EQUIPA DA ADF
Após dois anos de silêncio, o Egipto e a Etiópia reiniciaram recentemente as conversações sobre a gestão e os potenciais impactos a jusante da Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD), que atravessa o Nilo Azul, o principal afluente do Nilo.
Desde que foi anunciado, o GERD, avaliado em 4,2 bilhões de dólares, tem provocado divisões. O Egipto vê a barragem como uma ameaça à existência do país, que obtém 97% da sua água do Nilo. A Etiópia considera o megaprojecto e a electricidade por ele gerada vitais para o seu futuro económico.
O Sudão é a terceira parte nas conversações, mas manifestou algum apoio ao projecto, porque a barragem promete controlar as inundações que ameaçam Cartum, que se situa na zona de confluência do Nilo Azul e do Nilo Branco.
O Nilo Azul fornece 85% do volume do Rio Nilo. O Egipto vê a barragem como uma arma potencial — se os países do Nilo entrassem em conflito, a Etiópia poderia restringir o caudal do rio como instrumento de guerra, segundo Alex de Waal, director-executivo da World Peace Foundation.
O Egipto e o Sudão, que têm as suas próprias barragens no Nilo, querem que a Etiópia adira a um acordo vinculativo para operar a barragem de forma a não reduzir o caudal do Nilo a jusante de uma forma que prejudique a agricultura do país.
A Etiópia tem resistido a qualquer quadro juridicamente vinculativo.
A primeira ronda de conversações, realizada no final de Agosto, terminou ao fim de dois dias. O Ministério de Recursos Hídricos e Irrigação do Egipto informou que as conversações foram interrompidas, porque a posição da Etiópia não se alterou significativamente.
“A ronda de negociações que terminou no Cairo não testemunhou uma mudança tangível nas posições da Etiópia,” afirmou o governo egípcio num comunicado na altura. “O Egipto continuará a envidar esforços para alcançar, o mais rapidamente possível, um acordo juridicamente vinculativo… que salvaguarde os interesses egípcios e a segurança da água, beneficiando simultaneamente os três países.”
A Etiópia defende que recomendações, e não um acordo vinculativo, devem ser suficientes para proteger os interesses dos seus vizinhos a jusante. Insiste que a estratégia de funcionamento do GERD é uma questão de soberania nacional.
Em Abril, o Gabinete de Coordenação Nacional da Etiópia anunciou que a construção estava 90% concluída.
Os defensores das barragens afirmam que, uma vez que a água flui através da barragem para produzir electricidade, não representa qualquer risco para os países a jusante. A longo prazo, o projecto poderá reforçar os laços entre os países que dependem do Nilo, segundo alguns investigadores.
Os investigadores da Universidade de Manchester, no Reino Unido, afirmam que a natureza do projecto GERD exige um compromisso de todos os envolvidos. Sugerem que a barragem pode garantir electricidade à Etiópia, controlo de cheias ao Sudão e protecção contra a seca ao Egipto — mas apenas se os países trabalharem em conjunto.
“O nosso objectivo é mostrar que qualquer passo no sentido da cooperação adaptativa resulta em benefícios,” escreveram os investigadores no início deste ano na revista Nature.
Entre esses potenciais benefícios: Os investigadores afirmam que o Egipto poderá recorrer às enormes reservas de água da barragem durante as secas, uma vez que a alteração dos padrões climáticos altera os padrões regionais de precipitação.
Os negociadores esperam resolver o seu diferendo até ao final deste ano. Apesar do fim abrupto das conversações em Agosto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Etiópia considerou favorável o regresso às negociações.
“As partes trocaram pontos de vista para chegar a uma situação vantajosa para ambas as partes,” declarou o ministério num comunicado.
A próxima ronda de conversações está agendada para este mês em Adis Abeba.