbia. O sudanês Bilal al-Sudani ascendeu a uma posição de liderança no ramo somali do EI antes de ser morto numa acção antiterrorista em 2023.
A localização do Sudão, entre o Sahel e o Mar Vermelho, já fez dele um centro logístico para os terroristas de toda a região. De acordo com a Equipa de Apoio Analítico e Monitorização de Sanções das Nações Unidas, o EI tem operações financeiras no Sudão e até 200 combatentes veteranos no terreno que coordenam a logística, incluindo a deslocação de outros extremistas para o sul da Líbia, o Mali e outros países.
Os operativos sudaneses do EI anunciaram recentemente no Telegram que juraram fidelidade ao novo califa da organização, Abu Hafs al-Hashimi al-Qurayshi.
A presença de combatentes alinhados com o EI no Sudão cria a possibilidade de os combatentes sudaneses fora do país regressarem e reforçarem os grupos existentes, expandindo o papel do Sudão como ponte entre os terroristas do Sahel, da Somália e mesmo do Iémen, segundo Maack.
“Isso aumenta o risco de o Sudão voltar a ser um centro africano do terrorismo jihadista,” escreveu Maack.