EQUIPA DA ADF
Nos últimos meses, uma nova cerveja começou a aparecer nos bares de Bangui, a capital da República Centro-Africana — uma bebida que os analistas afirmam que traz consigo implicações para os países onde os mercenários russos do Grupo Wagner operam.
Isso acontece porque a cerveja, Africa Ti L’Or, é um produto de uma empresa detida por Dimitri Sytyi, adido cultural da Rússia na RCA e operativo de alto nível do Grupo Wagner. Motociclistas em triciclos motorizados distribuíram a cerveja em lojas e bares, obrigando-os a aceitá-la, de acordo com o site de notícias da RCA, Corbeau News Centrafrique (CNC).
Pouco depois disso, no início de Março, piromaníacos incendiaram grades de madeira usadas para as entregas, na cervejeira Castel, com mais de 70 anos, em Bangui, numa aparente tentativa de incendiar as instalações. As autoridades afirmaram que o fogo causou ligeiros danos à fábrica, que emprega 500 pessoas, sendo um empreendimento de longa data na RCA.
“É um ataque de fogo posto, por isso, o governo deve abrir uma investigação hoje para descobrir a origem,” Serge Ghislain Djorie, Ministro de Comunicações e porta-voz do governo da RCA, disse à AFP, pouco depois do incêndio na Castel.
Analistas afirmam que o ataque contra a famosa marca francesa indica uma nova frente nos esforços contínuos da Rússia, através do Grupo Wagner, de expandir a sua influência na RCA e em outros países. A estratégia: afastar as marcas de produtos de consumo do Ocidente e substituí-las por marcas de produtos feitos na Rússia.
Homens descritos como estando trajados de uniformes do estilo do Grupo Wagner, com espingardas Kalashnikov nas costas, realizaram o ataque. Eles lançaram 30 bombas de gasolina sobre a vedação da cervejeira, incendiando as grades de entrega armazenadas no perímetro da propriedade.
O ataque de Março não foi a primeira tentativa de danificar ou destruir as instalações da Castel, que produz a marca MOCAF na RCA. Em finais de Janeiro, três homens tentaram utilizar uma escada para ganhar acesso à fábrica, antes de fugirem quando os seguranças da fábrica apareceram.
“Na mesma noite, um drone sobrevoou a cervejeira,” um executivo sénior da Castel disse à AFP.
A Castel e a MOCAF também têm sido alvo de campanhas de desinformação nas redes sociais, na RCA, destinadas a fazer com que os residentes da República Centro-Africana estejam contra a marca.
“O Grupo Wagner sabe que a MOCAF é um alvo ideal para fortalecer a sua presença e alimentar o descontentamento popular com os franceses,” analista Karen Clayton escreveu no The Nation Update.
Desde a sua chegada na RCA, em 2018, o Grupo Wagner aumentou gradualmente a sua esfera de influência naquele país.
O que começou como supostamente “treinar” o exército da RCA cresceu para passar a incluir generalizada mineração de ouro e diamante, ataques para afastar os mineradores artesanais, no leste, próximo da fronteira com o Sudão, assaltos contra as comunidades e contra as forças de manutenção da paz da ONU, violações de direitos humanos e propaganda destinada a denegrir os países do Ocidente e criar apoio para a Rússia.
No ano passado, o Grupo Wagner introduziu a sua própria marca de vodka na RCA.
De acordo com a AFP, um diplomata de Bangui classificou o bombardeamento da cervejeira como a mais recente tentativa de intimidar as empresas do Ocidente na RCA. O bombardeamento aconteceu poucos dias depois de o Presidente da França, Emmanuel Macron, ter-se reunido com o Presidente da RCA, Faustin-Archange Touadéra.
O site CNC descreveu a bebida russa como tendo sido produzida numa zona residencial de Bangui. O mesmo questionou a segurança do produto e a credibilidade do seu alegado conteúdo de álcool de 5%.
“Eles fazem tanto barulho quanto possível, estes russos, mas não trazem nada de concreto para o desenvolvimento da República Centro-Africana, excepto empobrecê-la ainda mais,” escreveu o CNC.