EQUIPA DA ADF
Os terroristas que assolam o norte da Nigéria estão a armar-se com armas originárias da Líbia, de acordo com as autoridades da defesa nigeriana.
Os traficantes de armas da Nigéria estão a beneficiar da instabilidade em todo o Sahel, sobretudo no Níger, que se tornou um ponto de trânsito fundamental para as armas retiradas dos arsenais líbios. Essas armas deslocaram-se para outros países do Sahel, bem como para a Nigéria, de acordo com o Small Arms Survey.
“Quando falamos de proliferação de armas, em primeiro lugar, temos de olhar para o que aconteceu na Líbia há alguns anos e no Sahel,” o Major-General nigeriano Edward Buba disse numa recente conferência de imprensa. “Isso criou oportunidades para que as armas caíssem nas mãos erradas e entrassem no nosso país, o que agravou o problema da insurgência e do terrorismo com que nos confrontamos no país.”
No final de Outubro, o Centro Nacional de Controlo de Armas Ligeiras e de Pequeno Calibre da Nigéria destruiu 2.400 armas confiscadas a criminosos em todo o país. Johnson Kokumo, o director-geral do centro, disse que a Nigéria não toleraria o tráfico ilegal de armas para o país.
“Estes quadros sublinham a importância de uma documentação transparente e da eliminação responsável das armas recuperadas, garantindo que não voltem a cair nas mãos de elementos criminosos,” Kokumo disse durante a cerimónia de destruição em Abuja.
O volume de armas ilícitas que entram na Nigéria foi descrito como “como arroz no mercado,” sendo grande parte desse tráfico proveniente da Líbia.
“Esta proliferação ilimitada e descontrolada de armas ilegais atingiu um nível epidémico na Nigéria nos últimos tempos, com as consequentes implicações para a segurança nacional,” o analista Dakuku Peterside escreveu para o The Cable. O fluxo de armas contribui para a violência, a criminalidade e a insegurança no país.
O colapso em 2011 do governo líbio do antigo ditador Muammar Gaddafi deixou os enormes arsenais de armas do país em grande parte desprotegidos. As Nações Unidas estimaram, em 2020, que a Líbia tinha cerca de 200.000 toneladas de armas na altura do seu colapso. As guerras civis que se seguiram agravaram ainda mais a segurança dos arsenais da Líbia.
“Essas armas estavam praticamente desprotegidas, destinadas aos mercados do Sahel, no sul,” o Defense News Nigeria escreveu no X. “No auge do seu poder, a campanha do Boko Haram estava a ser alimentada por fornecimentos em grande escala de armas pesadas provenientes do vasto arsenal [de Kadhafi] saqueado.”
Para além dos seus próprios arsenais, a Líbia tornou-se também uma fonte de armas estrangeiras — muitas delas fabricadas na Rússia e levadas para o país por mercenários ligados ao antigo Grupo Wagner, agora conhecido como Africa Corps. A Rússia também utiliza os portos líbios para fornecer armas às juntas militares que governam o Burquina Faso, o Mali e o Níger.
Muitas dessas armas acabam por ir parar às mãos de terroristas no norte da Nigéria, ameaçando tanto civis como soldados. Segundo os peritos, os terroristas também capturaram armas durante os ataques a postos militares.
Em 2020, o Small Arms Survey estimou que a Nigéria tinha 6,2 milhões de armas ligeiras nas mãos de civis, em comparação com cerca de 580.000 nas mãos das forças de segurança. A presença de armas ilícitas cria um ciclo vicioso de instabilidade, uma vez que as comunidades locais se armam para se defenderem de terroristas e criminosos, segundo os especialistas. Isso é especialmente verdade nas comunidades que se sentem ignoradas ou negligenciadas pelas forças de segurança estatais.
“O aumento dos fluxos de armas ilícitas aumentou a disponibilidade de armas de fogo em muitas comunidades,” escreveram os investigadores do Small Arms Survey num estudo. “Os conflitos locais, anteriormente de baixo nível, correm assim o risco de uma escalada violenta à medida que as armas tradicionais — ou, na verdade, os meios pacíficos de resolução de litígios — são substituídos por armas de fogo modernas.”