EQUIPA DA ADF
As pessoas andam livremente entre o Gana e o Burquina Faso, onde as cidades de Paga e Dakola se juntam. Para além das frágeis barreiras metálicas e do portão que atravessa a estrada principal, há pouca indicação de onde termina um país e começa o outro.
A fronteira está aberta ao comércio de várias formas.
Com a violência militante a espalhar-se a sul do Burquina Faso para os Estados costeiros do Golfo da Guiné, as cidades fronteiriças estão a tornar-se um foco de segurança.
Awal Ahmed Kariama é director-executivo da Rural Initiatives for Self-Empowerment [Iniciativas Rurais para o Auto-Empoderamento], uma organização de direitos humanos sem fins lucrativos que opera ao longo da fronteira e trabalha para educar os jovens no sentido de evitar o extremismo violento.
É um dos muitos ganeses na linha da frente, que testemunham o impacto mortal das fronteiras porosas.
“Existe uma rota especial por onde sabemos que as pessoas passam,” disse à Voz da América. “Para além dessa, existem rotas não aprovadas, típicas das cidades fronteiriças. O contrabando é, em geral, a maldição da maioria das cidades fronteiriças.”
As cidades fronteiriças do norte do Gana, como Paga, relatam que as armas que passam através da fronteira do Burquina Faso podem ser utilizadas em ataques militantes.
No Sahel, os grupos extremistas ligados à al-Qaeda e ao grupo do Estado Islâmico mataram milhares de pessoas e fizeram milhões de deslocados. Benin, Costa do Marfim e Togo sofreram ataques de militantes que atravessavam as suas fronteiras do norte.
No Gana, a região norte registou um aumento de ataques de um em 2021 para 19 em 2022, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Evento. O governo não se refere a estes ataques como incidentes terroristas, mas alertou para a ameaça da violência extremista no país.
O analista de segurança, Adib Saani, diz que a passagem fácil através das fronteiras eleva a probabilidade de ataques terroristas.
“Está mais perto do que pensamos,” disse numa entrevista à Wontumi TV. “O que me preocupa especialmente é o movimento de refugiados para este país. Os militantes podem se disfarçar de refugiados e entrar no país.”
Milhares de burquinabês atravessam a fronteira do Gana em busca de refúgio contra a violência. Elisha Abilla Afuugu, membro da assembleia na cidade fronteiriça de Widenaba, descreveu o impacto das pessoas deslocadas.
“Embora houvesse medo e pânico entre a população local quando as suas comunidades foram invadidas pelos refugiados, há uma relativa calma entre a população,” disse ao jornal estatal ganês, The Daily Graphic. “Continuam a desenvolver as suas actividades sociais e económicas diárias.”
O Sahel está inundado de armas provenientes da Líbia e de outras fontes de todo o mundo, mas grupos extremistas violentos também têm direccionado mais ataques a instalações militares no Sahel, para adquirirem armas.
O tráfico de armas ilegais está a prosperar, principalmente no Burquina Faso e no Mali.
Saani conta com o governo ganês para fazer melhor uso das pessoas que vivem nas zonas fronteiriças e nas suas redondezas.
“Se pensa que pode fazê-lo sozinho como governo, não, não vai funcionar,” aconselhou. “Espero que o governo se reúna com a sociedade civil, especificamente sobre o programa ‘se viu alguma coisa, denuncie.’”
O coronel Richard Mensah, do exército ganês, disse que os militares estão a fazer isso e muito mais, apoiando-se na Iniciativa Regional de Acra para colaborar com os países vizinhos.
“Cooperamos bastante,” disse ele à Voz da América. “Há sempre troca de informações, partilha de inteligência ao longo das fronteiras, não só entre os militares, mas entre as alfândegas, entre a migração, entre a polícia.”
Acabado de receber o Exercício Flintlock, um evento anual de treino militar multinacional em Março, Mensah elogiou o programa pelas suas aplicações no mundo real.
“Os cenários que são escolhidos para o Flintlock replicam o que aconteceu em vários países, o modus operandi dos terroristas,” disse.