EQUIPA DA ADF
O trabalho do somali Khalid Hashi, nascido no Canadá, de melhorar o sistema de prestação de cuidados de saúde, na sua terra natal, começou com uma viagem, em 2017, para visitar a sua avó.
Foi a primeira viagem de Hashi à Somália. A sua avó tinha uma cirurgia do olho já marcada. Enquanto a acompanhava para o hospital, Hashi apercebeu-se de que os médicos estavam a partilhar a sua informação médica verbalmente. Nada estava a ser escrito.
“Quando estava lá, a minha mente estava sempre a correr,” Hashi disse ao canal de radiodifusão canadiano, Canadian Broadcasting Corp. (CBC). “A minha avó não tinha um registo médico e eu sabia que muitos outros também não tinham.”
Quando regressou à sua casa, em Edmonton, Alberta, na parte oeste do Canadá, Hashi deu início ao trabalho de criar uma forma para que o sistema de prestação de cuidados de saúde da Somália documentasse de forma credível e fizesse o rastreio dos pacientes. Até 2018, com a ajuda de investidores e desenvolvedores de aplicativos, ele já tinha criado o OGOW, um registo médico electrónico (EMR, na sigla inglesa), um sistema feito especificamente para as necessidades dos provedores de cuidados de saúde da Somália.
Começou por trabalhar com clínicas ligadas à organização não-governamental World Vision. Desde essa altura, o projecto cresceu para abranger toda a Somália.
O aplicativo, que se encontra disponível online e offline, transformou as operações do Centro de Saúde Materno-Infantil de Waberi, em Mogadíscio.
Antes de adoptar o OGOW EMR, a clínica fazia o rastreio dos seus pacientes e os seus registos de vacinação à mão em livros grandes. O processo era trabalhoso e propenso a erros.
“Uma vez que o processo é manual, podem surgir muitos erros ao registar a informação das crianças,” disse Nasra Saleman, uma enfermeira da clínica. Também se levava muito tempo a procurar por uma determinada criança nos livros durante as suas vindas ao hospital — um processo que os funcionários tinham de repetir para cada um dos seus 700 clientes até cinco vezes até que completassem o seu calendário de vacinação.
A plataforma digital simplificou tudo isso, fazendo a procura e a actualização dos registos quase que de forma instantânea, disse Saleman.
O sistema também permite que os profissionais de saúde enviem lembretes de texto para as mães, avisando que a data da consulta dos seus filhos está próxima — uma ligação potencialmente vital num país onde 8% das crianças morrem antes do seu primeiro aniversário e 12% morrem antes de atingir os 5 anos de idade.
Hashi ganhou uma subvenção de 10.000 dólares da Fundação Bill e Melinda Gates, para ajudar a desenvolver o seu aplicativo. O aplicativo chamou a atenção de uma agência local, chamada Response Innovation Lab, um grupo que busca soluções tecnológicas para problemas humanitários.
OGOW significa “conhecer” em Somali. As raízes de Hashi na Somália fizeram com que o seu aplicativo fosse fácil de adoptar para a população, de acordo com Nishant Das, gestor da Response Innovation Lab, na Somália.
“Uma solução obtida localmente tem melhores probabilidades de ter um impacto positivo e de ser sustentável,” disse Das.
O OGOW EMR foi galardoado com o Prémio de Inovação, na 2020 International Somali Awards. Hashi recebeu um convite para ser o orador na Cimeira de Tecnologia de Mogadício, a primeira cimeira de tecnologia e inovação da Somália. Ele também serviu como mentor e júri do evento designado “COVID-19 Hackathon,” do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Com a chegada da pandemia da COVID-19, Hashi virou as suas atenções para ajudar os somalis a combaterem a doença. Regressou à Somália, no início de 2020, para ajudar o governo a confrontar a falta de informação sobre a doença.
A sua equipa expandiu o OGOW EMR para passar a incluir informação sobre a COVID-19 nas línguas Somali e Árabe. Ele acrescentou um sistema de alerta de texto que pode notificar os subscritores sobre situações de emergência relacionadas com a pandemia e criou vídeos para educar as pessoas sobre os sintomas da COVID-19 e onde podem fazer o teste. Funcionários do sector de saúde passavam de porta em porta em 45 aldeias e mostravam os vídeos nos tablets.
Abdihamid Warsame, um investigador da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, que já fez trabalhos na Somália, disse ao jornal canadiano, Globe and Mail, que o trabalho de Hashi está a fazer a diferença na Somália.
“Existe muita falta de informação sobre a doença, de que ela não existe na Somália e que é uma doença dos estrangeiros,” disse Warsame. “As pessoas não tomam as precauções que devem tomar. E penso que o trabalho de Khalid está a fazer muito para tentar vencer este desafio.”