EQUIPA DA ADF
Um vídeo recentemente divulgado mostra os combatentes do Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) no Burquina Faso a marcharem com as armas em punho e a alinharem-se em motorizadas. Os analistas dizem que a demonstração de força é uma prova de que o grupo terrorista se sente seguro e está a tentar expandir o seu alcance, apesar dos esforços da junta militar do país.
“As fotografias oferecem o primeiro vislumbre público da estrutura de treino da JNIM no Burquina Faso, onde esta organização, bem como os militantes da sua organização rival, a Província do Estado Islâmico no Sahel, controlam pelo menos 40% do território burquinabê,” Caleb Weiss, analista da Bridgeway Foundation, escreveu no Long War Journal.
Nas fotografias produzidas pelo braço mediático da JNIM, cerca de uma dezena de homens vestidos com camuflagem e cabeças cobertas treinam com armas ligeiras e conduzem motorizadas num terreno árido, rodeado de árvores baixas. As imagens constituem um aviso público de que a JNIM e outros grupos extremistas podem criar e gerir campos de treino em qualquer lugar e a qualquer altura, escreveu Weiss.
Até há pouco tempo, a JNIM tinha os seus campos de treino do outro lado da fronteira, no Mali.
A actual junta no poder, liderada pelo Capitão Ibrahim Traoré, assumiu o poder em 2022 com a promessa de eliminar a JNIM e outros grupos terroristas. A junta de Traoré, em Setembro de 2022, e a junta anterior que derrubou o presidente democraticamente eleito, Roch Marc Christian Kaboré, em Janeiro de 2022, justificaram as suas acções, dizendo que o governo de Kaboré era incapaz de controlar os terroristas.
Desde então, a JNIM e a Província do Estado Islâmico no Sahel expandiram o seu território e aumentaram o número de mortos na sua luta contra as forças governamentais, as milícias voluntárias e os mercenários russos da Africa Corps, a organização anteriormente conhecida como Grupo Wagner.
Consequentemente, o Burquina Faso está no topo da classificação do Índice Global de Terrorismo dos países mais afectados pelo terrorismo. Em 2023, 2.000 pessoas morreram no Burquina Faso em 258 incidentes relacionados com o terrorismo, o que corresponde a quase um quarto de todas as mortes por terrorismo a nível mundial.
Maio de 2024 foi o mês mais mortífero do Burquina Faso em mais de um ano, de acordo com o projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED). Os combates em todo o país mataram mais de 900 civis em Maio, segundo o grupo.
“Os civis foram visados em numerosas ocasiões por ambos os lados, muitas vezes, sob a acusação de serem suspeitos de colaborarem com as forças opositoras,” informou o ACLED.
O exército burquinabê foi responsável por 270 mortes em comunidades das províncias de Yagha e Komondjari, o que o coloca entre as forças mais mortíferas do país. Ambas as províncias se situam no extremo leste do Burquina Faso, na fronteira com o Níger.
Entretanto, os combatentes da JNIM continuam a atacar as comunidades que fornecem membros ou mostram apoio aos Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP), as milícias pouco armadas e mal treinadas que o governo de Traoré criou para complementar as forças armadas.
A expansão da JNIM a partir do Mali e os campos de treino burquinabês recentemente revelados aumentam a perspectiva de o grupo estabelecer um quase-Estado no território que controla, de acordo com a analista Tammy Palacios, da Iniciativa Prioritária de Contraterrorismo Sustentável. Em muitas zonas, a JNIM controla agora a maioria dos aspectos da vida quotidiana, acrescentou.
“Sem intervenção, a JNIM continuará a estabelecer-se como uma entidade governamental não tradicional no Burquina Faso e no Mali, ao mesmo tempo que prossegue as suas operações e ataques no Níger e nos Estados do litoral,” Palacios escreveu recentemente para o New Lines Institute. “Esta consolidação do grupo aumentaria, sem dúvida, a ameaça de a JNIM expandir o seu controlo territorial para a costa da África Ocidental.”
A crescente visibilidade da JNIM e as suas ligações aos líderes da al-Qaeda podem encorajar outras redes terroristas internacionais e aumentar as ameaças, incluindo ataques individuais noutros países, de acordo com Palacios.
Os países que fazem fronteira com os Estados do Sahel a sul — Benim, Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Togo — estão a investir fortemente na segurança das suas regiões fronteiriças a norte contra ataques directos e a influência social da JNIM e de outros grupos.
De acordo com Palacios, os países da África Ocidental têm de se defender das incursões terroristas utilizando mais do que apenas o poder de fogo.
“O combate ao terrorismo na África Ocidental não tem sido bem-sucedido, em parte, porque as operações antiterroristas não estão a contrariar todas as operações e estratégias dos grupos terroristas — especialmente as operações e estratégias não cinéticas,” escreveu Palacios. “O combate à estratégia de envolvimento civil da JNIM envolve tanto o desenvolvimento como a segurança.”