EQUIPA DA ADF
A longa rebelião da minoria anglófona dos Camarões alastrou-se através da sua fronteira ocidental para zonas remotas do Estado nigeriano de Cross River, o que suscita preocupações entre alguns observadores quanto à possibilidade de o conflito alimentar a instabilidade em toda a região.
Desde que a rebelião do movimento secessionista Ambazonia começou em 2017, mais de 6.000 civis morreram e 760.000 pessoas foram deslocadas em todo o oeste dos Camarões, rico em petróleo. Pelo menos 70.000 delas atravessaram a fronteira pouco patrulhada com a Nigéria, procurando refúgio em comunidades fronteiriças como Belegete, que acolhe o maior número de cidadãos camaroneses deslocados.
Os rebeldes ambazonianos procuram a independência dos Camarões, país de língua predominantemente francesa. Os rebeldes das duas províncias ocidentais dos Camarões encerraram os serviços públicos, incluindo a educação, no território que controlam. De acordo com as Nações Unidas, mais de metade dos 4 milhões de habitantes das regiões anglófonas necessitam de apoio humanitário, enquanto cerca de 600.000 crianças foram privadas de uma escolaridade eficaz devido ao conflito.
Nos últimos anos, os rebeldes ambazonianos atacaram várias comunidades nigerianas ao longo da fronteira. Há dois anos, atacaram a aldeia de Manga e mataram o chefe local. Em Dezembro de 2023, atacaram Belegete durante 24 horas sem qualquer resposta do governo nigeriano. O ataque deixou centenas de civis feridos ou desaparecidos, incluindo o líder tradicional de Belegete, o chefe Francis Ogweshi.
“Para além de representar uma violação da integridade territorial, o incidente também sugere uma colaboração com os grupos secessionistas da Nigéria, com provas de ligações entre os secessionistas da Ambazónia e o Povo Indígena do Biafra,” o analista Augustine Aboh escreveu no The Conversation.
O Povo Indígena do Biafra é um movimento do leste da Nigéria que procura reavivar um movimento para criar um Estado independente do Biafra. A secessão do Biafra conduziu a uma guerra civil de 1967 a 1970.
“Embora nos últimos anos a Nigéria tenha estabelecido uma parceria com os Camarões para garantir a estabilidade regional, o último ataque sugere a necessidade de aumentar a cooperação estratégica entre os países vizinhos para travar a ameaça crescente,” acrescentou Aboh.
De acordo com os residentes, os soldados nigerianos chegaram a Belegete dois dias depois do ataque e envolveram-se num tiroteio com combatentes ambazonianos escondidos na floresta próxima. Vários combatentes ambazonianos foram mortos, levando outros a matar um grupo de civis raptados que incluía o Chefe Ogweshi.
“Não há estrada transitátel por veículos motorizados para a comunidade e a rede de comunicações telefónicas é muito má, o que torna a vida muito difícil durante uma emergência,” o filho do Chefe Ogweshi, Mustapha, disse ao HumAngle. “Os raptores pediram ao meu pai que apresentasse os camaroneses que procuravam refúgio na nossa comunidade, incluindo os rebeldes que tinham desertado, mas o meu pai opôs-se, dizendo que não sabia do seu paradeiro.”
Alguns dias mais tarde, os combatentes ambazonianos regressaram a Belegete, onde cortaram alguns residentes com espadas, espancaram outros nas suas casas e incendiaram alguns edifícios.
“A insurgência separatista ambazoniana representa uma ameaça não só para os Camarões e para a Nigéria, mas corre o risco de degradar ainda mais a situação de segurança na África Ocidental,” escreveu Aboh no The Conversation.
Enquanto o exército nigeriano continua a lutar contra o Boko Haram e outras insurreições no norte do país, as suas forças podem ter dificuldade em responder eficazmente às incursões dos rebeldes ambazonianos, acrescentou Aboh.
“Combater os separatistas ambazonianos e outras ameaças à segurança interna continuará a ser um desafio para o governo nigeriano,” escreveu Aboh. “Com uma população e um território vastos, o pessoal de segurança já está sobrecarregado.”