EQUIPA DA ADF
Sam Masikini conhece os desafios de tentar aprender numa sala de aulas rural superlotada.
Por isso, quando o estudante de tecnologias de informação, de 23 anos de idade, do Malawi, ouviu sobre um concurso do UNICEF de inventar um aplicativo para telemóvel, ele buscou da sua própria experiência.
“Eu sei como é a experiência de estudar numa escola de uma aldeia rural,” disse Masikini à ADF. “É possível ter cinco aldeias a estudarem na mesma escola. Um único professor ensina 70 alunos. Eu sabia o que tinha de ser feito.”
Em Junho, Masikini inscreveu-se no Malawi COVID-19 Youth Challenge, promovido pelo UNICEF, um dos quatro concursos patrocinados por aquela organização, visando a resolução de problemas da região. Ele criou o aplicativo para telemóvel que acredita que pode ajudar a vencer os desafios de ensinar as crianças das zonas rurais que, por causa da COVID-19, podem não ter acesso às aulas presenciais.
“Eu sabia que havia de ser necessário muito tempo para se encontrar a solução para a pandemia e eu sabia que muitas [crianças] haviam de ter problemas se nós não encontrássemos alternativas para o ensino.”
No dia 14 de Setembro, o UNICEF, no Malawi, anunciou que Masikini ficou em primeiro lugar dentre 1.717 participantes. Nas últimas semanas, ele tem estado a trabalhar com especialistas e mentores em centros de incubação. Eles desenvolveram o aplicativo e esperam testá-lo com os alunos e com os professores em breve.
O projecto vencedor de Masikini chama-se Inspire, que facilita o e-learning em lugares com acesso limitado à internet e com poucos recursos, tais como smartphones e computadores. Combina o conteúdo do Ministério da Educação do Malawi numa plataforma de aprendizagem offline acessível através de telemóveis básicos.
Masikini cresceu em Mwangolera, uma aldeia à beira da estrada, no distrito nortenho de Karonga, próximo do Lago Malawi.
“Nós tínhamos casas de palha e muita terra verde com árvores,” disse, recordando-se dos seus dias de escola primária antes de a sua família mudar-se para a capital de Malawi, Lilongwe. “Eu nunca gostei muito de estudar. Eu faltava às aulas para passear nos mercados e brincar com outros meninos no vale.
“Eles não esperam muito das aldeias, especialmente no meu país.”
Ele recorda as dificuldades, como podia facilmente tornar-se mais um caso de abandono escolar. É o que lhe deu a ideia de participar no concurso do UNICEF.
“O ensino estava em crise antes da COVID,” disse. “Apenas cerca de 35% dos alunos concluem o ensino primário, e apenas 8% concluem o secundário. O número de casos de abandono escolar está a crescer a cada dia.”
Em Agosto, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura estimou que apenas um terço dos alunos a nível global irá regressar às salas de aulas, à medida que centenas de milhares enfrentam o encerramento das escolas e incertezas.
“No Malawi, o coronavírus mudou a forma como vivemos assim como afectou o nosso sistema de ensino,” Pilirani Kamaliza, coordenador de projectos, na União dos Professores do Malawi, disse ao sítio da internet de justiça social, EqualTimes.org. “Desde que as escolas encerraram em Março, os números de crianças que foram obrigadas a entrar em casamentos assim como no mundo de trabalho aumentou de forma constante.”
O UNICEF espera poder ajudar a dar aos jovens inovadores as ferramentas para poderem lidar com os desafios das comunidades.
“Estamos comprometidos em ajudar os jovens a tornarem-se co-criadores e a desenvolverem as suas próprias soluções inovadoras para os desafios das suas vidas,” representante do UNICEF, no Malawi, Rudolf Schwenk, disse em comunicado de imprensa. “Desenvolvendo estas habilidades através da resolução de problemas, os jovens podem ser os agentes da mudança nas comunidades e no país.”
Masikini irá graduar numa cerimónia virtual em Dezembro, pela Universidade do Malawi, a Politécnica. Há uma corrida agora para ver se o lançamento do seu aplicativo ocorre a tempo para que seja uma celebração a dobrar.