EQUIPA DA ADF
No final de Julho, o al-Shabaab lançou ataques quase simultâneos contra as aldeias somalis de Buulo Xaaji e Harboole e atacou três bases militares onde estavam estacionados membros do Exército Nacional da Somália e combatentes paramilitares do Estado de Jubaland.
O presidente de Jubaland, Ahmed Mohamed Islaam, disse que mais de 135 combatentes do al-Shabaab foram mortos e mais de 80 feridos e “feitos prisioneiros de guerra” na batalha que se seguiu, informou a Agence France-Presse. De acordo com o grupo de monitorização SITE, o al-Shabaab afirmou ter matado 71 elementos das forças de segurança e ferido outros, embora estas afirmações não possam ser confirmadas.
Jubaland é, desde há muito, um foco de actividade do al-Shabaab. A sua proximidade com a grande cidade portuária de Kismayo torna-a estrategicamente importante para as forças governamentais e para os terroristas. O controlo desta área permite ao al-Shabaab facilitar as operações de contrabando e influenciar as comunidades locais.
“A repulsão bem-sucedida do ataque do al-Shabaab demonstra a crescente proficiência táctica das forças governamentais somalis,” o analista Avery Warfield escreveu no Geopolitical Monitor. “Ao abandonarem proactivamente as bases e cercarem os militantes, as forças somalis minimizaram as suas baixas e infligiram perdas significativas ao inimigo. Esta estratégia indica uma melhoria das capacidades de informação e de coordenação entre as unidades militares somalis.”
Os ataques também põem em evidência a resistência do al-Shabaab à pressão militar e sublinham os receios dos especialistas, incluindo o chefe da Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS), o embaixador Mohamed el-Amine Souef, que acredita que as forças de segurança somalis necessitarão da ajuda contínua das forças internacionais depois de a missão deixar o país no final do ano.
“As ambições políticas em torno da transição não têm correspondido consistentemente às realidades do terreno, o que provoca atrasos,” Omar Mahmood, analista sénior da África Oriental, no International Crisis Group, disse ao jornal The East African em meados de Julho.
O Exército Nacional da Somália retomou 22 bases da ATMIS e reconquistou algum território, mas Mahmood disse acreditar que é necessário mais tempo para continuar a desenvolver o sector da segurança da Somália.
“É provável que a Somália continue a necessitar da assistência de tropas estrangeiras durante, pelo menos, os próximos dois anos, a fim de evitar um retrocesso em matéria de segurança,” acrescentou Mahmood.
Ruth Namatovu, investigadora do Instituto de Investigação e Integração de Políticas em África, da Universidade do Norte do Illinois, disse ao jornal The East African que a retirada “não tem um plano claro, as diferentes partes interessadas têm agendas diferentes.”
Namatovu disse que, historicamente, o período em que as responsabilidades de segurança são transferidas de uma missão internacional para as forças locais é particularmente perigoso. “A Somália está a tentar evitar um resultado final semelhante, minimizando os riscos de se livrar das forças estrangeiras de uma só vez, numa altura em que o al-Shabaab se tornou mais resistente, sofisticado e aumentou as suas forças em termos de pessoal,” afirmou.
De acordo com uma avaliação da UA a que o The East African teve acesso, o al-Shabaab está cada vez mais apto a utilizar drones e está a criar formas de utilizar engenhos explosivos improvisados nos seus ataques. Segundo os analistas, o grupo terrorista dispõe de um sistema de informação adequado e utiliza dados geográficos de fonte aberta para planear ataques.
De acordo com a UA, o al-Shabaab tem vindo a formar gradualmente uma força pan-africana de combatentes estrangeiros conhecidos como Muhajirin. A maioria dos Muhajirins são etíopes, quenianos e tanzanianos, embora também haja combatentes do Burundi, do Congo, do Ruanda e do Uganda.
A avaliação da UA refere que o al-Shabaab também estabeleceu laços com as Forças Democráticas Aliadas, um grupo ugandês que também aterroriza o leste da República Democrática do Congo.
Enquanto prosseguem os combates entre as forças internacionais e o al-Shabaab, o governo somali está a tomar medidas para erradicar os conteúdos extremistas online. Com a ajuda de empresas tecnológicas e da Agência Nacional de Informações e Segurança, está a visar sites e contas de redes sociais ligados ao grupo.
“Foi uma tarefa difícil quando começámos, exigiu conhecimentos, competências e muito trabalho,” o Vice-Ministro da Informação da Somália, Abdirahman Yusuf al-Adala, disse à Voz da América, em Março. “Formámos pessoas com as competências necessárias, foram criados gabinetes especiais, foi disponibilizado equipamento e foi aprovada legislação pelo Parlamento. Mais de um ano depois, estamos numa boa posição e acreditamos ter atingido muitos dos nossos objectivos.”
Uma grande ofensiva contra o al-Shabaab lançada pelas forças governamentais e pelas milícias dos clãs locais, em 2022, levou a uma relativa pausa nas actividades do grupo terrorista. A calma terminou em Março, quando o grupo atacou um hotel popular perto do palácio presidencial em Mogadíscio.