EQUIPA DA ADF
Os ataques do Estado Islâmico no Sahel mudaram de direcção para cidades fronteiriças do Mali e do Níger, nos últimos meses.
Os civis continuam a pagar com as suas vidas.
“Homens armados chegaram de motorizadas e dispararam contra tudo o que se movia,” um funcionário local disse à France24, falando sobre os ataques a três aldeias nigerinas (Inazayene, Bakoarate e Wistane), onde terroristas assassinaram pelo menos 137 pessoas em finais de Março.
Centenas de pessoas foram mortas este ano e aproximadamente meio milhão de nigerinos fugiram da violência.
No Mali, a força de manutenção da paz das Nações Unidas, MINUSMA, respondeu, enviando duas unidades para a região da tríplice fronteira onde Mali, Burquina Faso e Níger convergem.
“A situação de segurança na região da tríplice fronteira… particularmente nas localidades [malianas] da região de Tessit, Talataye, Ansongo e Menaka, deteriorou-se consideravelmente nas últimas semanas,” disse a ONU num comunicado.
Especialistas afirmam que a mudança faz parte de uma estratégia para capturar o território da região da tríplice fronteira, que passou a ser o epicentro da violência extremista no Sahel.
“O Estado Islâmico está na ofensiva desde o início do mês de Abril em muitas partes da fronteira entre Mali e Níger,” analista de terrorismo da France24, Wassim Nasr, disse numa entrevista em estúdio, depois de visitar o Níger.
“Está bem claro que eles estão a tentar controlar esta fronteira.”
Os grupos afiliados ao Estado Islâmico procuraram assumir o controlo ou obrigar os civis a fugir de pelo menos cinco cidades do lado maliano da fronteira, disse Nasr.
“Vemos claramente que eles pretendem controlar esta zona, que é rica em água, mas também em lugares para esconderijo, porque estão a procurar antecipar o que irá acontecer a seguir, e querem um santuário nesta parte do território maliano,” disse.
O exército maliano realizou ataques aéreos na região que cerca a cidade deserta de Menaka no dia 13 de Março, que se afirma que ajudou a parar o ímpeto dos grupos terroristas.
Em termos gerais, contudo, o governo maliano foi capaz de proteger os civis naquela área, disse Nasr.
“Apenas tiveram uma reacção clara no início de Abril, onde houve um ataque de helicóptero,” disse Nasr. “Mas aconteceu depois da batalha e eles até cometeram violações de direitos humanos contra populações civis que procuravam escapar do Estado Islâmico.”
O Mali desencadeia uma guerra sangrenta contra vários grupos armados desde 2012. As vastas terras desertas rurais da região da tríplice fronteira, por vezes, referida como Liptako-Gourma, historicamente foram difíceis para os países as defenderem.
Os grupos terroristas atravessaram a fronteira a partir do Mali para a região oeste do Níger a fim de lançarem ataques frequentes, desde 2017. O presidente nigerino, Mohamed Bazoum, disse que 12.000 soldados do seu país foram enviados a tempo inteiro para operações de combate ao terrorismo.
A deterioração das relações entre a junta militar do Mali e parceiros externos levou à retirada das forças francesas e europeias que operam naquela região há anos.
No dia 17 de Fevereiro, Bazoum recebeu as forças europeias para estabelecerem uma base de operações no Níger.
“O nosso objectivo é que as nossas fronteiras com o Mali sejam seguras,” Bazoum escreveu no Twitter, no dia 18 de Fevereiro.
Ele antecipa que a retirada do Mali irá criar uma lacuna que será preenchida por grupos armados, aumentando a ameaça de violência na região da tríplice fronteira.
“Esta região ficará ainda mais infestada, e os grupos terroristas irão fortalecer-se,” escreveu Bazoum. “Sabemos que procuram expandir a sua influência.”
A junta do Mali retirou-se, em meados de Maio, da força conjunta G5 do Sahel, lancada em 2017, que inclui tropas de Burquina Faso, Chade, Mauritânia e Níger.
Depois de conversar com Bazoum na capital, Niamey, Nasr comunicou que o Níger está a responder à recente vaga de violência com uma abordagem multidimensional.
O Níger levou a cabo negociações com líderes terroristas numa tentativa de os desmobilizar.
Onde o diálogo fracassou, o país logrou sucesso com os drones recentemente adquiridos e enviados para batalhas na região da tríplice fronteira. O Níger está a construir uma base para o exército e drones de vigilância na cidade central de Tahoua, de acordo com uma reportagem de 21 de Maio, da página de notícias da internet, ActuNiger.
“A resposta clara está a vir do Níger, que está a confrontar os grupos jihadistas em várias frentes,” disse Nasr.