EQUIPA DA ADF
O crescente número de ataques no norte de Togo teve como alvo civis e militares — um outro sinal de que os grupos terroristas do Sahel estão a expandir-se progressivamente e a ameaçar a costa da África Ocidental.
O Togo declarou um “estado de emergência de segurança” na região das Savanas da sua fronteira norte, no dia 13 de Junho de 2022, em resposta ao primeiro ataque terrorista mortal na história daquele país, no início de Maio.
“Este [estado de emergência] irá melhorar a rapidez da tomada de decisões e facilitar a maior agilidade para os serviços públicos e as forças de defesa e segurança,” disse o governo num comunicado.
O Ministro das Comunicações, Akodah Ayewouadan, disse que o estado de emergência irá durar três meses e poderá ser prorrogado. Acrescentou que foi concedida uma autoridade ampla para o exército de modo a combater os grupos armados e proteger os civis.
“O estado de emergência irá permitir que a administração, a defesa e as forças de segurança tenham um pouco mais de flexibilidade nas suas actividades, para levarem a cabo verificações de identidade com um pouco mais de frequência, para levarem a cabo verificações em casas e para proibirem certas actividades,” explicou. “Como sabemos, o estado de emergência de segurança irá levar a um enfraquecimento das liberdades individuais e colectivas.”
Jama’at Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), um grupo insurgente do Mali, ligado à Al-Qaeda, reivindicou o primeiro ataque de Maio.
O JNIM continua a pressionar a partir da fronteira porosa do Burquina Faso em direcção a Benin, Costa do Marfim, Gana e Togo.
Seguiram-se mais incursões, e as pessoas estão a fugir para as cidades vizinhas.
“As pessoas estão a sair das suas aldeias em massa,” Arzoume Sambiani, edil de uma parte do distrito de Kpendjal, referiu num comunicado, no dia 18 de Julho.
Sambiani disse que os civis deviam evitar viajar à noite, mas apelou que a população regressasse às suas aldeias e continuasse as suas actividades normais.
Na noite do dia 14 de Julho, combatentes do JNIM mataram pelo menos 14 pessoas em ataques contra duas aldeias togolesas da autarquia de Kpendjal, uma região próxima da fronteira com o Burquina Faso.
Ayewouadan confirmou o ataque contra uma estação de rádio local.
“Actualmente estão a decorrer algumas operações de limpeza,” disse, “e tememos que haja vítimas.”
O medo aumenta na maior cidade da região, Dapaong, que também está a registar um influxo de deslocados que fogem da violência no Burquina Faso.
Operações militares nos arredores da região de Dapaong estiveram em curso desde meados de Maio e aumentaram desde que foi declarado o estado de emergência.
Os residentes afirmam que o exército realiza patrulhas todas as noites.
“A chegada do exército foi percebida por volta de meados de Maio, pouco depois do ataque dos jihadistas no norte,” Emmanuel Batie, um gestor de supermercado e restaurante em Dapaong, disse ao site da ÁfricaNews. “Eles chegaram, e desde essa altura nos apercebemos da presença do exército em todos os lugares da cidade. É possível vê-los em toda a parte.”
As células terroristas do Sahel estiveram a movimentar-se em direcção ao Golfo da Guiné durante anos, de acordo com William Assanvo, um investigador do Instituto de Estudos de Segurança (ISS), que se encontra na Costa do Marfim.
“Todos os países costeiros estão expostos a esta ameaça, pelo menos os países que fazem fronteira com o Burquina Faso e com o Mali,” disse à Radio France Internationale.
Em Dapaong, o motorista de moto-táxi, Kanfitine Naniga, disse que a violência está a ter um impacto profundo sobre o comércio local.
“Estamos com muito medo desta situação,” disse à AfricaNews. “Vemos clientes, temos medo de os levar, porque nesse momento não sabemos quem é quem.
“Antes, quando havia segurança, podíamos sair, podíamos trabalhar e fazer pelo menos 5.000 a 6.000 [Francos CFA]. Mas hoje, com a insegurança, não está muito bem. É difícil trazer para casa 1.000 Francos.”
Togo faz parte da iniciativa de Acra, uma aliança militar de países costeiros que têm realizado operações conjuntas para impedir que o terrorismo saia do Sahel e da Nigéria para os países costeiros da África Ocidental e para lidar com o crime organizado nas regiões fronteiriças.
Com os terroristas a fazerem uma pressão concertada em direcção ao sul, o Togo também criou o Comité Interministerial Para a Prevenção e Luta Contra o Extremismo Violento (CIPLEV).
De acordo com o CIPLEV, o grupo centra-se em jovens desempregados e insatisfeitos que, muitas vezes, são alvo de recrutamento por parte de insurgentes. O CIPLEV interage com jovens e envia informação, reclamações e pedidos para um comité de ministérios do governo, para análise.
Jeannine Ella Abatan, uma investigadora do Sahel que trabalha com o ISS, disse que receia que os ataques sejam o começo.
“Isso já demonstra a capacidade dos grupos extremistas violentos de realmente realizar ataques naqueles países,” disse à Voz da América. “[Não apenas] para instrumentalizar a porosidade das fronteiras, mas [também] para ir para esses países e colocar dispositivos explosivos.”