EQUIPA DA ADF
As tensões estão a aumentar no Norte do Mali, onde um plano de paz frágil está quase à beira do colapso.
A rebelião dos Tuaregues terminou em 2015 com o acordo de paz de Argel, mas, como nunca foi completamente implementado, o conflito entre os antigos rebeldes e o governo aumentou.
Com a junta militar do Mali a assumir uma abordagem mais antagónica nos últimos meses, alguns receiam que os confrontos violentos estejam no horizonte.
Amadou Albert Maïga, membro do Conselho Nacional de Transição que age como órgão legislativo do governo não eleito, recentemente disse que o exército do Mali agiria em breve.
“A guerra é inevitável em Kidal,” disse ele durante uma transmissão ao vivo no Facebook, em Fevereiro.
Maïga indicou que o exército estava a planificar operações para restaurar a autoridade do governo em Kidal, uma cidade estratégica no norte que tem estado sob controlo da coligação de antigos rebeldes desde 2013.
Um membro da junta, o Ministro de Reconciliação Nacional do Mali, Coronel Ismaël Wagué, viu a sua relação com aquela coligação — a Coordenação de Movimentos de Azawad (CMA) — a degradar-se com as suas acusações de violações do acordo de paz.
O acordo de Argel colocou um fim a anos de hostilidades com grupos armados essencialmente de etnia Tuaregue, que combatiam pela independência do norte do Mali, com início em 2012, um conflito que foi alimentado pelos militantes extremistas islamitas que também estão sediados nos desertos do norte.
Actualmente, a junta do Mali liderada pelo presidente de transição, Coronel Assimi Goïta, demonstrou indisposição para negociar. Com o peso da sua reputação continental pela mediação, a vizinha Argélia recentemente propôs uma reunião em territórios neutros. Goïta rejeitou a proposta.
Em resposta, os antigos rebeldes Tuaregues retiraram-se da comissão encarregue de finalizar a nova Constituição do Mali.
“Actualmente, o diálogo está totalmente interrompido e cada um está à espera do outro para dar um passo que irá marcar a interrupção definitiva, de modo que ele não seja aquele que terá prejudicado o acordo de paz,” uma fonte disse à revista de notícias online, The Africa Report.
“As relações entre Bamako e o norte estão historicamente complicadas, mas as actuais autoridades estão particularmente hostis para com os antigos rebeldes.”
Depois de se retirarem da comissão constitucional, os ex-rebeldes anunciaram, numa declaração do dia 8 de Fevereiro, que tinham “decidido unir os movimentos que compõem a CMA para que seja uma única entidade política e militar.”
“Esta é uma fase muito importante em que acabámos de entrar, porque a demografia do movimento tinha estado a apelar por ela por muito tempo,” Mohamed Elmaouloud Ramadane, membro da CMA, disse à Radio France Internationale depois de ter publicado uma declaração na sua conta do Twitter.
“Então, é um facto hoje. Trata-se de um novo acordo. Trata-se um novo ponto de partida.”
Os governantes militares do Mali responderam acusando a CMA de “conivência cada vez mais óbvia com grupos terroristas.”
Numa carta do dia 24 de Fevereiro para o Ministro de Negócios Estrangeiros da Argélia, Ramtane Lamamra, Wagué escreveu:
“O comportamento de certos movimentos é um obstáculo para a paz. O governo, enquanto continua comprometido com a implementação inteligente do acordo, irá automaticamente rejeitar qualquer acusação que iria responsabilizá-lo de possíveis consequências da [sua] violação.”
Especialistas como a investigadora de mediação de conflitos, Ferdaous Bouhlel, alertam que a retórica carregada ameaça o retorno à guerra.
“Quanto mais o Estado negligencia ou abandona o espaço do diálogo mais a implementação do acordo é posta em causa e mais os movimentos armados tendem a unir as suas forças e garantir a segurança da sua região,” disse à Jeune Afrique, em 2022.