EQUIPA DA ADF
A poucos quilómetros de um dos mais mortíferos focos de violência militante do mundo — o leste da República Democrática do Congo (RDC) — o povo do Burundi debate-se com uma insurgência própria.
Os crescentes ataques do grupo rebelde RED-Tabara revelaram um padrão de assassinato de civis e de reivindicação de crédito pelos ataques nas redes sociais, mas negando o envolvimento de civis. A ofensiva suscitou a indignação de um vasto leque de burundeses.
“O governo do Burundi lamenta uma vez mais o comportamento do Ruanda que mantém, treina e arma o grupo terrorista RED-Tabara,” afirmou o porta-voz do governo, Jérôme Niyonzima, num comunicado de 26 de Fevereiro.
Na noite anterior, homens armados atravessaram a fronteira da RDC e invadiram a cidade de Buringa, apenas alguns quilómetros a norte da maior cidade do Burundi, Bujumbura. Mataram nove pessoas, incluindo seis mulheres e um soldado, e feriram cinco.
Os foguetes atingiram a sede local do partido político CNDD-FDD, deixando as suas paredes de tijolo, o telhado de madeira em forma de A e as chapas de metal ondulado destruídas. O soldado encontrava-se no interior do edifício, segundo o semanário Iwacu.
“Recentemente, ocorreu um caso semelhante em Gatumba e agora é a vez de Buringa,” Sixte-Vigny Nimuraba, presidente da Comissão Nacional Independente de Direitos Humanos, disse ao Iwacu. “Não posso deixar de condenar um acto tão desprezível que visa assassinar a população civil. Os nossos serviços responsáveis pela aplicação da lei devem rever as suas estratégias de protecção da população.”
O grupo rebelde afirmou nas redes sociais que tinha atacado duas posições militares do Burundi, matando seis soldados e apoderando-se de armas e munições.
No final de Dezembro, 12 crianças encontravam-se entre os 20 civis mortos por combatentes da RED-Tabara em Gatumba. O grupo rebelde afirmou nas redes sociais ter matado nove soldados e um agente da polícia no ataque. Continua a negar que tem como alvo civis.
RED-Tabara, acrónimo francês para a Resistência para um Estado de Direito no Burundi (Résistance pour un État de Droit au Burundi), tem lutado para derrubar o governo do Burundi a partir de bases na região do Kivu do Sul, no leste da RDC, desde 2015.
O mais activo de um punhado de grupos rebeldes que procuram destituir o governo do Burundi, a RED-Tabara está estimada em 500 a 800 combatentes.
Patrick Hajayandi, investigador da Universidade de Pretória, associa o grupo armado ao golpe militar falhado do Burundi em 2015. Os golpistas que não foram detidos fugiram para norte, para o Ruanda.
“A presença de antigos líderes de golpes de Estado no Ruanda e o seu envolvimento em acções de desestabilização contra o governo do Burundi, bem como o apoio aparentemente renovado do governo ruandês aos combatentes da RED-Tabara, estão a provocar o recrudescimento das tensões políticas entre Kigali e Gitega,” escreveu num artigo de 14 de Abril para a revista The Conversation Africa.
Pouco depois do ataque a Gatumba, o Presidente do Burundi, Evariste Ndayishimiye, acusou o Ruanda de acolher e treinar a RED-Tabara. Apesar dos desmentidos do Ruanda, o Burundi fechou mais tarde a sua fronteira com o Ruanda, suspendeu as relações diplomáticas e deportou vários cidadãos ruandeses.
Hajayandi referiu relatos de que o Ruanda estava a recrutar e a treinar rebeldes do Burundi no Campo de Refugiados de Mahama, no leste do Ruanda, que alberga mais de 60.000 refugiados, a maioria dos quais do Burundi.
Especialistas das Nações Unidas que entrevistaram combatentes capturados na RDC relataram em 2016 que os membros da RED-Tabara disseram que foram recrutados, treinados e escoltados por militares ruandeses para a RDC com identidades falsas como se fossem cidadãos congoleses.
Segundo Hajayandi, os recentes ataques da RED-Tabara parecem cada vez mais com terrorismo do que com violência política. Para ele, os rebeldes do Burundi são semelhantes ao grupo extremista congolês M23, na medida em que ambos estão a travar guerras por procuração em nome do Ruanda.
“[A RED-Tabara] afirma lutar pelo regresso ao Estado de direito, que diz ter sido abandonado pelo actual governo,” escreveu. “No entanto, os seus ataques indiscriminados contra as populações civis estão cada vez mais a enquadrar-se no padrão dos actos terroristas.
“Nos últimos 15 anos, tenho estudado a dinâmica dos conflitos na região dos Grandes Lagos. Na minha opinião, os ataques da RED-Tabara fazem parte de acções coordenadas para usar o conflito para remodelar a geopolítica da região.”