EQUIPA DA ADF
Com os extremistas a semearem caos à sua volta, o Gana continua a ser uma ilha de calma. No entanto, os observadores dizem que as condições nas regiões do norte do país podem pôr em risco essa estabilidade.
Em Bawku e noutras comunidades do norte do Gana, as armas e o contrabando atravessam livremente a fronteira porosa com o Burquina Faso, onde os terroristas controlam quase metade do país. Por exemplo, dinamite fabricada no Gana apareceu em campos de militantes no Burquina Faso.
“O Gana não é um foco de recrutamento, mas tem havido alguns casos notáveis,” os investigadores Eliasu Tanko e James Courtright escreveram recentemente na revista Foreign Policy. Em 2021, por exemplo, os extremistas recrutaram um ganês para se tornar um bombista suicida no Mali.
Os laços étnicos do outro lado da fronteira alimentam o contrabando de recursos e os apelos à violência contra o governo do Gana em resposta às deportações de Fulanis para o Burquina Faso.
Até agora, os apelos à violência têm encontrado poucos adeptos.
“Apesar de um punhado de mensagens que tentam incitar ataques contra o governo ganês, dos quatro Estados costeiros que fazem fronteira com o Burquina Faso, o Gana é o único que afirma não ter sofrido qualquer ataque de insurgentes,” escreveram Tanko e Courtright.
Nos últimos anos, o Gana lançou a sua campanha “Se Something, Say Something (Se vir algo, denuncie)” para encorajar os residentes a comunicar actividades suspeitas. Também reforçou as forças de segurança no norte para impedir a violência proveniente do exterior das suas fronteiras. O governo aprovou a construção ou a modernização de 15 bases operacionais avançadas no norte e enviou três novas brigadas e dois batalhões para a região.
Contudo, os especialistas advertem que, ao se concentrar nas ameaças externas, o Gana pode estar a ignorar outra fonte de violência potencial: os conflitos dentro das comunidades fronteiriças que as tornam alvos de recrutadores terroristas.
As comunidades do norte do Gana têm menos recursos do que as comunidades mais próximas da capital, Acra. Os desafios socioeconómicos e as poucas oportunidades de emprego tornam os jovens das comunidades fronteiriças abertos aos extremistas.
Em Bawku, os conflitos políticos entre as tribos também são uma porta de entrada para os extremistas violentos que pretendem tirar partido dessas tensões.
“A situação de segurança em Bawku não só proporciona um ambiente propício à infiltração de extremistas violentos e à radicalização da comunidade local, como também representa uma séria ameaça devido ao afluxo de combatentes burquinabês da província de Boulgou,” o analista Gideon Ofosu-Peasah escreveu recentemente no The Conversation.
A ameaça potencial dos extremistas no norte do Gana é acentuada pelo facto de já viverem entre as comunidades locais ou de atravessarem a fronteira para se reagruparem e recuperarem de ataques noutros locais.
“Nesta altura, parece que os insurgentes consideram o seu acesso ao país como um porto seguro e uma rota de contrabando demasiado útil para desestabilizar com ataques directos,” escreveram Tanko e Courtright.
Os líderes ganeses afirmam que a estabilidade política e a economia forte do país ajudam a manter o extremismo à distância. O produto interno bruto do Gana é quase o triplo do do Burquina Faso, de acordo com o Banco Mundial.
Mas a paz relativa pode esconder ameaças ocultas.
Os extremistas que operam discretamente no norte do Gana fazem questão de não incomodar os residentes para evitar criar má vontade. Também se apercebem que têm mais a ganhar se mantiverem o Gana calmo e tranquilo.
“Se os insurgentes atacarem o Gana, será muito mais difícil para eles usarem o Gana como porto seguro,” Clement Aapengnuo, um activista da paz e da segurança, disse a Tanko e Courtright. “Nesta altura, o Gana é mais útil sendo estável.”