EQUIPA DA ADF
A tentativa da junta no poder no Burquina Faso de controlar o grupo Estado Islâmico no Grande Sahara (ISGS) produziu poucos resultados e provocou mais mortes de militares e civis, ao mesmo tempo que os extremistas aumentaram as suas próprias fileiras, de acordo com a análise de especialistas.
Estima-se que os extremistas tenham cometido cerca de 5.000 actos de terrorismo no Burquina Faso desde Janeiro de 2022, quando um golpe de Estado liderado pelo Tenente-Coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba depôs o então presidente Roch Marc Christian Kaboré. Damiba afirmou ter lançado o golpe de Estado devido à frustração pelo facto de o governo não ter conseguido travar o terrorismo.
Oito meses depois, Damiba foi derrubado pelo Capitão Ibrahim Traoré pelos mesmos motivos. Traoré, que actualmente lidera a junta no poder, também parece enfrentar dificuldades para controlar o ISGS e outros grupos extremistas.
Nos últimos meses, o ISGS alargou a sua presença no Burquina Faso, absorvendo membros da Ansar al-Islam, deixando esta organização extinta.
Um ataque do ISGS na província de Oudalan, em Fevereiro, matou 50 soldados burquinabês. Em Abril, um outro ataque matou 40 soldados e membros da milícia civil em Aoréma.
Um mês após a tomada do poder, Traoré alistou cidadãos burquinabês em milícias conhecidas como Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP). Estes 90.000 membros da milícia, que recebem um treino limitado e armas ligeiras, suportaram muitos dos recentes ataques do ISGS ao longo das fronteiras do Burquina Faso com o Níger e o Mali e também perto das suas fronteiras meridionais com o Togo e o Benin.
“O armamento maciço da população para a envolver na luta contra os grupos jihadistas faz dos civis os alvos preferenciais destes últimos, que os atacam em represália,” o investigador Tanguy Quidelleur, do Instituto de Ciências Sociais da Política, disse ao jornal Le Monde.
O ataque de meados de Maio à cidade de Kompienga, perto da fronteira entre o Togo e o Benin, constituiu um lembrete de que o ISGS e outros grupos extremistas do Sahel continuam a avançar para os países situados a sul com o objectivo de estabelecer corredores de abastecimento para a costa ocidental africana.
A região ocidental do Sahel, que inclui o Burquina Faso, é actualmente responsável por mais de 40% das mortes por terrorismo em todo o mundo, de acordo com o Índice Global de Terrorismo. A região da tríplice fronteira entre o Mali, o Burquina Faso e o Níger tem sido o epicentro desta crise.
O ISGS, por exemplo, tem um reduto em Ménaka, no Mali, a partir do qual lança ataques no Burquina Faso. Um desses ataques, na comunidade burquinabê de Guessel, matou oito membros dos VDP e 12 civis.
O Burquina Faso ocupa o segundo lugar, a seguir ao Afeganistão, na lista de países mais afectados pelo terrorismo do Índice Global de Terrorismo. O Mali é o quarto da lista.
“O Sahel é onde se encontram os grupos terroristas de crescimento mais rápido e mais mortíferos do mundo,” escreveram os autores do Índice. “O Estado Islâmico (EI) e as suas filiais continuaram a ser o grupo terrorista mais mortífero do mundo em 2022, pelo oitavo ano consecutivo, com ataques em 21 países.”
A nível mundial, 119 países não comunicaram qualquer actividade terrorista em 2022, deixando um pequeno número de outros países — muitos deles em África — a sofrer o impacto dos ataques extremistas. As mortes causadas pelo terrorismo também diminuíram quase 60% em todo o mundo, o que torna a experiência de países como o Burquina Faso ainda mais evidente.
Desde que os extremistas lançaram a sua campanha contra o Burquina Faso em 2015, 13.000 pessoas morreram em ataques terroristas, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos. Alguns deles eram civis mortos pelo exército e pelos membros dos VDP.