EQUIPA DA ADF
No dia 31 de Janeiro, as estações de televisão transmitiram, em directo, as imagens de caixas a serem descarregadas de uma aeronave que transportava as primeiras doses da vacina da COVID-19 para a África do Sul.
A entrega de 1 milhão de doses da vacina da AstraZeneca aterrou no Aeroporto Internacional O.R. Tambo, naquilo que foi o primeiro passo no plano do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC) para vacinar 60% dos 1,3 bilhões de pessoas de África contra a COVID-19, nos próximos anos.
“Agora que existem vacinas aprovadas, o África CDC está a explorar todas as opções disponíveis para garantir que África não seja deixada para trás no acesso à vacina da COVID-19,” escreveu o Dr. John Nkengasong, director do África CDC, como parte da celebração do quarto aniversário da organização.
Numa pesquisa de 15.000 africanos, feita pelo África CDC e pela Escola Londrina de Higiene e Medicina Tropical, 79% dos inquiridos afirmou que irá aceitar a vacina da COVID-19 que for segura e eficaz.
A última palavra – “eficaz” – pode ter maior impacto nos planos para o alcance da imunidade contra a COVID-19 a nível do continente, através de vacinações. Existem vários motivos:
- As vacinas treinam o corpo a combater o vírus, mas algumas são melhores que as outras.
- As mutações que criam as variantes do vírus podem reduzir o poder das vacinas de neutralizá-lo.
- As condições do mundo real são diferentes das do ambiente controlado dos ensaios de medicamentos e dos testes laboratoriais.
O que é eficácia?
Os ensaios determinam até que ponto as vacinas são capazes de prevenir a doença — a sua eficácia. Os pesquisadores dão aos voluntários uma vacina ou um placebo, depois esperam que eles adoeçam. Comparar a taxa em que as pessoas vacinadas adoecem com a taxa das pessoas não vacinadas determina a eficácia da vacina.
Os ensaios clínicos incluíram mais de 43.600 voluntários, com uma metade a receber a vacina e a outra metade a receber uma injecção de placebo salinizado. Os pesquisadores testaram quantas pessoas em cada grupo ficaram infectadas pela COVID-19. Dos 170 casos de COVID-19, 162 estavam no grupo do placebo e oito estavam no grupo da vacina. Isso significa que 95% daqueles que receberam a vacina permaneceram saudáveis.
Uma eficácia da vacina não é o mesmo que a sua eficiência, que tende a ser mais baixa no mundo real. Isso se deve a muitos factores, tais como a constituição genética da população, problemas de saúde subjacentes e mesmo problemas de armazenamento e distribuição que podem reduzir até que ponto uma vacina funciona fora do laboratório.
No mês passado, as autoridades africanas anunciaram que garantiram aproximadamente 700 milhões de doses de vacinas. O continente também espera receber 600 milhões de doses da facilidade da COVAX, que foi estabelecida para ajudar os países de renda média e baixa para vacinarem os seus cidadãos.
Essas vacinas variam na forma como cada uma é bem-sucedida contra a COVID-19. A Pfizer e a Moderna possuem 95% de eficácia. A Sinovac da China, em comparação, provou ter 50% de eficácia no Brasil. A Rússia afirma que possui 92% de eficácia para a sua vacina Sputnik V, mas não publicou os protocolos dos seus ensaios para a revisão científica.
As vacinas também variam significativamente quanto ao número de doses que são necessárias, como elas desencadeiam as reacções imunes do corpo e até que ponto são eficazes contra casos ligeiros e graves. Todas essas diferenças podem alterar a forma como as vacinas funcionam no corpo humano.
Impacto das variantes
Especialistas de saúde pública estão a observar ao pormenor à medida que mais variantes da COVID-19 se propagam pelo continente africano. Enquanto as variantes se propagavam, a taxa de mortalidade do continente começou a subir, comunicou Nkengasong, numa conferência de imprensa do dia 28 de Janeiro.
Muitas variantes apresentam alterações nas proteínas spike do vírus, a ferramenta que ele usa para penetrar uma célula. Isso é uma preocupação porque as vacinas com maior índice de sucesso até à data – Pfizer e Moderna – treinam o corpo a reconhecer essa proteína.
Enquanto a proteína altera, as vacinas podem eventualmente tornar-se menos eficazes contra ela. Esse é o caso da Novavax, que é 89% eficaz contra o vírus primário da COVID-19, mas apenas 60% eficaz contra a variante sul-africana. A Pfizer e a Moderna criaram doses de reforço para melhorar a resposta das suas vacinas para com a variante sul-africana.
“A vacina é uma luz no fundo do túnel. É um enorme avanço. Mas não responde a – e não irá lidar com – todas as inquietações que temos,” disse o Dr. Michael Ryan, director-executivo do Programa de Emergências de Saúde, da Organização Mundial de Saúde (OMS), durante uma conferência de imprensa, em meados de Janeiro. “Temos de ser mais eficientes na luta contra o vírus.”
É por essa razão que os profissionais de saúde pública continuam a enfatizar a necessidade de máscaras, lavagem das mãos e distanciamento social para limitar a propagação.
“Colectivamente, não estamos a lograr sucesso no que diz respeito a quebrar a cadeia de transmissão a nível da comunidade ou dentro dos agregados familiares,” disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, da Etiópia, director-geral da OMS. “Quanto mais o vírus é suprimido, menores são as oportunidades que ele tem de fazer mutações.”