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No seu poema Jornada Difícil, Yousef Kamara reflecte sobre os anos de venda de drogas e roubos enquanto líder de uma gangue de rua na capital da Serra Leoa, Freetown.
“Como um viajante na floresta acidentada/Me auto-propelando sozinho/Escapando pelo perigo mais afiado que as facas/Meu difícil caminho é uma zona bem rachada”, escreve ele.
Depois de deixar as gangues, há três anos, Kamara agora espera que a sua jornada de declamação de poesia possa dar um exemplo para outros jovens em Freetown, onde cada vez mais jovens se juntam às gangues.
Kamara já foi publicado em várias revistas internacionais de poesia e foi convidado, em 2019, para participar na Conferência de Escritores Africanos em Quénia.
É uma reviravolta dramática para alguém que passou a maior parte da sua vida a liderar os Giverdam Gaza, uma gangue de várias dezenas de membros, que ele mesmo fundou enquanto ainda adolescente em Exodus Lane, Freetown.
“Se estivesses à procura de alguns bandidos… para bater em alguém, era só descer até Exodus Lane e procurar pelos Giverdam Boys para fazerem o trabalho”, disse Kamara.
Quando se cansou da vida das ruas, ele encontrou uma saída através da Way Out, um estúdio de media fundado por um cineasta inglês em 2008, que encoraja jovens desprivilegiados a entrarem na arte. Kamara decidiu experimentar a sua mão, escrevendo poemas, depois de ver alguns dos seus amigos inscreverem-se num curso de poesia. Ele rapidamente se deu bem, gravava os versos no seu telefone celular já desgastado.
“É preciso dar às pessoas… alguma coisa que possam levar com elas de volta para as suas comunidades e dizer, ‘Eu não sou a pessoa má que vocês conheciam’”, disse Gbrilla Kamara, gestor da Way Out. Apesar do nome, este não tem nenhuma relação de parentesco com Yossef.
Kamara disse que gostaria de criar a sua própria organização e ajudar jovens vulneráveis a terem auto-estima e mudarem “do crime para a carreira”.
O desafio é premente. Em toda a Serra Leoa, as condições económicas terríveis, incluindo desemprego descontrolado, fizeram com que muitos que nasceram depois da guerra civil no país, entre 1991 e 2002, se juntassem às gangues, dizem os pesquisadores.
Kamara pensa que a poesia pode ser um instrumento poderoso para o combate desta tendência, forçando os jovens a serem honestos com eles mesmos.
“Ao escrever um poema, se puder ser sincero com aquilo que você viu, aquilo que você sente, aquilo que você ouviu, nunca precisará de fabricar qualquer história”, explicou.