EQUIPA DA ADF
Após catorze anos de luta contra as organizações extremistas violentas (OEV) na Bacia do Lago Chade, a Nigéria está a ter sucesso a partir de cima, obrigando os militantes a dispersar-se e a mudar de táctica.
Zagazola Makama, especialista em contra-insurgência e analista de segurança na região do Lago Chade, é frequentemente questionado sobre a forma como as forças armadas nigerianas têm conseguido fazer frente às OEV no nordeste do país.
“A minha resposta é sempre a mesma: o poder aéreo é decisivo,” disse à ADF.
“A característica dominante do teatro de contra-insurgência da Nigéria é a sinergia e a colaboração eficazes entre os meios terrestres e aéreos, que garantem a dizimação constante do adversário.”
Nos últimos meses, os ataques aéreos da Força Aérea Nigeriana (NAF), no Estado de Borno, dizimaram o Boko Haram e travaram o ímpeto da Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP).
Makama, que gere um site de notícias a partir de Maiduguri, a capital de Borno, e tem dezenas de milhares de seguidores nas redes sociais, tem relatado extensivamente os recentes sucessos da NAF, nos quais foram mortos centenas de militantes e vários comandantes de topo.
Estas vitórias levaram a uma série de mudanças nas tácticas do ISWAP.
“Depois de ter sofrido uma série de pesadas perdas devido aos incessantes ataques aéreos da Força Aérea nigeriana, o ISWAP mostrou-se menos disposto a passar à ofensiva,” afirmou.
“O grupo alterou as suas estratégias de combate, passando a evitar concentrações em massa, estabelecendo aldeias debaixo de árvores, lançando ataques apenas durante a noite e encorajando a utilização de motorizadas em vez de camionetas que podem ser facilmente detectadas por operações de informação, vigilância e reconhecimento (ISR).”
No início de Julho, o grupo terrorista reagiu na área da administração local de Marte, atacando e ameaçando civis que suspeitava espiarem para depois informar as forças de segurança.
Os combatentes do ISWAP mataram sete agricultores num ataque de retaliação a Krenoa, uma aldeia a cerca de 10 quilómetros a nordeste de Marte.
“Inicialmente, estavam oito homens na quinta quando lançaram o ataque. No entanto, o mais novo deles conseguiu esconder-se e escapar mais tarde,” um comerciante de peixe local disse ao site de notícias HumAngle.
Os militantes acusaram os agricultores de “ajudarem os soldados a identificar as suas posições para um ataque aéreo.”
Os combatentes do ISWAP também responderam, proibindo os agricultores, os pescadores e os pastores de acederem a grandes parcelas de terras onde trabalham e têm os seus meios de sustento.
“Estas medidas podem afectar a época das colheitas, especialmente se continuarem a impedir os agricultores de irem para as lavouras nesta fase crucial da estação das chuvas,” Bukar Adam, um comerciante de Marte e residente de Maiduguri, disse ao HumAngle.
HumAngle, um site de notícias, sediado em Abuja, reportou que estas comunidades ao longo das margens do Lago Chade “estão agora a enfrentar o duplo desafio de uma presença terrorista e a restrição do acesso às suas terras agrícolas.”
“A proibição do ISWAP à agricultura nestas áreas remotas ilustra os desafios complexos que a região enfrenta, onde a luta contra o terrorismo se cruza com a luta diária pela sobrevivência.”
As acções do ISWAP representam uma mudança de táctica, uma vez que colocam agora firmemente os insurgentes contra os aldeões e, em última análise, dificultam a manutenção do controlo na região.
Makama atribuiu à aquisição pela Nigéria de 12 aviões de ataque ligeiro A-29 Super Tucano aos Estados Unidos e ao desenvolvimento de drones fabricados na Nigéria a melhoria da superioridade aérea da NAF.
Ele afirmou que a rápida disseminação de informações de ISR pela NAF tem sido outro factor fundamental para que as forças armadas nigerianas enfrentem os extremistas.
“A estratégia de informação requintada obtida através de ISR persistente ajudou a NAF a continuar a destruir campos e pontos de encontro do Boko Haram e do ISWAP, muitas vezes, bem fortificados, protegendo os civis e minimizando os danos colaterais,” disse Makama.
“Numa tentativa desesperada de mostrar que ainda está a funcionar como força de combate, o ISWAP resolveu atacar alvos de oportunidade e alvos fáceis em locais com menos presença de segurança, enquanto os seus combatentes tiveram de se retirar para as [ilhas conhecidas como] Tumbuns do Lago Chade.”