EQUIPA DA ADF
Corpos encontram-se espalhados por El Geneina, a capital do Darfur Ocidental, no Sudão.
Segundo informações da Ordem dos Advogados de Darfur, os mortos jazem nas suas casas, em edifícios públicos e nas ruas — onde os corpos são, por vezes, empilhados em barricadas improvisadas. Todos são vítimas dos combatentes das Forças de Apoio Rápido (RSF).
O governador do Darfur Ocidental, Khamees Abakar, foi capturado e executado. O general das RSF, Abdelrahman Juma, um dos sequestradores de Abakar, controla agora a região.
O grupo étnico Masalit da região informou recentemente que a carnificina no Darfur Ocidental causou a morte de 5.000 pessoas e mais de 8.000 feridos, naquilo que o Sultanato de Dar Masalit descreveu como “limpeza étnica” e “genocídio.”
“Famílias inteiras foram exterminadas e enterradas em valas comuns ao longo do caminho,” Mojeebelrahman Yagoub, comissário-adjunto para os refugiados no Darfur Ocidental, disse à Rádio Dabanga.
No Darfur do Norte, pelo menos 40 pessoas foram mortas ou feridas quando as RSF atacaram a comunidade de Kuttum. Entre os mortos encontrava-se uma mulher de 65 anos que morreu quando os combatentes das RSF incendiaram a sua casa.
Quando as RSF estendem a sua luta contra as Forças Armadas do Sudão (SAF) das ruas de Cartum para a região de Darfur, a violência recorda os ataques genocidas perpetrados contra os habitantes de Darfur há 20 anos pela milícia Janjaweed, os precursores das RSF.
Actualmente, tal como na altura, o general Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como Hemedti, lidera o ataque às comunidades não árabes em todo o Darfur, onde as RSF têm o seu próprio quartel-general. No entanto, ao contrário do que acontecia há 20 anos, Hemedti conta actualmente com o apoio dos mercenários russos do Grupo Wagner, que treinaram os combatentes das RSF e lhes fornecem armas a partir de bases na Líbia.
Hemedti e o Grupo Wagner desenvolveram uma ligação estreita nos últimos anos, baseada, em parte, no facto de partilharem o negócio de extracção e contrabando do ouro sudanês para fora do país. A parte de Hemedti na operação tornou-o um dos homens mais ricos do Sudão. As receitas do contrabando de ouro do Grupo Wagner financiam a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Desde 15 de Abril, Hemedti tem estado preso numa batalha pela supremacia com o general Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF e líder de facto do Sudão após o golpe de 2021 que interrompeu a transição para o governo civil.
Embora as RSF e as SAF estejam praticamente em pé de igualdade em termos de efectivos, as SAF beneficiam de armas pesadas e de poder aéreo, que têm utilizado para atacar as posições das RSF em Cartum e nos seus subúrbios. A partir da sua base na Líbia, o Grupo Wagner enviou carregamentos de mísseis antiaéreos e outras armas concebidas para ajudar as RSF a equilibrar as probabilidades.
Os civis do Sudão são apanhados no fogo cruzado das partes em conflito.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, cerca de 2 milhões de sudaneses foram deslocados internamente e quase 600.000 fugiram para países vizinhos, tendo a maioria procurado segurança no Chade.
A capital do Darfur do Sul, Nyala, que se tornou um refúgio para as pessoas que fugiram da milícia Janjaweed há duas décadas, está a sentir o peso dos ataques das RSF.
“Hoje saí de Nyala por causa da guerra,” Saleh Haroun, um residente da cidade, de 38 anos de idade, disse recentemente à Reuters. “Ontem houve bombardeamentos nas ruas e as balas entraram nas casas.”