Hawa deixou a sua casa no Burquina Faso devido a ataques terroristas, há cinco anos, e foi para uma cidade na região do Sahel, no país. Aí, dependia da ajuda humanitária para alimentar a família e apanhava vegetação do mato para vender e comer.
Apesar de a junta militar no poder no Burquina Faso, liderada pelo Capitão Ibrahim Traoré, ter prometido combater o terrorismo quando assumiu o poder em Setembro de 2022, organizações extremistas em dezenas de cidades e aldeias rurais impuseram bloqueios que dificultam a entrega de ajuda por parte das organizações humanitárias.
Agora, Hawa, mãe de seis filhos, é uma das cerca de 500.000 pessoas sob bloqueio no Burquina Faso, apanhada num ponto cego da resposta humanitária devido à falta de financiamento e a graves restrições operacionais, de acordo com o Conselho Norueguês para os Refugiados. A ajuda das organizações não-governamentais internacionais só chegou a 1% dos civis em metade das cidades sob bloqueio.
Depois de terem sido impostas restrições à circulação, Hawa deixou de poder vaguear pelo mato e a ajuda acabou.
“Sentimo-nos esquecidos por aqueles que podem prestar assistência humanitária,” disse ao Conselho de Refugiados. “Ninguém nos vem ver. Ouvimos falar de organizações humanitárias, mas já não as vemos.”
Esta realidade contraria a narrativa dos partidários da junta que afirmam que a situação de segurança do país é melhor sob o regime militar e que as suas forças não cederam aos terroristas.
Grupos ligados à al-Qaeda e ao Estado Islâmico impõem bloqueios em áreas onde acreditam que os residentes são leais às forças governamentais, incluindo civis que se juntaram à milícia Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP) da junta.
Traoré utiliza os VDP para reforçar as forças armadas burquinabês, que combatem os extremistas há mais de sete anos. Segundo as Nações Unidas, os combatentes extremistas mataram milhares de pessoas e forçaram mais de 2 milhões a abandonar as suas casas.
Embora as autoridades governamentais tenham afirmado que 50.000 pessoas se voluntariaram para aderir aos VDP, os insurgentes detêm cerca de metade do território do país, principalmente no norte. O resultado foi a destruição de comunidades e a fome galopante.
“Os nossos irmãos e irmãs, primos e sobrinhos, os nossos idosos, vivem na pobreza total,” uma professora que escapou recentemente da cidade bloqueada de Pama, disse ao The New Humanitarian. O professor disse que Pama já foi próspera devido à sua produção agrícola, mas “tudo parou de repente” quando o bloqueio foi imposto em 2023. Actualmente, os produtos básicos como o sal e o sabão são raros e caros, disse o professor.
Os habitantes dos locais bloqueados disseram ao The New Humanitarian que os seus serviços de saúde estão a entrar em colapso, as infra-estruturas estão a ser atacadas e os alimentos são escassos porque os terroristas os impedem de aceder aos campos e pastagens. Os trabalhadores humanitários afirmaram que só podem aceder às zonas bloqueadas com helicópteros da ONU de alto custo. Segundo eles, as distribuições são pouco frequentes e os terroristas ameaçam punir as comunidades que aceitem ajuda.
Rachel Mikanagu, directora do Fórum das Organizações Não-Governamentais Humanitárias Internacionais, disse que apenas cerca de um terço do dinheiro necessário para responder às necessidades humanitárias mais críticas no Burquina Faso “foi efectivamente desembolsado” em 2023.
“Como é extremamente dispendioso prestar assistência nas áreas enclavadas, a escassez de recursos financeiros leva frequentemente as organizações a dar prioridade às pessoas necessitadas noutras partes do país,” disse Mikanagu ao Conselho Norueguês para os Refugiados. “Isso resulta numa situação profundamente preocupante em que as populações, já isoladas das suas terras agrícolas e dos seus meios de subsistência e lutando para satisfazer necessidades vitais, recebem também muito menos assistência para salvar vidas — sendo, sem dúvida, duplamente punidas.”
Como noticiou o The New Humanitarian, os comboios militares forçam periodicamente a passagem dos bloqueios para entregar mantimentos e ajuda humanitária e para ajudar as pessoas a fugir das suas cidades. Mas estas operações são pouco frequentes e são também regularmente atacadas por terroristas.
Em Agosto de 2023, terroristas atacaram um helicóptero do Programa Mundial de Alimentação (PMA) quando este tentava entregar alimentos a civis na cidade de Djibo.
“Tais ataques desafiam o trabalho do PMA no terreno, interrompendo a assistência alimentar que salva-vidas, aumentando os nossos custos operacionais e esticando o nosso dólar humanitário até ao limite,” Elvira Pruscini, representante e directora nacional do programa no Burquina Faso, disse na página da internet da organização. “Não podemos simplesmente dar-nos ao luxo de interromper a nossa resposta, que continua a ser uma tábua de salvação fundamental para os que dela necessitam urgentemente.”