EQUIPA DA ADF
Imagens recentemente publicadas na internet revelam que ambos os lados do conflito que dura há um ano no Sudão armaram os seus combatentes com mísseis antitanque iranianos.
A origem exacta do sistema de mísseis guiados antitanque Saeghe (ATGMS) continua por esclarecer. O fabricante estatal de armas do Sudão produziu os sistemas durante muitos anos, levando alguns analistas a especular que — no caso das Forças de Apoio Rápido (RSF) — as armas podem ter sido saqueadas de bases militares capturadas.
Os dirigentes das Forças Armadas do Sudão (SAF) negaram ter recebido armas do Irão, mas recusaram-se a dizer de onde elas vieram.
O Sudão renovou as suas relações com o Irão em Outubro de 2023, após um hiato de sete anos. Em Dezembro de 2023, uma delegação sudanesa visitou o Irão com a missão de adquirir drones de ataque iranianos Mohajer-6.
Em 2024, esses drones entraram no campo de batalha sudanês. Provas fotográficas publicadas pela Rádio Dabanga e outras fontes mostraram aviões de carga da Guarda Revolucionária Iraniana na pista de Port Sudan, a base de operações do governo sudanês liderado pelo General Abdel Fattah al-Burhan.
Desde a renovação dos laços diplomáticos, o Sudão concedeu aos navios da Marinha Iraniana acesso aos portos sudaneses, dando ao Irão uma presença limitada no Mar Vermelho. O Sudão ainda não permitiu que o Irão estabeleça uma base naval permanente, apesar dos pedidos, de acordo com relatórios publicados.
Segundo o analista Mehmet Kilic, é provável que o Irão persista na sua ajuda ao Sudão de uma forma que poderá ter um impacto significativo para além do conflito interno do país.
“A revitalização dos seus laços com o Irão tem potencial para ter impacto não só na região, mas também no equilíbrio global de poder,” Kilic escreveu recentemente no Middle East Monitor.
A presença de armas iranianas no Sudão chamou a atenção dos rivais regionais do Irão, incluindo os Emirados Árabes Unidos, que apoiam as RSF.
O Irão enviou mísseis Saeghe para outras zonas de conflito onde procura exercer influência, nomeadamente para o Iémen.
Os mísseis antitanque são apenas uma parte do arsenal de armas de fabrico iraniano que o Sudão possui. As SAF dispõem de uma série de drones, armas de fogo e veículos blindados fabricados ou projectados pelo Irão, graças a uma longa história de cooperação militar entre os dois países.
Ao longo de décadas, o Irão forneceu treino militar às SAF e ajudou o Sudão a comprar aviões militares chineses. As SAF utilizaram aviões iranianos durante o prolongado conflito com a parte do país que acabou por se tornar o Sudão do Sul.
Desde Janeiro, as SAF têm utilizado os seus drones fornecidos pelo Irão para retomar o território perdido para as RSF. Isso inclui grandes partes de Omdurman, a segunda cidade mais populosa do Sudão, e parte do complexo de três cidades que inclui Cartum e a cidade industrial de Cartum do Norte. Cartum continua em grande parte sob o controlo das RSF.
Os ataques com drones Mohajer-6 ajudaram as SAF a recuperar terreno noutros locais, expulsando os combatentes das RSF de áreas-chave.
Os observadores dizem que a inundação de armas iranianas no Sudão faz parte do objectivo mais amplo do Irão de estabelecer uma base de apoio em África e no Mar Vermelho — provavelmente à custa do Sudão.
“Ao estabelecer uma presença numa nação tradicionalmente alinhada com a Arábia Saudita, o Irão está a reforçar significativamente a sua influência,” escreveu Kilic. “À medida que o conflito no país persiste, a presença do Irão está preparada para exacerbá-lo ainda mais.”