EQUIPA DA ADF
Enquanto procura expandir a sua presença na região do Sahel, a Rússia parece estar no Burquina Faso a seguir o mesmo guião que utilizou para se implantar no aparelho de segurança do Mali.
Apesar das recentes recusas, o Burquina Faso solicitou o apoio da Rússia, possivelmente incluindo os mercenários do Grupo Wagner.
O Primeiro-Ministro do Burquina Faso, Apollinaire Kyelem de Tambela, deu tanto a entender depois das conversas de Janeiro com o embaixador russo. Ele também visitou Moscovo vários dias em Dezembro, para debater sobre a cooperação entre os dois países.
Vários relatos indicam que o envio do Grupo Wagner é provável.
Uma fonte da diplomática europeia disse à Reuters que a União Europeia tem conhecimento de contactos entre o Burquina Faso e o Grupo Wagner, mas a fonte não pôde confirmar se um acordo tinha sido alcançado.
Em Dezembro, o Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, disse que o governo militar do Burquina Faso já tinha chegado a um acordo com o Grupo Wagner.
“Acredito que uma mina no sul do Burquina lhes tenha sido alocada como forma de pagamento pelos seus serviços,” disse numa conferência de imprensa.
A alegação causou um alvoroço diplomático, e o governo de Akufo-Addo mais tarde “esclareceu” a declaração durante as conversas. Mas a Rússia possui pelo menos uma operação mineira no Burquina Faso, e as suas subsidiárias do Grupo Wagner têm um padrão de extrair recursos naturais de países como uma fonte de pagamento.
Os mercenários do Grupo Wagner trazem riscos significativos para qualquer país.
O grupo foi acusado de cometer atrocidades contra civis e de pilhar recursos minerais, o que resultou numa maior deterioração do ambiente de segurança.
No Mali, os combatentes do Grupo Wagner estiveram ligados ao massacre de civis, incluindo execuções sumárias de cerca de 300 pessoas numa aldeia do centro do Mali, em Março de 2022.
Na República Centro-Africana, os mercenários russos foram acusados de matar, violar e torturar civis enquanto pilhavam ouro e diamantes.
Parte do guião do Grupo Wagner é criar uma aparência de apoio local com falsos movimentos, a nível da base, dirigidos por influenciadores pagos que geralmente distribuem bandeiras russas.
Para os civis, não existe segurança oferecida pelos mercenários que não são responsáveis pelas suas acções. Para os grupos terroristas, a presença de combatentes não profissionais e ineficientes do Grupo Wagner resultou num aumento do recrutamento de residentes locais frustrados que são afectados pelo trabalho do Grupo Wagner.
Responsabilizar o Grupo Wagner é extremamente difícil, de acordo com a Dra. Sorcha MacLeod, presidente do Grupo de Trabalho das Nações Unidas Sobre o Uso de Mercenários.
“Quando se tem estes representantes mercenários lá, o Estado pode estar envolvido num conflito armado sem fazer oficialmente parte do conflito,” disse à BBC. “E depois tem a recusa plausível … e claro que isso possui grandes implicações quando se trata de responsabilidade e responsabilização.”
Mutaru Mumuni Muqthar, director-executivo do Centro da África Ocidental Para o Combate ao Extremismo, disse que as preocupações sobre o Grupo Wagner são válidas por causa do registo da dificuldade dos mercenários em acabar de forma efectiva ou reduzir a violência extrema.
“Não achamos que estas forças do Grupo Wagner tenham este sentimento de legitimidade, em termos de criação de estruturas que sejam sustentáveis para lidar com as ameaças,” disse à Voz da América.
“Não tivemos qualquer exemplo bom em qualquer lugar e, por isso, estamos muito preocupados de que ele seja utilizado para outros objectivos e fins, especialmente quando há uma mudança de regime.”
A expansão da influência russa e a febre de golpes de Estado no Sahel apenas trouxeram mais miséria para a região.
Burquina Faso, Mali e Nigéria registaram um aumento de 50% no número de mortes, devido a conflitos, de acordo com as estatísticas de 2022 do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Evento.
Especialistas alertaram que os mercenários russos demonstraram que não melhoram a segurança.
“Quando esses tipos de actores são inseridos em conflitos armados, o conflito é prolongado e existe um maior risco de crimes de guerra,” disse MacLeod.
“A realidade é que estas organizações não têm um incentivo para acabar com o conflito. A sua motivação é financeira.”