EQUIPA DA ADF
O número de actos de violência envolvendo grupos extremistas no Burquina Faso, no Mali e no Níger quase duplicou desde 2021.
Isso é de acordo com uma análise da Reuters aos dados do grupo de monitorização de crises, o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, que registou 224 eventos violentos por mês, em média, desde Janeiro, contra 128 em 2021.
O Instituto para a Economia e a Paz informou que o Burquina Faso liderou o seu Índice Global de Terrorismo pela primeira vez este ano, com um aumento de 68% nas mortes, para 1.907 — um quarto de todas as mortes ligadas ao terrorismo a nível mundial.
A junta militar do Burquina Faso — assim como as do Mali e do Níger — afirmou que a sua prioridade era proteger os civis do terrorismo. Mas os grupos ligados à al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico (EI) reivindicaram mais território e aumentaram os ataques contra as forças de segurança e os civis. De acordo com as Nações Unidas, cerca de metade do Burquina Faso está agora fora do controlo do governo.
No dia 24 de Agosto, o grupo afiliado à al-Qaeda, Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), matou cerca de 600 pessoas na cidade de Barsalogho, no centro do Burquina Faso, naquele que é considerado um dos ataques terroristas mais mortíferos em África nas últimas décadas. Os jihadistas tinham matado pelo menos 150 soldados burquinabês em Barsalogho 15 dias antes.
“Os dois grandes (grupos) terroristas veteranos estão a ganhar terreno,” Seidik Abba, presidente do instituto de investigação CIRES, em Paris, disse à Reuters, referindo-se à al-Qaeda e ao EI. “A ameaça está a espalhar-se geograficamente.”
No dia 17 de Setembro, a JNIM atacou descaradamente Bamako, a capital do Mali, atingindo o aeroporto e um centro de formação da polícia, matando mais de 70 pessoas. Will Linder, que dirige uma empresa de consultoria de risco que acompanha a região, disse que os ataques em Bamako e Barsalogho mostraram que os esforços antiterroristas das juntas nos países estavam a falhar.
“Os líderes de ambos os países precisam realmente de novas estratégias para combater as insurgências jihadistas,” Linder disse à Reuters.
No final de Julho, quase um ano após o golpe militar no Níger, um grupo terrorista armado matou pelo menos 15 soldados nigerinos na região de Tillaberi, perto da fronteira com o Burquina Faso.
No ano passado, a junta do Níger ordenou às forças dos Estados Unidos que abandonassem uma base de drones no deserto, em Agadez. Os drones tinham recolhido informações valiosas sobre a actividade extremista no Sahel. O aumento da violência nos três países coincide com a partida das forças francesas e norte-americanas, a redução da presença das Nações Unidas e a crescente dependência de mercenários russos.
“Ninguém mais preencheu a lacuna da vigilância aérea ou do apoio aéreo, pelo que os jihadistas circulam livremente nesses três países,” Wassim Nasr, investigador sénior do Centro de Estudos Soufan, disse à Reuters.
Um painel de peritos da ONU que monitoriza a al-Qaeda e o EI estima que a JNIM tem actualmente entre 5.000 e 6.000 combatentes, enquanto 2.000 a 3.000 militantes estão ligados ao EI.
“O seu objectivo declarado é estabelecer o domínio islâmico,” Nasr disse à Reuters. Tentam fazê-lo através da coerção e da oferta de serviços básicos, como tribunais locais, para instalar os seus próprios governos em comunidades rurais que podem estar a sentir-se marginalizadas pelo Estado.
“Vem connosco. Deixaremos os teus pais, irmãs e irmãos em paz. Vem connosco e ajudar-te-emos, dar-te-emos dinheiro,” um homem que fugiu do Mali, disse à Reuters, citando um aliciamento para recrutamento terrorista. “Mas não podes confiar neles, porque eles matam os teus amigos à tua frente.”
Os grupos recebem algum financiamento, formação e orientação dos seus líderes globais. Também cobram impostos e apreendem armas após batalhas com as forças do Estado, segundo a ONU.