EQUIPA DA ADF
Especialistas afirmam que a Rússia está a expandir os seus esforços de influência no continente, através do Grupo Wagner, com vista a reforçar os governos africanos que fazem parceria com os seus mercenários, como a República Centro-Africana (RCA) e o Mali. Esta campanha prejudica os esforços continentais de promover a democracia e a autodeterminação, de acordo com Djibril Fofana, um consultor sediado no Burquina Faso, do Instituto Tony Blair para a Mudança Global.
Fofana explicou no The Africa Report que estas campanhas têm em vista, primeiramente, desacreditar os sistemas democráticos africanos e legitimar o modelo autoritário da Rússia como uma alternativa aos líderes que procuram manter o seu poder.
As campanhas de desinformação da Rússia em África incluem tudo, desde organização de concursos de beleza, selecções para filmes de propaganda para premiar personalidades simpáticas das redes sociais e até criar um vídeo de uma suposta vala comum no Mali.
Tidos em conjunto, os esforços de mensagens da Rússia procuram culpar a democracia pela insegurança e apresentar o modelo do “homem forte” russo e o apoio dos mercenários como uma alternativa credível.
A realidade é drasticamente diferente.
Nos cinco anos desde que os mercenários do Grupo Wagner chegaram inicialmente em África, a violência e as violações de direitos humanos aumentaram drasticamente em todos os países onde eles operaram.
- Na RCA, que convidou as forças do Grupo Wagner como formadores militares, os mercenários assumiram um papel activo na luta contra os grupos militantes rebeldes. Isso incluiu a morte de civis inocentes, através da colocação de minas terrestres, ataque contra aldeias e execuções de suspeitos militantes rebeldes.
- No Mali, os combatentes do Grupo Wagner fizeram parte do ataque de Março de 2022, na comunidade de Moura, que durou cinco dias e fez 300 vítimas mortais. O massacre de Moura contribuiu para um aumento de 150% na violência no Mali, em comparação com 2021, de acordo com o ACLED, o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.
- Na Líbia, as forças do Grupo Wagner estiveram lado a lado com as tropas dirigidas pelo General Khalifa Haftar e deixaram para trás centenas de explosivos armadilhados e outras munições em zonas civis quando as forças de Haftar recuavam depois de não terem sido capazes de tomar Trípoli em 2020.
A campanha de desinformação da Rússia também tem um outro aspecto obscuro das operações do Grupo Wagner em África: a pilhagem de recursos naturais. Onde quer que o Grupo Wagner opera, os seus afiliados seguem, reivindicando ouro, diamantes e petróleo, que podem posteriormente ser canalizados de volta para a Rússia, para financiar a sua actual invasão à Ucrânia.
Os mineradores artesanais frequentemente são vítimas das tácticas do Grupo Wagner, que já incluíram assassinatos e expulsão de mineiros ao longo da fronteira entre a RCA e o Sudão para tomarem os recursos lá existentes. As operações de contrabando de ouro do Grupo Wagner no Sudão apoiam a junta no poder daquele país enquanto roubam milhares de dólares do Sudão em receitas da mineração e degradam o meio ambiente.
Para além das próprias tácticas de desinformação do Grupo Wagner, a Rússia disfarça a sua desinformação através de fontes africanas, alimentando reportagens para a imprensa local, criando contas falsas nos canais das redes sociais ou promovendo celebridades simpáticas da internet para propagarem as suas mensagens.
O Grupo Wagner utilizou estas tácticas em Abril de 2022, para promover a ideia de que as tropas da França, que na altura operavam no Mali, eram responsáveis pela vala comum que se encontrava fora da comunidade de Gossi. A afirmação viralizou naquela região, apesar de provas bem-documentadas e em tempo real de que os operativos do Grupo Wagner fabricaram todo aquele cenário.
Em Outubro de 2022, um fórum de jovens do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo contou com uma influenciadora das redes sociais, Kemi Seba, que regularmente expõe mensagens pró-russas e contra o Ocidente para os seus seguidores do Facebook e do YouTube.
“Alguns destes influenciadores ganharam muitos seguidores recentemente, mas a forma de pensar sobre eles é que eles simplesmente fazem parte de um sistema de desinformação maior que a Rússia está a implementar em África através do Grupo Wagner,” Mark Duerksen, um investigador associado do Centro de Estudos Estratégicos de África, disse ao site Coda Story. “Eles apresentam-se como pseudo-intelectuais que adoptam tropas de um historial profundo de pan-africanismo para os seus fins.”
Os analistas sugerem que, para além de tentar desacreditar os países do Ocidente, a campanha de desinformação da Rússia também possui um outro fim: encobrir o facto de que o Grupo Wagner não está a conseguir alcançar o seu objectivo declarado de ajudar os países africanos a eliminar o extremismo. Fofana cita o Mali como um exemplo.
“Como era de esperar, os contratados da Rússia demonstraram não ser capazes de enfrentar as ameaças dos grupos jihadistas do Mali, muito menos melhorar a segurança e ou fornecer uma solução sustentável para o conflito, e eles demonstram ter um completo desrespeito pelas principais causas do conflito,” escreveu. “Não é segredo que o Grupo Wagner é ineficiente no terreno.”