EQUIPA DA ADF
No dia 26 de Maio, os oficiais militares sudaneses informaram que tinham interceptado um conjunto de armas que estavam a ser contrabandeadas de um país estrangeiro não especificado, através da região do Mar Vermelho, para os rebeldes na parte oriental do país.
A alegação foi o mais recente episódio de armas trazidas para o Sudão para alimentar a batalha em curso entre o líder de facto do país, o General Abdel Fattah al-Burhan, e o seu antigo adjunto conhecido como Hemedti. Os dois homens lutam pelo controlo do Sudão desde 15 de Abril.
Tanto al-Burhan, líder das Forças Armadas do Sudão (SAF), como Hemedti, chefe das Forças de Apoio Rápido (RSF), baseadas em Darfur, passaram as semanas desde que os combates rebentaram em Cartum a invadir as bases um do outro em busca de armas e a pedir apoio a fontes externas.
Quando os combates começaram, as SAF tinham acesso a todo o armamento militar, incluindo aviões de combate, tanques e armas pesadas. As RSF estavam mais levemente armadas, mas também mais móveis quando se tratava de capturar peças-chave de infra-estruturas como aeroportos.
Antes do início dos combates, as RSF e as SAF também partilhavam alguns armazéns de armas.
“Quando o conflito eclodiu, os combatentes das RSF neutralizaram os seus homólogos das SAF e começaram a transportar as armas e munições para fora, para os veículos das RSF ou para locais ‘seguros’ noutras partes,” Khristopher Carlson, investigador sénior do Small Arms Survey, disse à ADF por e-mail. A investigação de Carlson centra-se no impacto das armas no Sudão e no Sudão do Sul.
Para além dos esconderijos de armas, as RSF também tomaram o controlo de algumas das fábricas militares que as produzem.
“Naturalmente, a questão que se coloca na sequência da tomada destas instalações pelas RSF — bem como da tomada de caças, helicópteros, tanques e outro equipamento pesado das SAF — é a de saber se as RSF podem explorá-las ou mantê-las,” disse Carlson à ADF.
As RSF eliminaram a superioridade aérea das SAF, utilizando mísseis terra-ar conhecidos como MANPADS (Man-Portable Air Defense Systems) para abater aviões de combate. A origem exacta dos MANPADS continua a ser uma incógnita: alguns provêm provavelmente das existências das SAF, mas também há a possibilidade de terem origem no exterior, segundo Carlson.
A CNN e o site All Eyes on Wagner seguiram recentemente os voos da base do grupo mercenário russo, Grupo Wagner, na Líbia, para entregar armas a uma base das RSF no noroeste do Sudão. Esta entrega terá incluído mísseis terra-ar. As forças das SAF invadiram a base alguns dias depois. As SAF também tomaram o controlo do aeroporto de Merowe, controlado pelas RSF.
Hemedti tem uma relação bem estabelecida com o Grupo Wagner, graças ao seu interesse mútuo na extracção e contrabando de ouro do Sudão.
O Grupo Wagner também opera na República Centro-Africana, que faz fronteira com o Sudão a sudoeste. As RSF controlam o posto fronteiriço de Um Dafuq, no Darfur do Sul, e, segundo os rebeldes da RCA, colaboram com o Grupo Wagner para receber armas através do posto de controlo.
Enquanto Hemedti beneficia das suas ligações com o Grupo Wagner, al-Burhan mantém os laços do Sudão com o Egipto e o Chade. Ambos os países estão a acolher um grande número de refugiados, mantendo-se afastados dos combates.
Um embargo de armas das Nações Unidas contra o Sudão é improvável, de acordo com Carlson. O próximo presidente do Conselho de Segurança é dos Emirados Árabes Unidos, um aliado de Hemedti.
Com os dois lados cada vez mais equiparados em termos de armas e de efectivos, al-Burhan tem vindo a construir alianças políticas como forma de isolar Hemedti e cercar as RSF.
Al-Burhan está a trabalhar para ganhar o apoio de outros grupos armados dentro do Sudão contra as RSF, incluindo potenciais aliados no Sudão Oriental e outros com animosidade de longa data contra as RSF, disse Carlson à ADF.
Al-Burhan desenvolveu alianças com inimigos de longa data de Hemedti em Darfur, uma região onde pessoas, bens e armas atravessam facilmente a fronteira com o Chade. O Darfur tornou-se uma segunda frente depois de Cartum, com combates nas capitais do Darfur do Norte e do Darfur do Sul.
No dia 20 de Maio, al-Burhan substituiu Hemedti como seu adjunto no Conselho de Soberania Transitório do Sudão pelo líder da milícia, Malik Agar, chefe da facção norte do Movimento Popular de Libertação do Sudão.
Al-Burhan também apelou recentemente aos antigos oficiais, suboficiais e reformados do Sudão para que se alistem novamente e regressem ao serviço na luta contra as RSF, se estiverem aptos para o fazer. Os peritos estimam que o Sudão tem cerca de 85.000 reservistas para complementar os 120.000 membros das suas forças armadas. As RSF, em comparação, possuem cerca de 100.000 membros.
Espera-se que muitos reservistas das SAF levem as suas próprias armas para o combate. O Small Arms Survey calcula que o Sudão, com uma população de cerca de 45 milhões de habitantes, tem quase 3 milhões de armas nas mãos de civis, ou seja, 6,6 armas por cada 100 pessoas. Isso faz do Sudão uma das sociedades mais fortemente armadas de África.
As RSF denunciaram a convocação como “uma receita potencial para o desastre.”