EQUIPA DA ADF
Um estudo sobre o impacto da COVID-19 na África do Sul sugere que aproximadamente 4 em cada 5 pessoas do país podem já ter contraído a doença, quer saibam ou não.
O relatório da empresa de seguros, Discovery Health, da África do Sul, chegou a essa conclusão, analisando a taxa de mortalidade da COVID e as estimativas diárias de mortes em excesso na África do Sul.
“Analisando estes números, chegamos à conclusão de que se trata de 42 a 48 milhões de sul-africanos,” actuária-chefe da Discovery Health, Emile Stipp, disse à Bloomberg. A população da África do Sul é de cerca de 60 milhões.
As mortes em excesso são o número de mortes acima da norma histórica. Em termos de COVID-19, as mortes em excesso representam as mortes causadas pelo vírus e as mortes causadas indirectamente — pelos atrasos devidos à superlotação dos hospitais, por exemplo.
Dos mais de 100 países representados na World Mortality Dataset, a taxa de mortes em excesso da África do Sul situa-se entre as mais elevadas.
O Conselho de Pesquisas Médicas da África do Sul (SAMRC, na sigla inglesa) faz o rastreio das mortes pela COVID-19 no país. A contagem do grupo inicia em Maio de 2020, quando o primeiro caso da pandemia foi registado na África do Sul.
O conselho estima que, desde então, a África do Sul registou mais de 244.800 mortes acima do normal. Assim como em outros países, a contagem das mortes em excesso é muito mais elevada do que as estimativas de mortes directamente relacionadas com a COVID-19. De acordo com o SAMRC e a Universidade da Cidade do Cabo, a COVID-19 representa 85% a 90% das mortes em excesso na África do Sul.
Stipp baseou a sua análise em 90% das mortes em excesso causadas pela COVID-19. Mais tarde, o estudo aplicou a taxa de mortalidade internacional para a COVID-19 àquele número.
A estimativa é uma variedade, disse Stipp à BizTech, da África do Sul, porque “não podemos ter a certeza sobre toda a gente, porque nem todos foram testados.”
A África do Sul está a experimentar a sua terceira vaga de infecções pela COVID-19, a qual está a ser impulsionada pela variante Delta. Esta vaga, que atingiu de forma mais forte as províncias de Gauteng e do Noroeste, atingiu o pico em Julho e continua a reduzir.
Durante o pico da segunda vaga de infecções na África do Sul, em Janeiro, por exemplo, o conselho registou mais de 16.000 mortes em excesso no dia 10 de Janeiro. Isso era quatro vezes o número da contagem de mortes pela COVID-19 no mesmo dia.
Apesar de a maior parte da população da África do Sul estar exposta à COVID-19, 20% a 30% de pessoas do país que continuam não expostas representam uma ampla oportunidade para que o vírus se torne uma preocupação crónica de saúde, disse Stipp.
“A imunidade comunitária é algo que devemos todos esquecer agora,” disse. “Não irá acontecer. A COVID está a tornar-se endémica.”
O mais provável é que o vírus continue a propagar-se pela população, apresentando mutações e criando novas variantes enquanto passa. A probabilidade de uma pessoa que dependa da imunidade natural para a protecção é de 25% de desenvolver um caso de COVID-19 que coloca a vida em perigo, disse Stipp.
Um estudo recente da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, concluiu que a variante Delta tem duas vezes mais probabilidade de enviar alguém para o hospital do que a variante Alfa.
Por causa das variantes, a África do Sul teve um menor número de pessoas que tiveram COVID duas vezes. Alguns já tiveram inclusive três vezes devido ao aparecimento de estirpes diferentes.