ADF STAFF
Mais de 200 combatentes do Boko Haram e alguns dos seus comandantes renderam-se às tropas nigerianas, depois de a Província do Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP) ter lançado um ataque contra o grupo extremista rival, no Estado nordeste de Borno.
Foi o mais recente de uma série de confrontos entre os grupos desde 2020, quando o ISWAP lançou ataques que levaram à morte de Abubakar Shekau, líder do Boko Haram.
As lutas internas entre o ISWAP, o Boko Haram e a sua facção Jama’atu Ahlis Sunna Lidda’awati wal-Jihad (JAS) beneficia os esforços da Força-Tarefa Conjunta Multinacional (MNJTF) para restaurar a paz naquela região.A MNJTF, que é composta por 10.000 homens, é um esforço militar que visa derrotar os militantes na região do Lago Chade. Inclui tropas provenientes do Benin, Camarões, Chade, Níger e Nigéria, sendo que todos eles são alvos de grupos terroristas.
“Existem sérios confrontos internos entre os grupos criminosos de ISWAP e JAS,” Major-General Abdul-Khalifa Ibrahim, comandante da MNJTF disse ao African Arguments. “Ouvimos com agrado esta situação e esperamos que piore. Os criminosos estão a ser mortos, os seus suprimentos estão a ser interrompidos e o equipamento está a ser recuperado. A MNJTF alcançou ganhos significativos e esperamos fazer mais.”
A vingança esteve por detrás do ataque de finais de Janeiro, quando os combatentes do JAS mataram pelo menos 35 membros do ISWAP durante uma emboscada na Bacia do Lago Chade semanas antes. Os grupos viraram-se uns contra os outros quando enfrentavam a pressão cada vez mais crescente das forças da MNJTF e da Nigéria.
Durante um período de duas semanas, em Agosto e Setembro de 2022, o exército da Nigéria disse que tinha matado mais de 250 combatentes do Boko Haram e do ISWAP, através de ataques aéreos e operações em terra. Depois daqueles ataques, 556 pessoas ligadas aos grupos renderam-se ao exército. As tropas também recuperaram granadas, espingardas AK-47, lançadores de granadas e munições.
Assim como comunicou o African Arguments, o Boko Haram e o ISWAP são conhecidos pelas suas diferenças estratégicas. O ISWAP geralmente realiza ataques em grande escala contra acampamentos do exército e locais de extracção de petróleo.
O Boko Haram e as suas ramificações habitualmente atacam aldeias, matam de forma indiscriminada os civis e raptam mulheres e crianças. As Nações Unidas estimam que 350.000 pessoas foram mortas em conexão com a insurgência do Boko Haram, no norte da Nigéria, desde 2009, e mais de 2 milhões de outras pessoas ficaram deslocadas.
As perdas recentes incorridas pelo Boko Haram levaram alguns observadores a questionarem por mais quanto tempo o grupo iria resistir.
“Em termos gerais, a tendência indica que o Boko Haram está num ponto de viragem,” escreveu a investigadora Ana Aguilera para o European Eye on Radicalization. “O grupo pode encontrar uma forma de recalcular as suas tácticas para lidar com a perda do seu líder e com a redução das suas fontes de receita ou pode enfraquecer-se face as campanhas duplas do ISWAP que procura caçar os seus membros e a oferta do Estado da Nigéria em encontrar caminhos para a desmobilização. …”
Em 2022, a MNJTF anunciou que tinha feito mais de 1.000 vítimas mortais entre os combatentes do Boko Haram, durante as ofensivas de terra, mar e ar, como parte de um esforço designado Operação Lago Sanidade. Ibrahim disse ao African Arguments que as suas tropas também mataram mais de 45 combatentes do Boko Haram, em Janeiro.
Contudo, os especialistas alertam que os grupos já demonstraram ser resilientes e ainda existem algumas áreas onde eles operam com maior liberdade. “Os combatentes do ISWAP e do JAS continuam a gozar de espaço noutros países-membros do Lago Chade, principalmente nos Camarões e no Níger, ao longo da fronteira com a Nigéria e ao longo da costa do Lago Chade,” Daniel Matan, do Centro de Informação de Inteligência e Terrorismo Meir Amit, disse ao African Arguments. Ele acrescentou que os grupos estão “longe de ser derrotados.”