EQUIPA DA ADF
O rio Nilo é essencial para a vida de muitos dos 11 países que o mesmo atravessa. Uma nova barragem constitui um tipo diferente de prosperidade para alguns, mas ameaça a estabilidade regional.
Desde que a Etiópia anunciou, em 2011, os seus planos de construir a Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD), estimada em 4,8 bilhões de dólares, controlar o fluxo das águas do Nilo tornou-se um assunto controverso para os países que se encontram a jusante, o Sudão e o Egipto.
O GERD representa um emaranhado de problemas complexos.
Os egípcios criaram a sua civilização neste rio por milhares de anos. Mais de 95% da população actual do país, estimada em mais de 102 milhões, está concentrada no Nilo, que fornece cerca de 90% da água doce do país.
A revindicação do rio pelo Egipto é devida ao acordo efectuado com a Grã-Bretanha, em 1959, que deu ao Egipto 55,5 bilhões de metros cúbicos (bmc) de água por ano. O Sudão recebeu 18,5 bmc por ano, embora não utilize toda esta quantidade.
Nenhum outro país foi incluso no acordo, e a Etiópia não o reconhece.
Classificada na posição número 173 dentre os 189 países e territórios no mais recente Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, a Etiópia quer apostar o seu crescimento e futuro nos seus abundantes recursos hídricos, com 86% do Nilo a nascer nos planaltos do país.
“Esta não é uma barragem normal; este é o maior projecto de desenvolvimento de África,” Ashok Swain, presidente da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, abordando sobre a Cooperação Internacional no Domínio das Águas, disse numa transmissão do canal Al-Jazeera. “Há falta de confiança e falta de comunicação. … O verdadeiro problema é a politização da água pelos políticos.”
Em 2020, aqueles líderes aumentaram a sua retórica porque todas as tentativas de um acordo fracassaram.
“O Rio Nilo não deve ser monopolizado por um único Estado,” Presidente Egípcio, Abdel-Fattah el-Sisi, disse em conferência de imprensa, destacando as suas principais preocupações como sendo a segurança agrária e a gestão dos recursos hídricos diante de persistentes ameaças de seca. “Para o Egipto, a água do Nilo é uma questão existencial.”
O Primeiro-Ministro Etíope, Abiy Ahmed, contudo, insiste que o seu país está meramente a tentar satisfazer as necessidades de electricidade de uma população que cresce rapidamente.
“Não temos qualquer intenção de prejudicar esses países,” disse Ahmed numa conferência de imprensa, enfatizando que aproximadamente 80% dos etíopes não tem acesso à electricidade. “Não podemos nos dar ao luxo de continuar a manter 65% da nossa população na escuridão.”
O projecto está 75% concluído. Quando terminar, a sua capacidade de 6,45 gigawatts fará com que seja a maior central hidroeléctrica de África e a sétima maior do mundo. A barragem irá produzir 15.000 gigawatts por hora por ano — um aumento de 200% em electricidade que a Etiópia pretende utilizar e exportar.
A primeira barreira é com que rapidez encher o reservatório. A Etiópia propôs um prazo de quatro a sete anos. Preocupado com a seca, o Egipto pediu que houvesse mecanismos para parar o enchimento em casos de fracas precipitações ou de redução dos níveis das águas do Nilo.
Por vezes, o conflito parece insanável.
No dia 15 de Julho, rondas negociais, um dia após o outro, fracassaram, e a televisão estatal da Etiópia noticiou que a GERD tinha começado o enchimento. O Egipto exigiu “esclarecimentos urgentes” relacionados com as imagens de satélite que mostram a expansão do reservatório atrás da barragem. Mais tarde naquele dia, o Ministro das Águas da Etiópia insistiu que o reservatório foi resultado de chuvas torrenciais, mas não afirmou explicitamente se as comportas da barragem tinham sido fechadas.
“Depois de uma década de negociações interrompidas, chegar a um acordo bem-sucedido entre os três países em relação à barragem assim como em relação a acordos desactualizados de partilha de água não será fácil,” Ahmed Soliman, parceiro de pesquisa do Corno de África no grupo de reflexão Chatam House, disse à rede de televisão Al-Jazeera. “É necessário que haja uma liderança corajosa e diminuição da retórica nacionalista assim como compromisso de todas as partes para garantir que as lacunas sejam reduzidas entre eles.
“Este sucesso diplomático é realmente necessário tanto para a estabilidade regional como para o progresso.”