EQUIPA DA ADF
Uma organização extremista ligada ao grupo do Estado Islâmico utilizou dispositivos explosivos improvisados (DEI) em seis ataques contra patrulhas militares na província moçambicana de Cabo Delgado, durante um período de três semanas que terminou no dia 1 de Outubro.
Os ataques nos distritos de Macomia e Mocímboa da Praia marcaram um aumento significativo no uso de DEI pelo Ansar al-Sunna numa insurgência que começou em 2017, de acordo com o site Zitamar News, de Moçambique.
Durante anos, o grupo utilizou normalmente armas ligeiras durante os ataques a alvos militares e civis, mas essa situação começou a mudar quando, em 2021, começou a utilizar bombas de beira de estrada, dispositivos rudimentares activados por pressão.
Os ataques tornaram-se mais sofisticados em Julho, quando um DEI telecomandado danificou gravemente um veículo blindado das Forças Armadas de Defesa de Moçambique em Macomia.
Embora os DEI utilizados nos ataques mais recentes em Macomia e Mocímboa da Praia pareçam ser do tipo activado por pressão, permitem que o Ansar al-Sunna e outros grupos minimizem as suas próprias baixas enquanto criam um caos potencialmente mortal.
De acordo com o Zitamar News, os ataques com DEI visam principalmente duas estradas. Uma, entre Mbau e Limala, em Mocímboa da Praia, que dá acesso à base das Forças de Defesa do Ruanda, em Mbau. A outra, entre Quiterajo e Mucojo, em Macomia, que é necessária para a circulação ao longo da costa, onde a actividade de insurgência se tem concentrado recentemente.
Ambas as rotas estão rodeadas de florestas, o que permite aos insurgentes colocar DEI sem serem detectados.
A ameaça invisível e persistente de passar por cima de uma bomba está a ter um impacto psicológico nas tropas moçambicanas que não tiveram qualquer formação neste tipo de guerra, uma fonte local disse ao Cabo Ligado, que é publicado pelo Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
‘Ninguém nas ruas’
A vila de Mocímboa da Praia ficou muito danificada devido à insurgência. Florian Morier, um trabalhador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, visitou recentemente a zona pela primeira vez. Depois de sair do aeroporto, a equipa de Morier passou pelos escombros de casas e outros edifícios destruídos pelos combates.
“Esperávamos este nível de degradação,” disse Morier num novo documentário da Java Discover, intitulado “Mozambique: From Violence to Violence (Moçambique: De Violência em Violência).” “Agora é interessante. Não se vê ninguém nas ruas.”
O trabalho de Morier é imenso e a maior parte dos edifícios da zona tem de ser reconstruída. A cidade não tem serviços, nem água, nem electricidade. Ele visitou uma igreja destruída por uma grande bomba.
“Isso dá uma boa indicação do grau de perseverança e do desejo de destruir,” disse Morier. “De facto, é a cidade inteira. Não vi nenhum edifício que tenha sido poupado no final.”
Serão necessários milhões de dólares e empresas dispostas a trabalhar numa zona de guerra para reconstruir a cidade.
Em Palma, os soldados ruandeses permanecem numa grande instalação desocupada pela empresa petrolífera francesa Total depois de centenas de militantes terem invadido a cidade em 2021.
“Derrotámo-los nas suas fortalezas, mas os rebeldes reconstruíram as suas forças,” disse um soldado ruandês no documentário. “Os terroristas mudaram de táctica. São mais móveis do que antes. Não podem desaparecer de um dia para o outro.”
De acordo com a ReliefWeb, 116.000 habitantes regressaram a Palma em 2022 e cerca de metade das empresas privadas reabriram.