EQUIPA DA ADF
Paralisado numa situação de espera desde a retirada do Mali, em 2022, o G5 do Sahel reuniu os ministros dos negócios estrangeiros dos seus quatro países-membros remanescentes, na capital chadiana de N’Djamena, no dia 18 de Janeiro, para debater sobre como fortalecer e sustentar a força conjunta de combate ao terrorismo.
Depois da cimeira, o grupo composto por Burquina Faso, Chade, Mauritânia e Nigéria indicou que possui um “desejo ardente de que a república irmã do Mali volte a juntar-se à sua família natural, que é o G5 do Sahel.”
Os especialistas em matéria de segurança afirmam que o G5 do Sahel deve também olhar para a Argélia.
“Mesmo com o Mali, o G5 do Sahel não pode, de forma válida, lidar contra o terrorismo sem a Argélia,” o analista independente baseado no Níger, Abdoul Mooumouni Abass, disse à Deutsche Welle.
“[Argélia] é um outro peso significativo que deve ser integrado hoje para a dinâmica da luta contra o terrorismo no Sahel.”
A cientista política, Kamissa Camara, elogiou os potenciais benefícios do envolvimento dos argelinos no Sahel. Ela acredita que o país oferece conhecimentos valiosos e lições aprendidas do combate contra organizações terroristas.
Durante a sua guerra civil, que durou 10 anos, tendo terminado em 2002, a Argélia derrotou grupos islamitas militantes, incluindo um que mais tarde reapareceu no Mali como al-Qaeda no Magrebe Islâmico.
Camara, que foi Chefe de Estado-Maior no mandato do antigo Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keïta, é especialista em políticas da África Subsaariana, que fundou o Sahel Strategy Forum.
“A influência diplomática regional da Argélia, a sua força militar e a experiência na luta contra o terrorismo podem ajudar os Estados sahelianos a repelir um eminente colapso político e de segurança,” escreveu ela para o Instituto do Oriente Médio, em Dezembro de 2022.
Com as suas regiões fronteiriças porosas e pouco habitadas, o Sahel iria beneficiar-se do envolvimento de todos os seus países vizinhos para combater de forma eficaz a expansão agressiva de grupos terroristas.
Argélia partilha fronteiras, que alcançam aproximadamente 3.000 quilómetros, com Mali, Mauritânia e Níger.
Camara acredita que uma colaboração entre a Argélia e os países do Sahel seria mutuamente benéfica, uma vez que a segurança da Argélia está ligada a do Sahel — politica, demografica e geograficamente.
“A fronteira sul da Argélia encontra-se em risco,” escreveu. “O país deve agir imediatamente.”
Em qualquer interacção de segurança com os países do Sahel, a Argélia vem com registo e reputação de um líder regional na resolução de conflitos.
Facilitou negociações que levaram ao Acordo de Paz de Argel, de 2015, entre o Mali e grupos rebeldes dissidentes que se tinham tornado violentos nos três anos precedentes.
Criou um intercâmbio de dados de inteligência chamado UFL, em que Argélia, Burquina Faso, Chade, Líbia, Mali, Mauritânia, Níger e Nigéria partilham informação.
O embaixador argelino no Burquina Faso, Mohamed Ainseur, disse que o UFL garante uma “análise independente de inteligência de segurança no Sahel.”
O maior vizinho do Sahel no norte também foi bem-sucedido em combater a ideologia extremista nas suas mesquitas, escolas e imprensa. Mais recentemente, a Argélia exportou o seu conhecimento do processo de desradicalização para o Sahel.
Criou a Liga de Ulemás, Pregadores e Imames do Sahel (LOPIS), que é descrita na região como um tipo de universidade viajante que apoia a formação de imames e pregadores e procura acalmar o discurso ideológico.
“A rejeição do outro é a causa dos problemas muito grandes na história de Umma [comunidade religiosa],” o representante da LOPIS, na Argélia, Dr. Lakhmissi Bezzaz, disse durante um workshop.
“O diálogo irá produzir resultados tangíveis, que irão contribuir para o estabelecimento da paz e da estabilidade nos nossos países.”
Em vez de convencer a Argélia a juntar-se ao G5 do Sahel, uma outra possibilidade seria ver o G5 ser substituída por uma coligação existente no centro conjunto de operações militares, liderado pela Argélia, chamado CEMOC, que também inclui a Mauritânia, o Mali e o Níger.
Prevendo o CEMOC como uma forma de consolidar as preocupações do Sahel e dos países do Magrebe, Camara argumentou que isso “pode gerar o tipo de resposta global mais ampla que os Estados sahelianos esperam.”
“A vantagem única do CEMOC sempre foi a cooperação de segurança institucionalizada entre a Argélia e o Sahel,” escreveu.
“Esta cooperação de segurança integrada agora tem de ser uma realidade.”